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Ditadura cassa licença de maior site jornalístico da Belarus

Suspenso por três meses, Tut.by ainda está no ar, mas repórteres ficam mais expostos a detenção

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Bruxelas

A ditadura bielorrussa cassou por três meses o status de mídia do mais importante site noticioso independente do país, o Tut.by. A decisão é mais um passo na repressão aos veículos de notícias no país, que já resultou no bloqueio de mais de 70 sites informativos, segundo entidades de direitos civis.

Ao menos 344 jornalistas foram detidos enquanto cobriam protestos contra o ditador Aleksandr Lukachenko, reeleito em pleito considerado fraudado, em 9 de agosto. De acordo com a Federação Europeia de Jornalismo, 15 deles continuam presos.

Embora o Tut.by possa continuar no ar, os repórteres do veículo perdem o status de jornalistas e ficam mais suscetíveis a detenção na cobertura dos protestos pela renúncia de Lukachenko, que completaram nesta terça (29) 52 dias consecutivos.

Home page de site jornalístico, com imagens de câmeras atrás das grades no lugar em que deveria haver fotos
Site independente Tut.by, na Belarus, coloca mensagem de protesto contra prisão de fotojornalistas, em vez de fotos - 17.set.2020/Reprodução

Pela lei da Belarus, é o status de mídia que permite estar presente em áreas de conflitos armados, eventos públicos e emergências e transmitir informações desses locais.

Apesar dessa garantia, eles continuam sendo levados pela polícia: neste final de semana foram oito detenções no sábado e cinco no domingo, de acordo com a Associação de Jornalistas da Belarus.

Outro efeito da decisão do Ministério da Informação de suspender o site é pressionar os anunciantes.

A empresa que controla o portal, a LLC Tut Bay Media, divulgou um comunicado em que se compromete a manter as obrigações assumidas com os clientes mesmo que o site seja temporariamente bloqueado, “com a opção de adiar a campanha publicitária por acordo com o cliente ou devolver o pré-pagamento”.

Fundado em 2000, o Tut.by foi registrado como veículo de comunicação em janeiro de 2019. De acordo com a auditoria Yandex.Metrica, teve em agosto 24 milhões de visitantes únicos que fizeram 482 milhões de page views. Segundo levantamento do Gemius Audience Overnight, o site atinge 69% dos usuários de internet da Belarus, com concentração entre os que têm de 25 a 44 anos.

O veículo, que costuma registrar declarações e argumentos do regime em suas reportagens, era um dos poucos que ainda funcionavam normalmente desde que a ditadura passou a reprimir protestos contra a reeleição de Lukachenko.

Seus editores haviam recebido quatro advertências nesse período, cerca de dez repórteres foram detidos enquanto cobriam atos e a filha da editora Galina Ulasik foi presa, no último dia 8, por participar de "evento de massa não autorizado" —na Belarus, manifestações só são permitidas com autorização da ditadura.

No dia 17, o site adotou imagens de câmeras atrás de grades em vez de fotos, em protesto contra a prisão de seus repórteres fotográficos. Outros veículos bielorrussos aderiram e saíram com espaços em branco em vez de fotos. A Folha também publicou em branco o espaço para a fotografia na cobertura desse caso.

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