Rússia e Belarus combinam nova rodada de manobras militares conjuntas

Acerto ocorre em meio à crise; exercícios bilaterais e ocidentais já previsto ocorrem na área sob tensão

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São Paulo

A Rússia e a Belarus decidiram fazer uma série de novos exercícios militares conjuntos, começando em 12 de outubro, para demonstrar união e coordenação militar ante o Ocidente enquanto o ditador Aleksandr Lukachenko lida com protestos diários contra seu regime.

O acerto foi feito durante visita do ministro da Defesa russo, Serguei Choigu, a Minsk nesta quarta (16). Ela aconteceu em meio às negativas, tanto de Moscou quanto da Otan, de que manobras militares em ambos os lados da fronteira bielorrussa com a Europa tinham a ver com a crise política.

Forças conjuntas russas e bielorrussas se concentram junto à fronteira com a Polônia. Centenas de militares da Otan se reúnem para um grande teste de defesa antiaérea no norte da Lituânia, a 300 km da Belarus.

De fato, nada de novo na frente —ocidental ou oriental, a depender do ponto de vista. São exercícios anuais usuais, programados com antecedência.

Tanques americanos Abrams a caminho de exercício militar na fronteira da Lituânia com a Belarus
Tanques americanos Abrams a caminho de exercício militar na fronteira da Lituânia com a Belarus - Petras Malukas - 5.set.2020/AFP

O próprio presidente Vladimir Putin e um comunicado da Otan (aliança militar ocidental) reforçaram o fato de que os exercícios estavam marcados desde antes da eleição de 9 de agosto na Belarus, na qual o ditador Lukachenko obteve uma vitória apontada como fraudulenta, disparando protestos diários e uma grande repressão.

Além do novo anúncio de manobras, como nota o cientista político Konstantin Frolov, analista independente em Moscou, adiamentos dos atuais poderiam sinalizar uma disposição de redução das tensões na região.

"A simples manutenção dos treinos reforça o recado dado de lado a lado: não vamos recuar", afirmou, por aplicativo de mensagem.

Putin também prometeu apoio militar eventual para o vizinho, que sedia infraestrutura russa de transporte de gás e petróleo e é um grande tampão aliado ante o Ocidente.

Antes dessas simulações, os russos e os ocidentais haviam promovido treinamentos menores, esses sim passíveis de serem apontados como sinais claros de prontidão militar ante a crise —particularmente, treinos de defesa aérea na sensível Kaliningrado, região russa encravada entre Lituânia e Polônia.

O Kremlin também se queixou de exercícios de tiro real comandados por americanos na Letônia, próximo à fronteira da própria Rússia.

O treinamento de agora na Belarus ocorre em Brest, cidade que faz fronteira com a Polônia. Ali, 1.500 soldados e cerca de 150 aeronaves treinarão combate no exercício Fraternidade Eslava-2020.

Blindado e caça Gripen manobram em rodovia de ilha sueca durante alerta militar
Blindado e caça Gripen manobram em rodovia de ilha sueca durante alerta militar - Bezhav Mahmoud - 25.ago.2020/AFP

A Sérvia, outro país eslavo, usualmente participa, mas cancelou o envio de tropas devido à pressão da União Europeia, bloco ao qual negocia sua adesão.

Além disso, o presidente sérvio protestou após a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores russo postar uma foto dele conversando com Donald Trump no começo de setembro, comparando-o aos policiais embasbacados ante a cruzada de pernas de Sharon Stone na clássica cena de "Instinto Selvagem", filme de 1992 com direção de Paul Verhoeven.

A situação ficou tão embaraçosa que Putin teve de pedir desculpas ao telefone a Aleksandar Vucic, algo raríssimo.

Já o treino ocidental ocorre desde 2015 e se chama Legado de Tobruk-2020. Ele começou a ser realizado em 2015, sempre num país do Leste Europeu, para testar a defesa antiaérea de curta e média distância de forma integrada. Participam 750 soldados de nove países, incluindo os três bálticos, Polônia e EUA.

O treino foi criado como resposta à anexação promovida por Putin da Crimeia, em 2014. O movimento, visando evitar que o novo governo pró-Ocidente de Kiev se juntasse à Otan ou à UE, apavorou os países orientais da aliança liderada pelos EUA.

Desde então, aviões do grupo patrulham os céus do Báltico, e foram instaladas quatro brigadas multinacionais para reforçar as defesas das antigas repúblicas ex-soviéticas e da Polônia, também um antigo satélite comunista de Moscou.

As tensões elevaram o nível de atividade em todo o Báltico, levando a Suécia a ativar um alerta militar inédito depois da Guerra Fria devido à instabilidade na Belarus.

As interceptações de aeronaves militares de lado a lado na região cresceram nas últimas semanas, algo que a Otan creditou à crise bielorrussa também.

Tais incidentes são normais, testes que o adversário faz sobre a capacidade de reação dos outros países. Mas houve violações reportadas de espaço aéreo, no caso de um caça russo na Dinamarca, algo incomum e que pode levar a incidentes mais sérios.

Nada disso significa que haverá uma guerra, claro, mas mostra que os militares de lado a lado estão afiando suas habilidades em um ambiente cada vez mais volátil.

Isso será testado novamente na semana que vem, quando a Rússia faz seu grande exercício multinacional anual. Desta vez, ele ocorre no Cáucaso, região que viu escaramuças entre armênios e azerbaijanos há dois meses.

Naquele momento, Moscou fez uma mobilização surpresa de 150 mil homens e parece ter conseguido baixar as tensões —é aliada da Armênia.

Agora, para coincidir com o exercício Cáucaso-2020, a Ucrânia vai promover manobras com exercícios de tiro real com países da Otan na semana que vem.

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