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Charlie Hebdo republica caricaturas de Maomé na véspera do início do julgamento

Atentado terrorista a jornal francês matou 12 pessoas em janeiro de 2015

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RFI

Na véspera da abertura do julgamento dos responsáveis pelos atentados do Charlie Hebdo de 2015, o jornal satírico francês Charlie Hebdo republica, nesta terça-feira (1º), as caricaturas do profeta Maomé, que transformaram o semanário em alvo de jihadistas.

"Nunca descansaremos. Nunca renunciaremos", justifica Riss, diretor do jornal, no número especial, que estará nas bancas na quarta-feira (2), dia da abertura do processo do atentado, e já pode ser lido on line nesta terça-feira.

Vários jornais em cima de mesa.
Capa do jornal satírico Charlie Hebdo desta terça (1º), onde se lê "tudo isso por isso" - 1.set.2020/AFP

"O ódio que nos atingiu continua presente, desde 2015, ele teve tempo de se transformar, de mudar de aspecto para passar despercebido e continuar, sem ruído, sua cruzada impiedosa", afirma Riss.

Os 12 desenhos publicados inicialmente pelo jornal dinamarquês Jyllands-Posten em 2005, depois por Charlie Hebdo em 2006, mostram o profeta com uma bomba no turbante. Em outro desenho, Maomé aparece armado com uma faca acompanhado de duas mulheres cobertas com véus.

Além das caricaturas dinamarquesas, o número especial que tem como título "Tudo isso por isso" ("Tout ça pour ça", em francês), traz também uma caricatura do profeta de autoria de Cabu, caricaturista assassinado no atentado de 7 de janeiro de 2015. No ataque, os irmãos Chérif e Saïd Kouachi mataram 12 pessoas, entre elas, oito membros da redação do jornal.

"Desde janeiro de 2015 que nos pediam para produzir outras caricaturas de Maomé. Nós sempre recusamos, não porque seja proibido, a lei nos autoriza, mas porque era necessária uma boa razão para fazê-lo, uma razão que tivesse um sentido e que acrescentasse alguma coisa ao debate", explica o editorial do jornal que será publicado na quarta-feira. "Reproduzir as caricaturas na semana de abertura do processo dos atentados de janeiro de 2015 nos pareceu indispensável", afirma o editorial.

A última caricatura de Maomé publicada pelo jornal foi a da capa do número posterior ao ataque terrorista. Ela mostrava o profeta com um cartaz "Eu sou Charlie" ("Je suis Charlie") e o título dizia "Tudo está perdoado" ("Tout est pardonné").

"É audacioso", disse nesta terça-feira, em entrevista à rádio francesa Franceinfo, Maryse Wolinski, viúva do desenhista Georges Wolinski, assassinado no atentado.

Ela espera que durante o processo "fale-se do direito à blasfêmia e da liberdade de expressão". Maryse Wolinski também reconheceu que talvez eles estejam se arriscando com a republicação das imagens.

Blasfêmia

A publicação das caricaturas na Dinamarca, em 2005, provocou manifestações violentas em vários países muçulmanos. Sua republicação pelo semanário francês, no ano seguinte, gerou diversas críticas e o transformou mais tarde em alvo do jihadismo.

A representação de profetas é proibida pela corrente sunita do Islã, e ridicularizar ou insultar Maomé é tradicionalmente visto como passível de pena de morte.

O presidente do Conselho Francês de Culto Muçulmano (CFCM), Mohammed Moussaoui, pediu nesta terça-feira para que os fiéis ignorem as caricaturas. "A liberdade de fazer caricaturas é garantida para todos, a liberdade de gostar ou não gostar também. Nada justifica a violência", declarou.

Moussaoui pediu para que as pessoas se concentrem no "processo que começa" na quarta-feira e que "deve nos fazer lembrar das vítimas do terrorismo". "Esse terrorismo que atingiu o nome de nossa religião é nosso inimigo", insistiu o presidente do CFCM, principal entidade de diálogo com o poder público na França sobre o culto muçulmano.

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