Ditadura bielorrussa acusa opositora de ameaça à segurança nacional

Detida desde a semana passada, quando frustrou tentativa de ser expulsa do país, Maria Kalesnikava pode pegar até 5 anos de cadeia

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Bruxelas

Uma das principais líderes da oposição à ditadura da Belarus, a flautista Maria Kalesnikava foi oficialmente acusada nesta quarta (16) de “ameaçar a segurança nacional usando meios de comunicação e internet”, segundo o Comitê Investigativo do regime.

Se for considerada culpada, ela pode pegar até cinco anos de prisão. Kalesnikava, 38, foi uma das três mulheres da principal candidatura contra o ditador Aleksandr Lukachenko na eleição presidencial, que ocorreu em 9 de agosto.

Desde que irromperam os protestos contra o resultado, que deu mais de 80% dos votos ao ditador, ela vinha participando de manifestações e do conselho criado para negociar uma transição pacífica e novas eleições.

Manifestante com cartaz em apoio à opositora bielorussa Maria Kalesnikava durante protesto em Kiev, na Ucrânia
Manifestante com cartaz em apoio à opositora bielorussa Maria Kalesnikava durante protesto em Kiev, na Ucrânia - Gleb Garanich - 12.set.20/Reuters

Na semana passada, porém, a opositora foi presa pela ditadura após frustrar uma tentativa de ser retirada à força da Belarus.

Ela rasgou seu passaporte para impedir sua entrada na Ucrânia e foi novamente detida em uma cidade perto da fronteira, de onde foi transferida para Minsk.

Na capital, Kalesnikava precisou de atendimento médico devido a um aumento da pressão arterial. Segundo sua advogada, ela ficou com hematomas no corpo e dor nas mãos, resultado das vezes em que foi forçada a entrar em diferentes veículos.

Dos 7 líderes do conselho de transição, 6 foram detidos ou expulsos da Belarus. A única ainda no país é a escritora Svetlana Aleksiévich, prêmio Nobel de Literatura em 2015.

A Procuradoria-Geral bielorrussa também abriu no fim de agosto um processo criminal contra o conselho, por tentativa de tomar o poder do Estado e ameaças à segurança nacional.

Kalesnikava, por sua vez, pediu a abertura de um processo contra o regime, por ameaças de morte e violência psicológica. Segundo ela, durante a tentativa de levá-la para a Ucrânia, agentes disseram que iriam tirá-la da Belarus “viva ou aos pedaços”.

Lukachenko tem enfrentado manifestações diárias por sua renúncia. No poder desde 1994, quando venceu a primeira e única eleição considerada livre e justa na Belarus, o ditador nega que tenha fraudado o pleito deste ano e disse que não deixará o cargo.

O principal candidato da oposição, Serguei Tikhanovski, 42, foi impedido de disputar a eleição. Ele foi preso no dia 6 de maio pelo regime, dias depois de anunciar a intenção de concorrer contra Lukachenko. Sua mulher, Svetlana Tikhanovskaia, assumiu sua candidatura e liderou os protestos que antecederam o voto.

O blogueiro foi liberado no dia 20, mais foi detido outra vez no dia 29 e está preso desde então.

No dia seguinte ao pleito, Tikhanovskaia se exilou na Lituânia, onde segue participando das articulações da oposição. Ela relata ter recebido ameaças.

“Tivemos a votação e obtivemos o resultado. É hora de parar de agitar a sociedade”, afirmou Lukachenko em discurso nesta quarta. A jornalistas russos na semana passada, ele disse que as manifestações eram patrocinadas por “países ocidentais”.

Ele também já acenou com a possibilidade de convocar eleições antecipadas após uma reforma constitucional.

A repressão do regime às manifestações tem sido violenta. Há centenas de casos documentados de tortura e dezenas de jornalistas foram presos ou impedidos de cobrir os atos. Segundo o Ministério do Interior bielorrusso, até 12 de agosto —ou seja, cinco dias após a eleição— 6.000 pessoas haviam sido presas.

O argumento de que a Otan (aliança militar de países europeus e norte-americanos) tenta desestabilizar seu regime tem sido usado por Lukachenko para conseguir apoio do presidente russo, Vladimir Putin.

Em encontro dos dois na Rússia nesta segunda, Putin prometeu socorrer a endividada Belarus com um empréstimo de US$ 1,5 bilhão (R$ 7,86 bi) e defendeu que o conflito atual seja resolvido internamente.

Para analistas, o presidente russo deve se aproveitar do enfraquecimento de Lukachenko para aumentar seu controle sobre o país vizinho, no qual tem interesses geopolíticos e econômicos —a Belarus separa a Rússia das tropas da Otan instaladas na União Europeia e é também zona de passagem do petróleo e gás exportados para o ocidente.

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