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Choque cultural testa apoio de Trump em reduto militar na Carolina do Norte

Presidente vê popularidade cair entre membros das Forças Armadas, e Biden tenta preencher lacuna

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Fayetteville (Carolina do Norte)

As placas coloridas junto à bandeira dos EUA chamam a atenção de quem passa pela All American Military Surplus, uma das dezenas de lojas de equipamentos táticos para militares em Fayetteville, na Carolina do Norte.

A cidade abriga a Base Militar de Fort Bragg, uma das maiores do mundo, e se tornou um reduto militar onde veteranos tradicionalmente republicanos misturam-se a soldados jovens que, com seus familiares, começam a testar a popularidade de Donald Trump dentro das Forças Armadas.

Na sexta (18), Jocelyn estacionou o carro em frente a um dos sinais que propagandeavam o melhor preço para comprar e vender botas, mochilas, capacetes e outros produtos. Aos 24 anos, a analista financeira procurava algo para o namorado, membro do Exército em Fort Bragg e exemplo de parte dos militares que está descontente Trump.

Apoiadores do presidente americano, Donald Trump, em comício na cidade de Fayetteville, na Carolina do Norte
Apoiadores do presidente americano, Donald Trump, em comício na cidade de Fayetteville, na Carolina do Norte - Tom Brenner - 19.set.20/Reuters

"Vou falar da perspectiva de quem vive com um militar: o maior problema é que Trump é o comandante-chefe das Forças Armadas e fala muita coisa na TV, como 'vamos fazer isso ou aquilo', mas os militares dizem 'não, não vamos'", explica.

"É o presidente falando para o país inteiro que uma coisa está acontecendo e é mentira. Ele quer mostrar domínio e presença, mas fala muita coisa vazia, o que é assustador."

A jovem diz que não se sentiu motivada a votar em 2016 em nenhum dos dois candidatos —Trump derrotou Hillary Clinton—, mas agora escolheu Joe Biden porque se incomoda com a postura do presidente diante da pandemia e afirma que o democrata pode fazer dos EUA um país mais justo.

A campanha de Biden tem investido nessas famílias de militares que desaprovam Trump, escalando veteranos democratas populares, como o ex-prefeito de South Bend Pete Buttigieg, que disputou as primárias à Casa Branca, para atacar o presidente e tentar amplificar a descrença de sua imagem junto aos militares.

Desde junho, Trump tem sido alvo de críticas raras e públicas de oficiais de alta patente, em razão das ameaças de repressão que fez aos protestos contra o racismo e a violência policial.

O petardo mais inesperado e poderoso foi de James Mattis, seu ex-secretário de Defesa, que escreveu em artigo na revista The Atlantic que o presidente é uma ameaça à Constituição e tenta deliberadamente dividir o país.

A mesma publicação divulgou recentemente reportagem revelando que Trump fez comentários depreciativos sobre membros das Forças Armadas que foram capturados ou mortos —em um dos episódios, o republicano teria se referido a militares como "perdedores" e "otários", o que o presidente nega.

Os democratas sabem que é quase impossível ganhar a maioria dos 20 milhões de veteranos que vivem no país, uma base importante para Trump e os republicanos, mas avaliam que uma pequena dissidência do grupo, somada aos jovens na ativa e seus familiares, poderia desequilibrar disputas onde a corrida está apertada —na Carolina do Norte, por exemplo, Biden lidera com menos de dois pontos percentuais.

Trump compreende o quão simbólico é vencer em redutos militares e esteve em Fayetteville no dia 19 para um comício. O condado de Cumberland, onde fica a cidade, é uma ilha no meio da região que foi decisiva para a vitória do presidente há quatro anos, e onde ele espera ampliar seu apoio para garantir a reeleição.

Pesquisa da Morning Consult mostra que Trump tem 52% da preferência entre eleitores que são ou vivem com veteranos ou militares na ativa, ante 42% de Biden —mas esse apoio é menor que os 57% que o republicano teve em 2016. Números divulgados pela Military Times, por sua vez, indicam que Biden tem uma pequena vantagem entre os militares na ativa —41,3% ante 37,4% do presidente.​

Para além dos grupos militares, o choque cultural em Fayetteville se dá pela diversidade da população. Dos 210 mil habitantes, 45% são brancos, e 42%, negros. A cidade também abriga a Universidade Estadual de Fayetteville, dedicada a estudantes negros.

As diferenças incomodam trumpistas como Anthony Elkin. Ele não vive na cidade, mas fez uma parada na All American Military Surplus no retorno para casa na véspera do comício do presidente.

Anthony Elkin, apoiador de Donald Trump, em frente a loja de equipamentos militares em Fayetteville, na Carolina do Norte
Anthony Elkin, apoiador de Donald Trump, em frente a loja de equipamentos militares em Fayetteville, na Carolina do Norte - Marina Dias/Folhapress

Aos 37 anos, Elkin defende a eleição do republicano como forma de manter a lei e a ordem no país e diz que as liberdades do povo americano estarão em risco caso as pessoas votem no candidato errado.

“Na maioria das vezes, eu me sinto seguro em um governo Trump. Mas se vou a um lugar onde eu sou diferente das pessoas, sinto-me inseguro. Se as pessoas se vestem de um jeito diferente do meu, se têm cor de pele diferente da minha... 
Mas há pessoas que se apresentam e são gentis comigo, como você é, e aí não me 
sinto inseguro, e somos diferentes”, disse ele à reportagem da Folha.

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