Cinquenta dias antes da eleição americana, a Folha começou a publicar a série de reportagens “50 estados, 50 problemas”, que se debruça sobre questões estruturais dos EUA e presentes na campanha eleitoral que decidirá se Donald Trump continua na Casa Branca ou se entrega a Presidência a Joe Biden.
Até 3 de novembro, dia da votação, os 50 estados do país serão o ponto de partida para analisar com que problemas o próximo —ou o mesmo— líder americano terá de lidar.
Em 6 de julho, o movimento indígena nos Estados Unidos celebrou uma importante vitória parcial na disputa mais acirrada com o governo Donald Trump. Um juiz federal determinou que o oleoduto Dakota Access fosse esvaziado até a realização de um minucioso estudo de impacto ambiental.
Após meses de protestos de indígenas e ambientalistas em 2016, o projeto havia sido barrado pelo ex-presidente Barack Obama, mas o mandatário republicano autorizou a obra já no quarto dia na Casa Branca, em 24 de janeiro de 2017. A assinatura teve o caráter simbólico de romper com a agenda mais ambientalista do antecessor democrata.
Cinco meses mais tarde, em junho de 2017, o petróleo já começou a fluir pelo oleoduto. Nos próximos anos, Trump continuaria a enfraquecer a legislação socioambiental americana, considerada por seu governo um obstáculo ao desenvolvimento.
Muitas dessas medidas têm sido barradas pelo Judiciário, incluindo por juízes federais indicados por Trump —nos EUA, essa nomeação é prerrogativa do presidente.
Por outro lado, caso o republicano consiga emplacar a substituta da juíza Ruth Bader Ginsburg e ampliar a maioria conservadora na Suprema Corte, aumentam as chances de que seu legado de flexibilização das leis socioambientais perdurem mesmo que ele seja derrotado em novembro.
O oleoduto custou US$ 3,8 bilhões (R$ 21 bilhões) e passa sob o rio Missouri, em um trecho a algumas centenas de metros da reserva Standing Rock, do povo sioux, na Dakota do Norte. Um vazamento contaminaria a principal fonte de água dos indígenas, que consideram o local sagrado.
“É um dia histórico para a tribo Standing Rock Sioux e para as muitas pessoas que nos apoiaram na luta contra o oleoduto”, disse, logo após a decisão, a liderança sioux Mike Faith.
Com 1.886 km de extensão, o duto leva o petróleo produzido na Dakota do Norte até um terminal em Illinois, de onde é redistribuído para refinarias. Segundo a publicação E&E News, a obra é responsável pelo transporte de 5% da produção americana de petróleo e gera 7.000 empregos.
Ex-vice-presidente de Obama, o candidato democrata Joe Biden não se pronunciou sobre o tema, mas sua companheira de chapa, a senadora Kamala Harris, respaldou formalmente a ação judicial movida pelo povo sioux, que busca fechar o oleoduto de forma definitiva.
O oleoduto Dakota Access é apenas um dos temas eleitorais em torno da população indígena, que tem uma taxa de pobreza de 20,8%, quase o dobro do percentual do país, e cerca de 40% de taxa de desemprego, segundo números oficiais.
Economia, violência contra a mulher e a pandemia de coronavírus estão entre outros temas importantes.
Segundo o Censo de 2018, são 6,9 milhões de indígenas, o que representa 2% da população americana, estimada em cerca de 330 milhões. Embora receba pouca atenção dos candidatos, o voto indígena poderia ser decisivo em alguns estados com disputa acirrada, como Arizona, Colorado, Michigan e Nevada.
Durante seu mandato, Trump não pareceu muito preocupado em se aproximar dos indígenas.
Além de viabilizar o oleoduto, ele provocou em junho a ira das principais lideranças ao criticar a mudança no nome do time de futebol americano Washington Redskins (“peles vermelhas”), termo considerado ofensivo. Via Twitter, o presidente republicano disse que a equipe cedeu ao “politicamente correto”.
Trump também vem sendo criticado pela atuação no combate aos efeitos da Covid-19 sobre a população indígena, cuja taxa de letalidade é maior do que a da média da população. O governo do republicano aprovou uma pacote de ajuda de US$ 8 bilhões (R$ 44,95 bilhões), mas há disputas judiciais sobre a forma como esses recursos estão sendo distribuídos.
Em sua página oficial de campanha à reeleição, o republicano não traz nenhuma menção específica aos indígenas. Biden, por sua vez, promete fortalecer a governança e a soberania (diferentemente do Brasil, os EUA consideram os territórios indígenas como nações), combater a violência contra mulheres e “apoiar os direitos à água dos povos” —embora sem mencionar o oleoduto na Dakota do Norte.
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