China e Índia se acusam de violar cessar-fogo em fronteira no Himalaia

Incidente na noite de segunda tem versões conflitantes e mostra tensão entre países

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São Paulo

A China e a Índia se acusaram mutuamente de violar um cessar-fogo válido desde 1996 na fronteira disputada entre os dois países na região de Ladakh, no Himalaia.

O controle da região já foi alvo de uma guerra, vencida pelos chineses, em 1962, e de uma série de escaramuças desde então. As últimas mortes por armas de fogo ocorreram em 1975.

Um avião de transporte militar C-17 indiano sobrevoa a região do Ladakh nesta terça
Um avião de transporte militar C-17 indiano sobrevoa a região do Ladakh nesta terça - Reuters

Em junho deste ano, a situação voltou a escalar, com um grave confronto no qual morreram 20 soldados indianos e um número incerto de chineses.

Só que eles se mataram com paus e pedras, respeitando tecnicamente o cessar-fogo que proíbe tiros a 2 km de cada lado da Linha de Controle, a fronteira presumida.

"Foi uma violação militar muito séria", afirmou em comunicado na manhã desta terça (8) Zhang Shuili, porta-voz do Comando do Teatro Ocidental das Forças Armadas chinesas.

Segundo seu relato, tropas indianas atiraram ao cruzar a fronteira na região do lago Pangong na noite de segunda-feira. Ele afirmou que os militares chineses foram "forçados a uma resposta de emergência para estabilizar a situação", sem detalhar.

“A ação do lado indiano violou seriamente o acordo bilateral e escalou a tensão na região", disse Zhang.

Após passar a manhã em silêncio, o Ministério da Defesa indiano divulgou sua versão dos fatos, acusando a China de abrir fogo sobre posições que haviam sido ocupadas pelas forças de Nova Déli no fim de semana retrasado, de seu lado da fronteira.

As tropas chinesas deram, segundo o comunicado, tiros para o ar para tentar intimidar os rivais com "manobras agressivas".

Após semanas de estabilidade, a situação começou a piorar na área disputada há duas semanas. Ambos os lados apontaram violações potenciais do adversário, mas uma conversa direta entre os ministros da Defesa na sexta passada (4) em Moscou parecia ter controlado a crise.

O incidente da segunda mostra a fragilidade da situação. Ambos os países, desde junho, têm aumentado a presença militar na área e feito exercícios de combate. Nenhum deles, os mais populosos do mundo e com armas nucleares, tem, contudo, interesse numa guerra.

Politicamente, ambos têm de mostrar força para seu público interno, e as rusgas dos últimos meses demonstram que isso pode ter um preço em termos de escalada militar.

A região toda, formada por passos de montanha com mais de 4.000 metros de altura e picos de quase 8.000 metros, é de difícil acesso e um espaço ainda mais complexo para manobras militares. Helicópteros e aviões operam com dificuldade.

Os indianos têm uma preocupação adicional, que é o fato de que a China é a principal parceira militar de seu rival existencial na região, o Paquistão. Tudo o que não precisam é de duas fronteiras instáveis, embora a relação com Islamabad esteja relativamente em ordem.

Já os chineses olham para a Índia como mais uma peça na disputa geoestratégica com os EUA, a Guerra Fria 2.0 de Donald Trump, que abarca quase todos os itens possíveis de disputa comercial e política.

Para sinalizar apoio aos indianos, os americanos enviaram há duas semanas bombardeiros furtivos ao radar B-2 para sua base ao sul do subcontinente, no oceano Índico.

Nova Déli, apesar de manter uma importante relação militar com Moscou, com quem faz exercícios navais no Índico nesta semana, tem se aproximado bastante de Washington. Índia e China fazem parte do bloco Brics, com Rússia, Brasil e África do Sul.

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