Acostumado a ser acusado de ter tido uma mãozinha do Kremlin na campanha de 2016, o presidente Donald Trump entregou uma prova incontestável da presença russa na sua tentativa de ficar na cadeira em novembro.
Não é exatamente um escândalo, contudo. A campanha de Trump montou uma peça de propaganda digital que pedia ao eleitor: "Apoie nossas tropas", com uma foto dramática de soldados e três caças no contraluz.
A associação presumida era a de que votar em Trump seria bom para os militares americanos. No caso, russos: a foto utilizada pelos marqueteiros era de caças "made in Russia" sobrevoando soldados do país de Vladimir Putin.
O erro é clássico: algum membro do time de marketing procurou uma foto de militares no banco de imagens Shutterstock, sempre acessado por agências de publicidade atrás de composições que combinem com o slogan planejado.
O problema é o simbolismo da coisa. Os aviões eram três MiG-29, um dos aparelhos mais famosos da Força Aérea Russa. Desenvolvido pelos soviéticos no fim dos anos 1970, equipou o bloco comunista e foi um dos símbolos da corrida armamentista que explodiu nos anos 1980.
Desde o fim da Guerra Fria, em 1991, foi preterido pelo Kremlin pelos modelos mais avançados da Sukhoi.
Ainda assim, há 144 MiG-29 em operação na Rússia. E o avião tem versões bastante modernizadas com uma carreira bem-sucedida como produto de exportação, que tem na Índia uma grande cliente. Na América do Sul, o Peru opera 19 modelos antigos do avião.
Além disso, os soldados carregam armas de assalto russas, baseadas no legendário AK-47 Kalachnikov.
A história foi revelada pelo site americano Politico, que encontrou o criador da imagem, Arthur Zakirov, 34. "Hoje você ouve falar sobre as mãos do Kremlin na política americana. Amanhã você é essa mão", ironizou ele.
Ele mora em Perm, cidade perto dos montes Urais, e trabalha para uma empresa de extração de petróleo. Zakirov afirmou que usou militares russos, o céu do seu país, montanhas gregas e solo francês para compor sua foto.
A campanha de Trump não comentou a gafe, veiculada como campanha para arrecadar fundos para a eleição de 8 a 12 de setembro pelo Comitê Nacional Republicano. Nas redes sociais, começaram a pulular piadinhas sobre os russos vindo ajudar o republicano, que enfrenta dificuldades em sua disputa contra o democrata Joe Biden.
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