Descrição de chapéu Financial Times Eleições EUA 2020

Facebook promete restringir usuários se eleição nos EUA virar um caos

Chefe de assuntos globais da plataforma diz que pode tomar medidas excepcionais para limitar circulação de conteúdo

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Hannah Murphy
San Francisco | Financial Times

O Facebook afirmou que tomará medidas agressivas e excepcionais para restringir a circulação de conteúdo em sua plataforma se a eleição presidencial americana, em novembro, transformar-se em caos ou tumultos populares violentos.

Em entrevista ao Financial Times, Nick Clegg, diretor de negócios globais da empresa, disse que foram traçados planos para lidar com uma série de resultados, incluindo agitação generalizada ou "os dilemas políticos" de ter votos registrados presencialmente contados mais rapidamente do que as cédulas enviadas pelo correio. Estas terão importância maior nesta eleição devido à pandemia do coronavírus.

"Temos algumas opções de emergência disponíveis se realmente houver um conjunto de circunstâncias extremamente caóticas e, pior ainda, violentas", disse Clegg. Mas ele evitou dar detalhes dessas medidas.

Logo da rede social Facebook visto em tela de tablet
Logo da rede social Facebook visto em tela de tablet - Lionel Bonaventure - 17.fev.19/AFP

As ações propostas, que provavelmente iriam mais longe do que qualquer outra adotada anteriormente por uma plataforma americana, surgem no momento em que as companhias de tecnologia enfrentam pressão crescente para definir como pretendem combater a desinformação relacionada às eleições, a supressão de eleitores e a incitação à violência no dia da votação, 3/11, e no período pós-eleitoral.

Também surge a preocupação de que o próprio presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, possa recorrer às redes sociais para contestar o resultado ou pedir um protesto violento, potencialmente desencadeando uma crise constitucional.

"Temos agido agressivamente em outras partes do mundo onde acreditamos haver instabilidade cívica real e obviamente temos as ferramentas para fazer isso [de novo]", acrescentou Clegg, citando o uso anterior de "medidas bastante excepcionais para restringir significativamente a circulação de conteúdo."

O Facebook se recusou a entrar em detalhes sobre seus planos de controle de conteúdo relacionado às eleições, já que atores mal-intencionados poderiam usar essas informações para descobrir como manipular o sistema a seu favor.

No entanto, durante períodos anteriores de agitação no Sri Lanka e em Mianmar, a empresa tomou medidas que incluíram reduzir o alcance do conteúdo compartilhado por infratores reincidentes e restringir a distribuição de "conteúdo limítrofe", considerado sensacionalista, mas que não chegava a violar as regras sobre discurso de ódio da plataforma.

O Facebook se prepara para uma eleição que provavelmente será altamente polarizada. A atuação da empresa será acompanhada com atenção depois de não conseguir identificar tentativas da Rússia de manipular a votação nos EUA em 2016.

Há temores de que agora Trump possa tentar interferir no processo, já que não quis se comprometer a aceitar o resultado, argumentou que o processo pode ser fraudado e procurou deslegitimar o voto pelo correio.

Diante desse cenário, o Facebook tem explorado como lidar com cerca de 70 roteiros possíveis, de acordo com uma pessoa familiarizada com a situação, com equipes que incluem planejadores de cenários militares de nível internacional.

Até agora, a plataforma anunciou várias novas políticas contra desinformação eleitoral e supressão de eleitores nas últimas semanas, incluindo a afirmação de que adicionará rótulos de advertência a postagens em que campanhas ou candidatos reivindiquem a vitória prematuramente, por exemplo.

De acordo com Clegg, as decisões mais delicadas caberão a uma equipe de altos executivos, incluindo ele e a diretora de operações, Sheryl Sandberg, com o executivo-chefe, Mark Zuckerberg, mantendo o direito de anular as medidas.

"Nós reorganizamos um pouco as coisas, de forma que temos um esquema bastante rígido no qual as decisões são tomadas em diferentes níveis a depender da gravidade da controvérsia", disse Clegg.

O executivo afirmou ainda que "o volume de recursos que estamos investindo nisso é muito considerável".

O Facebook terá uma sala de guerra virtual —apelidada de Centro de Operações Eleitorais— para monitorar atividades suspeitas e atualizar seu "polo de informações ao eleitor", que mostrará aos usuários os resultados confirmados, disse ele.

Além de combater uma onda crescente de desinformação por parte de agentes estrangeiros e nacionais, os especialistas alertam que o Facebook deve evitar que a plataforma seja usada para fomentar a violência.

No início deste mês, a rede social foi criticada por não conseguir bloquear uma milícia armada que instigava cidadãos com armas a protestar em Kenosha, no estado de Wisconsin, pouco antes de um jovem de 17 anos matar duas pessoas a tiros.

Clegg disse que o Facebook está realizando "varreduras proativas" em busca de grupos perigosos, incluindo "em áreas onde sabemos que sua atividade provavelmente será mais pronunciada e em outras partes do país".

Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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