Descrição de chapéu Eleições EUA 2020

Mesmo com reações de republicanos, Trump questiona lisura das eleições pelo 2º dia seguido

Presidente afirma que cédulas com votos a favor dele foram encontradas em rio e em lata de lixo

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Washington | Reuters

Um dia após se recusar a se comprometer com uma transição pacífica caso seja derrotado nas eleições presidenciais e ver líderes do Partido Republicano e até mesmo a porta-voz da Casa Branca dizerem que os resultados do pleito serão respeitados, o presidente dos EUA e candidato à reeleição, Donald Trump, questionou outra vez a legitimidade da votação de 3 de novembro.

"Queremos ter a certeza de que essa eleição será honesta, e não tenho certeza de que poderá ser", afirmou Trump nesta quinta-feira (24), ao ser questionado por uma repórter se ele só consideraria a eleição legítima se ele for o vencedor da disputa contra o democrata Joe Biden.

O presidente americano, Donald Trump, discursa durante evento de campanha na Carolina do Norte - Tom Brenner/Reuters

“Temos que ser muito cuidadosos com as cédulas. Você sabe, as cédulas são uma grande fraude", continuou o presidente, em uma referência à votação por correio. O republicano não apresentou nenhuma evidência que sustente as declarações.

Devido à pandemia, muitos eleitores têm preferido votar pelo sistema postal americano, o que é permitido na grande maioria dos estados do país —neste ano, a modalidade deve representar uma parcela significativa dos votos desta eleição. O uso do sistema é comum entre membros das Forças Armadas no exterior, e, em 2016, 25% dos votos foram realizados dessa forma. O próprio Trump votou assim.

As afirmações do presidente vêm após republicanos prometerem, também nesta quinta, uma transição pacífica em caso de vitória de Biden. "O vencedor das eleições de 3 de novembro será empossado em 20 de janeiro", afirmou o líder da maioria republicana no Senado, Mitch McConell, no Twitter. "Haverá uma transição ordeira, assim como tem sido a cada quatro anos desde 1792", concluiu, sem mencionar Trump.

A deputada Liz Cheney, líder da Conferência Republicana na Câmara, afirmou que a transferência pacífica de poder está consagrada na legislação americana e é fundamental para a sobrevivência da República. "Os líderes dos Estados Unidos fazem um juramento à Constituição. Vamos manter este juramento."

Momentos depois, a porta-voz da Casa Branca, Kayleigh McEnany, disse a repórteres que "o presidente aceitará os resultados de uma eleição livre e justa".

O comentário de McEnany, porém, é ambíguo, pois reitera o caráter livre e justo das eleições, já que Trump vem questionando a lisura do pleito, em especial devido à votação por correio. Nesta quinta, o presidente afirmou que cédulas com votos a seu favor haviam sido encontradas em um rio e em uma lata de lixo.

Na Pensilvânia, um dos estados-pêndulo —que mudam de preferência a cada eleição e, por isso, são os maiores focos de interesse dos candidatos—, um procurador federal anunciou, nesta quinta, uma investigação sobre nove cédulas de votação por correio que foram descartadas e encontradas.

"Das nove cédulas descartadas e posterioremente recuperadas, sete eram para o candidato presidencial Donald Trump. As outras duas foram seladas novamente pela equipe eleitoral da cidade de Luzerne, antes de serem recolhidas pelo FBI. Seus conteúdos são desconhecidos", disse o procurador federal para o Distrito Central da Pensilvânia, David Freed.

Em comunicado publicado na internet anteriormente, o gabinete de Freed afirmava que as nove cédulas continham votos para Trump, mas a nota foi removida e retificada. Pela manhã, o diretor do FBI indicado por Trump, Christopher Wray, afirmou que não havia evidência de um "esforço de fraude nas eleições".

A Pensilvânia foi decisiva na vitória de Trump nas eleições de 2016 contra a candidata democrata Hillary Clinton. Com cerca de 44 mil votos a mais que a concorrente —aproximadamente 0,7% dos votos daquele estado—, o então candidato republicano levou todos os 20 votos do Colégio Eleitoral local.

Alarmados com as declarações de Trump, lideranças do Partido Democrata vêm acusando o presidente de minar a democracia com as reiteradas investidas contra a legitimidade das eleições.

O líder da minoria democrata no Senado, Chuck Schumer, disse que, na verdade, Trump é a "ameaça mais grave" à democracia. "Presidente Trump, você não é um ditador, e os EUA não permitirão que você o seja."

A presidente da Câmara, a democrata Nancy Pelosi, também se manifestou. Em entrevista coletiva, disse que o republicano parece admirar líderes autocráticos e, dirindo-se a Trump, afirmou que ele "não está na Coreia do Norte, nem na Turquia, nem na Rússia".

Nesta quinta, Bernie Sanders, que foi pré-candidado à Presidência pelo Partido Democrata, acusou Trump de estar "preparado para minar a democracia americana para permanecer no poder".

Para o senador, o presidente tenta desestimular o voto ao "semear caos, confusão e teorias da conspiração e ao lançar dúvidas sobre a integridade das eleições". "Esta é uma eleição entre Donald Trump e a democracia —e a democracia deve vencer", disse Sanders, que endossou a chapa de Biden.

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