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Ex-policiais acusados por morte de George Floyd culpam uns aos outros pelo crime

Advogados revelam estratégia de defesa dos agentes e pedem julgamentos separados à Justiça

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São Paulo e Minneapolis | Reuters

Os quatro ex-policiais que participaram da ação que matou o ex-segurança negro George Floyd em maio, em Minneapolis, vão tentar culpar uns aos outros durante o julgamento do caso, indicaram os advogados de defesa nesta sexta (11). A revelação de qual será a estratégia dos ex-agentes ocorreu durante uma audiência que debatia como será o julgamento.

Floyd foi morto no dia 25 de maio por um agente branco que ajoelhou em seu pescoço por quase nove minutos durante uma abordagem policial. O caso, gravado por testemunhas, deu início a uma onda de protestos contra o racismo que varreram os Estados Unidos e se espalharam pelo mundo.

O advogado da família de George Floyd, Chris Stewart, em entrevista coletiva do lado de fora de centro de justiça em Minneapolis
O advogado da família de George Floyd, Chris Stewart, em entrevista coletiva do lado de fora de centro de justiça em Minneapolis - Nicholas Pfosi/Reuters

Os quatro oficiais foram expulsos da polícia e depois acabaram detidos. Derek Chauvin, o homem que ajoelhou no pescoço de Floyd enquanto o ex-segurança afirmava que não conseguia respirar, é o único que segue preso. Os outros três —Thomas Lane, J. Kueng e Tou Thao— foram liberados sob fiança.

Todos eles foram acusados formalmente pela morte: Chauvin por homicídio de segundo e terceiro graus (respectivamente semelhantes a homicídio doloso e culposo no Brasil), e os outros três como cúmplices de homicídio em segundo grau (doloso), além de outros crimes menores.

A Justiça do estado de Minnesota agora precisa decidir como o caso será julgado —era exatamente este o tema da audiência desta sexta. Cerca de cem pessoas participaram de um protesto contra o racismo e a violência policial na frente do tribunal.

Neal Katyal, promotor do caso, argumentou que as provas são as mesmas contra os quatro ex-policiais e, por isso, eles devem ser julgados conjuntamente. Ele afirmou ainda que a realização de diversos julgamentos separados obrigaria os familiares de Floyd a testemunharem várias vezes, o que seria cruel.

"Eu já vi muita coisa na vida e quase não consegui assistir ao vídeo", disse ele sobre as imagens que mostram Chauvin com o joelho no pescoço de Floyd. "Esses acusados agiram juntos, estavam na cena juntos e conversavam entre si durante os nove minutos que Floyd estava no chão", completou Katyal.

Os advogados de defesa, porém, argumentaram que seus clientes devem ser julgados separadamente porque a principal estratégia será acusar uns aos outros pelo crime.

"Não tenho que lidar apenas com a promotoria. Estou lidando também com os outros três advogados que estão defendendo seus clientes", disse Robert Paule, representante de Thao. "Você está jogando vários linces em uma sacola e deixando eles brigarem juntos no tribunal."

Segundo a rede de TV ABC, ele argumentou que o caso de seu cliente é "totalmente distino", pois, durante a ação policial, Thao apenas cuidou do público e não chegou a interagir com Floyd.

Já os advogados de Lane e Kueng escreveram em uma petição que os dois eram policiais iniciantes que apenas seguiram as ordens de Chauvin —o agente mais graduado presente na ação.

O defensor de Chauvin, por sua vez, acusou a dupla de ser a principal responsável pela morte. Eric Nelson argumentou ao juiz do caso que Lane e Kueng foram os primeiros a chegar ao local e a encontrar Floyd, que estaria sofrendo uma overdose —ele não apresentou provas de que a vítima consumiu drogas.

Segundo o advogado, a dupla chamou então uma ambulância, mas não prestou socorro a Floyd nem avisou o serviço de emergência que o caso era urgente. Nelson afirmou que foi esta demora na ajuda que causou a morte do ex-segurança, e não a ação de Chauvin.

Tanto a autópsia oficial quanto uma realizada a pedido da família de Floyd concluíram que ele morreu por asfixia. Nenhuma delas encontrou sinais de que o ex-segurança tenha sofrido uma overdose.

O advogado da família da vítima, Ben Crump, criticou a estratégia da defesa. "A única overdose que matou George Floyd é a overdose de força excessiva e racismo no Departamento de Polícia de Minneapolis. Isso é uma tentativa descarada de matar George Floyd pela segunda vez", disse ele.

Os advogados de defesa também pediram que o caso seja transferido para outra jurisdição. Argumentam que os clientes não terão um julgamento justo em Minneapolis devido à repercussão do caso.

O juiz responsável, Peter Cahill, agora deverá avaliar os argumentos dos dois lados antes de decidir os próximos passos. Ainda não há data para o início do julgamento, mas ele afirmou que deve durar no máximo seis semanas —incluindo duas para a escolha dos jurados.

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