Lembre casos de violência policial contra negros nos EUA e saiba o que aconteceu com os agentes

Episódios de uso de força excessiva levaram a diversas manifestações antirracistas

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São Paulo

A violência policial nos Estados Unidos direcionada a pessoas negras foi o motivo de uma série de protestos no país em 2020. A partir de casos como as mortes de George Floyd e Breonna Taylor, ativistas denunciam o uso excessivo da força em operações e abordagens policiais de mulheres e homens negros.

Embora, em números absolutos, a maior parte das pessoas mortas pela polícia nos EUA seja branca, o índice de óbitos entre os negros é maior que o dobro da taxa entre os brancos. Negros são 13% da população dos EUA.

De acordo com um levantamento atualizado diariamente, desde 2015, pelo jornal Washington Post, 2.527 pessoas brancas foram mortas pela polícia. O número equivale a 13 mortes a cada milhão de habitantes.

Já entre os negros, os registros somam 1.318 mortes, mas a taxa por milhão de habitantes é de 32.

Os números podem ser ainda piores porque as estatísticas oficiais são resultado de subnotificação. O relato de incidentes fatais a órgãos federais é facultativa, e muitos departamentos de polícia não o fazem.

Lembre alguns dos principais casos recentes.

*

George Floyd, 46

Em 25 de maio de 2020, George Floyd morreu depois de ter sido algemado e ter o pescoço prensado contra o chão —por aproximadamente nove minutos— pelo joelho de um policial branco, em Minneapolis, no estado de Minnesota.

Manifestantes seguram cartazes em Washington
Manifestantes erguem cartazes com o rosto de George Floyd durante marcha em Washington que marcou o 57º aniversário do discurso "Eu tenho um sonho", de Martin Luther King Jr. - Drew Angerer - 28.ago.2020/AFP

A abordagem violenta foi filmada por testemunhas e compartilhada em redes sociais, onde rapidamente viralizou e deu início a uma onda de manifestações antirracistas em milhares de cidades americanas e ao redor do mundo.

A polícia foi acionada porque Floyd foi acusado de tentar usar uma nota falsa de US$ 20. Os quatro agentes envolvidos foram demitidos e presos, mas três deles pagaram fianças milionárias e respondem às acusações de assassinato em liberdade.

As últimas palavras de Floyd —"eu não consigo respirar"— tornaram-se um lema presente nos protestos contra o racismo e a violência policial.

O policial Derek Chauvin, que asfixiou Floyd com seu joelho, foi considerado culpado pelo júri popular em 20 de abril.


Breonna Taylor, 26

Em 13 de março de 2020, Breonna Taylor e seu namorado, Kenneth Walker, estavam dormindo quando três policiais à paisana entraram em seu apartamento em Louisville, no estado do Kentucky.

Os policiais estavam cumprindo um mandado de busca em uma investigação sobre tráfico de de drogas. Pensando se tratar de uma invasão, Walker chamou o serviço de emergência e atirou contra um dos policiais —ele tinha uma arma legalizada.

De uniforme e carregando flores e um diploma, Breoona Taylor posa para foto na sua cerimônia de graduação como paramédica, em Louisville, Kentucky
Breonna Taylor posa para foto na sua cerimônia de graduação como paramédica, em Louisville, no Kentucky - AFP/Cortesia da família de Breonna Taylor

Os policiais revidaram com vários tiros. Taylor foi atingida cinco vezes e morreu. Nada ilícito foi encontrado em seu apartamento.

Em 15 de setembro, o município de Louisville chegou a um acordo milionário com a família de Taylor: concordaram em pagar US$ 12 milhões (R$ 63 milhões) após os familiares moverem um processo de homicídio culposo. A cidade também concordou em instituir mudanças na polícia.

Dois agentes envolvidos no caso, os detetives Myles Cosgrove, um dos policiais que atiraram em Breonna, e Joshua Jaynes, que preparou o mandado de busca da ação em 13 de março, foram demitidos. Outros dois voltaram ao trabalho.


Rayshard Brooks, 27

Em 12 de junho de 2020, em Atlanta (Geórgia), um homem identificado como Rayshard Brooks, 27, adormeceu em seu carro na fila do drive-thru da loja de "fast-food" Wendy’s, de acordo com a prefeita da cidade, Keisha Lance Bottoms.

Segundo o New York Times, Brooks lutou com os policiais depois de fazer um teste de embriaguez e resistir à prisão. O homem, então, pegou uma arma de choque de um dos agentes, que atirou nele.

As autoridades afirmam que Brooks chegou a apontar o "taser" para o policial antes de ser atingido.

Em entrevista coletiva, o diretor do Gabinete de Investigação da Geórgia, Vic Reynolds, disse que um vídeo capturado por câmeras do Wendy’s parecia mostrar Brooks com a arma de choque enquanto fugia.

Após o caso, a chefe da polícia de Atlanta, Erika Shields, demitiu-se. Os agentes envolvidos, Garrett Rolfe e Devin Brosnan, ambos brancos, chegaram a ser presos, mas foram liberados ao pagar fiança ainda em junho de 2020. Demitido da corporação, Rolfe teve 11 acusações contra ele, incluindo homicídio culposo, agressão agravada com arma mortal, dano criminal à propriedade e violação do juramento.

Brosnan foi acusado de agressão agravada por pisar em Brooks com sua bota e três violações de seu juramento —não prestar ajuda a Brooks em tempo hábil, usar o pé como uma técnica de controle e pisar em Brooks depois de ter sido baleado, de acordo com os mandados.


Jacob Blake, 29

Em 23 de agosto de 2020, Jacob Blake foi atingido pelas costas por sete tiros à queima-roupa disparados por um policial em Kenosha, no estado de Wisconsin.

Blake sorri com seus quatro filhos
Foto de Jacob Blake com seus filhos, divulgada pelo advogado de direitos civis Benjamin Crump - Reprodução/Twitter/Ben Crump

Um vídeo publicado nas redes sociais mostra Blake andando até o assento do motorista do carro, seguido por dois policiais que apontam armas para suas costas.

Quando ele abre a porta do veículo, um dos policiais dispara várias vezes. Dentro do carro, estavam os três filhos pequenos de Blake.

Segundo a polícia, os dois agentes estavam no local em resposta a um chamado de incidente doméstico. Blake sobreviveu aos disparos, mas foi internado em estado crítico e ficou paralisado da cintura para baixo, de acordo com relatos de familiares.

O policial que atirou, Rusten Sheskey, chegou a ter uma licença administrativa, mas não houve acusações contra ele. Em março de 2021, Blake abriu um processo por uso excessivo de força contra o agente, que retornou ao trabalho neste mesmo mês.


Dijon Kizzee, 29

No dia 31 de agosto de 2020, policiais abordaram o ciclista Dijon Kizzee por uma infração de trânsito. De acordo com os agentes, Kizzee abandonou a bicicleta e fugiu, agredindo um deles e largando no chão uma trouxa de roupas com uma arma dentro.

Ao enxergar o revólver, os policiais dispararam, atingindo Kizzee pelas costas ao menos dez vezes.

Mulher negra e de máscara segura quadro com foto de Kizzee e os dizeres  Rest in Power, ou Descanse em poder
Manifestante segura um quadro com o rosto de Dijon Kizzee em protesto contra violência policial e racismo em Los Angeles - Frederic J. Brown - 2.set.2020/AFP

O advogado da família, Benjamin Crump, que também representa a família de Blake e Floyd, afirma que foram mais de 20 tiros, e testemunhas falaram em pelo menos 10.

Os policiais chegaram a algemar o homem após a ação, e seu corpo ficou na rua por horas antes de ser recolhido. A morte gerou protestos em Los Angeles, que exigiram que os nomes dos agentes envolvidos fossem divulgados. A família de Kizzee pediu uma autópsia independente, segundo a qual o ciclista estava se rendendo quando foi alvejado 15 vezes.

Os advogados anunciaram, em fevereiro de 2021, que iriam processar o condado de Los Angeles.


Daniel Prude, 41

Em 23 de março de 2020, Daniel Prude morreu asfixiado enquanto estava sob custódia da polícia. Prude, um homem negro com problemas de saúde mental, estava desarmado quando foi encapuzado e mantido com o rosto virado para o asfalto por dois minutos.

Daniel Prude posa para foto
Daniel Prude posa para foto - Foto de família/AFP

A ação da polícia foi gravada pelas câmeras acopladas aos uniformes dos agentes, e as imagens foram liberadas no dia 3 de setembro.

Os policiais colocaram na cabeça de Prude um “capuz anticuspe”, que tem a função de proteger os agentes da saliva de um preso em meio à pandemia de coronavírus. Depois de ser detido, Prude morreu por asfixia.

Sete policiais envolvidos no caso foram suspensos um dia após a divulgação das imagens. Na sequência, o chefe de polícia de Rochester, La’Ron D. Singletary, seu vice e um comandante renunciaram. Dois outros funcionários de alto escalão do departamento foram rebaixados.

Um grande júri convocado pela procuradora-geral de Nova York, Letitia James, avaliou as evidências da morte de Prude, mas decidiu não acusar os policiais.


​Joshua Wilson, 34

Durante um protesto antirracista em Los Angeles após a morte de George Floyd, policiais agrediram Joshua Wilson, homem negro cadeirante, em 14 de julho de 2020. A agressão foi gravada e publicada no Twitter, onde viralizou. No vídeo, é possível ver que os agentes o derrubam no chão e o imobilizam, jogando sua cadeira de rodas para longe.

Em seguida, pelo menos três policiais seguram seus braços e o prendem ao chão, enquanto outros impedem que manifestantes se aproximem.

As autoridades dizem que Wilson agrediu um policial, e por isso foi imobilizado. A corporação diz ainda ter encontrado uma arma carregada na mochila do homem. Por ter antecedentes criminais, ele não tinha direito de portar uma arma de fogo, e foi preso. Mais tarde, Wilson foi liberado após pagar a fiança com ajuda de uma campanha na internet.

A polícia de Los Angeles abriu uma investigação do caso.


​Roderick Walker, 26

Em 14 de setembro, Roderick Walker foi imobilizado por policiais brancos e agredido com vários socos no rosto durante uma abordagem no estado da Geórgia.

Walker fazia uma viagem por meio de aplicativo de transporte junto com a namorada, Juanita Davis, o filho de 5 meses e o enteado quando o carro onde estavam foi parado por policiais devido a uma lanterna traseira quebrada.

Apesar de ele não estar dirigindo, os agentes pediram a Walker que apresentasse documentos. Quando questionou a ação, os policiais ordenaram que saísse do carro, enquanto mais viaturas chegavam ao local. Momentos depois, ele estava no chão.

Mesmo imobilizado, Walker foi agredido várias vezes no rosto por um dos agentes, enquanto sua namorada grita para que saiam de cima dele. Quando os policiais finalmente se levantam, ele está inconsciente. O homem foi algemado e preso, acusado de agressão e obstrução do trabalho policial.

A abordagem foi registrada em vídeo, no qual é possível ouvir Walker dizer "não consigo respirar" —mesma frase dita por George Floyd.

O policial responsável pela agressão foi demitido.


William Green, 43

Em 27 de janeiro, William Green foi detido por um policial depois de bater o carro em outros veículos em Temple Hills, no estado de Maryland, sob suspeita de estar dirigindo sob efeito de álcool ou drogas.

Algemado dentro da viatura, Green morreu depois de levar seis tiros do agente que o deteve.

A versão do policial Michael Owen é que Green teria resistido à prisão e tentado pegar sua arma durante um embate físico. Os investigadores responsáveis pelo caso, porém, descartaram a versão de Owen, que foi preso sob acusação de homicídio de segundo grau, que na lei brasileira equivale ao homicídio doloso, com intenção de matar.

Em 28 de setembro, a família de Green fechou um acordo civil com autoridades do condado de Prince George, segundo o qual deve receber US$ 20 milhões (R$ 113 milhões) em indenizações.


Walter Wallace Jr., 27

Walter Wallace Jr., 27, caminhava por uma rua da Filadélfia, na Pensilvânia, sob a mira de dois policiais, que dispararam contra o homem negro, em 26 de outubro de 2020.

A ação foi filmada e compartilhada nas redes sociais. Não é possível ver nas imagens, mas os relatos indicam que Wallace portava uma faca e, no vídeo, os policiais gritam para que ele a solte. Uma mulher, que também aparece no registro e foi identificada como a mãe de Wallace, apela para que os policiais não atirem.

Policiais apontam armas contra Walter Wallace Jr. durante ação que resultou em sua morte na Filadélfia
Policiais apontam armas contra Walter Wallace Jr. durante abordagem na Filadélfia - Reprodução/Benjamin Crump no Twitter

Em dado momento, entretanto, com Wallace a poucos metros de distância, os dois policiais disparam pelo menos dez vezes, e o homem cai no chão, sob gritos da mãe e de outras testemunhas. Mais tarde, ele foi declarado morto em um hospital.

De acordo com familiares, Wallace tinha um histórico de problemas de saúde mental e estava no meio de uma crise durante a abordagem que resultou em sua morte.

A família, no entanto, não quis que os policiais fossem acusados de homicídio, segundo falou o advogado Shaka Johnson, porque os agentes não tinham o treinamento correto nem o equipamento adequado para executar no trabalho. "Esses policiais só possuíam uma ferramenta para assinar", disse o advogado, à época.


Casey Goodson Jr., 23

Em 4 de dezembro de 2020, Casey Goodson Jr., 23, foi baleado pelo policial Michael Jason Meade várias vezes enquanto voltava para casa depois de comprar sanduíches, em Columbus, no estado de Ohio.

O agente fazia parte de uma força-tarefa que buscava fugitivos, quando seu colega, Peter Tobin, disse que um homem dirigia armado. Meade confrontou Goodson enquanto este entrava na casa de sua avó. Segundo Tobin, Meade disse para o jovem largar a arma antes de realizar três disparos.

A família de Goodson disse que ele voltava do dentista e levava sanduíches.

As autoridades federais abriram uma investigação. Meade, veterano da SWAT, batalhão de choque da polícia americana, está em licença remunerada enquanto aguarda a investigação.


Andre Hill, 47

Na noite de 21 de dezembro de 2020, Andre Maurice Hill, 47, um homem negro, estava numa garagem quando foi baleado várias vezes pelo policial Adam Coy, branco. O caso também aconteceu em Columbus.

As imagens da câmera acoplada à farda de Coy mostram Hill caminhando em direção a ele com um celular na mão esquerda, enquanto a outra permanece oculta. Segundos depois, o oficial atira e o civil cai. Não se ouve nenhum som que explique as circunstâncias do disparo.

pessoas vestidas com roupas de inverno levantam as mãos com os punhos fechados e carregam cartazes com os dizeres, em inglês: "Maurice Hill, say his name" e "Justiça para Andre Hill"
Manifestantes protestam contra a morte do homem negro Andre Hill, em Columbus, no estado de Ohio - Stephen Zenner - 24.dez.20/AFP

O policial e seu colega esperaram vários minutos antes de se aproximarem da vítima, que morreu mais tarde no hospital. Eles foram ao local após a polícia receber uma denúncia de que um homem estava ligando e desligando um carro por um longo período, segundo a corporação.

Coy foi suspenso. Segundo a mídia local, já havia denúncias contra ele por uso excessivo da força. O chefe da polícia da cidade, Thomas Quinlan, anunciou a abertura de um processo de má conduta grave contra Coy.

Em fevereiro de 2021, Coy foi indiciado e acusado por assassinato, agressão criminosa e abandono do dever.


Daunte Wright, 20

A menos de 20 quilômetros do local onde George Floyd foi assassinado, Daunte Wright, 20, foi morto depois de ser baleado em uma abordagem policial em 11 de abril 2021.

Segundo nota divulgada pelo departamento de polícia de Brooklyn Center, cidade com 30 mil habitantes nos arredores de Minneapolis, agentes pararam um veículo por volta das 14h (no horário local, 16h de Brasília) para autuar um motorista por uma infração de trânsito. A lei estadual proíbe objetos pendurados no retrovisor, alegando que eles podem prejudicar a visibilidade, e o carro parado tinha um desodorizador pendente.

Wright, que dirigia o carro, saiu do veículo a pedido dos policiais. Na versão dos agentes, Wright, um homem negro, tinha um mandado de prisão em aberto e, ao receber voz de prisão, desvencilhou-se dos agentes e voltou para dentro do veículo. Em seguida, uma policial atirou.

O jovem teria dirigido por mais algumas quadras, até que bateu em outro veículo e morreu no local. Segundo relatos de testemunhas, os agentes tentaram reanimá-lo, sem sucesso.

Segundo a polícia, toda a ação deste domingo foi filmada pelas câmeras acopladas às fardas dos agentes. O material de vídeo, exibido durante uma entrevista coletiva nesta segunda-feira (12), mostra uma briga entre Wright e um dos policiais.

Quando ele volta ao carro, ouve-se uma voz, atribuída a uma agente que participou da abordagem, gritando "taser, taser", nome dado a uma arma de choque para imobilizar pessoas em fuga. Segundo o departamento, a policial se confundiu e, em vez de disparar o taser, usou a arma de munição letal.

Em outro trecho, depois do tiro, ouve-se a mesma policial dizendo: "Puta merda. Eu atirei nele".

"Parece-me, pelo que vi e pela reação e angústia dos policiais imediatamente depois, que esta foi uma descarga acidental que resultou na trágica morte do senhor Wright", disse o chefe da polícia de Brooklyn Center, Tim Gannon. A agente não teve a identidade revelada, mas, segundo Gannon, é uma oficial "muito experiente". Ela ficará em licença e não voltará ao trabalho até a conclusão das investigações.

A policial que atirou e matou Wright, Kimberly Potter, 48, que tem 26 anos de experiência na corporação, e o chefe do Departamento de Polícia da cidade, Tim Gannon, demitiram-se. Potter será acusada de homicídio culposo de segundo grau.

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