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O caso de Daniel Prude, mais uma vítima negra da violência policial nos EUA

Ele teve um saco na cabeça durante uma abordagem em NY em março

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Um homem negro desarmado morreu no estado de Nova York depois de ser encapuzado pela polícia e mantido com o rosto voltado para a asfalto por dois minutos, segundo imagens de câmeras acopladas aos uniformes da polícia.

Daniel Prude, 41, sofria de problemas de saúde mental quando a polícia o deteve em março e colocou um "capuz anticuspe" em sua cabeça, projetado para proteger os policiais da saliva de um detido. O uso dessa espécie de capuz virou medida padrão durante a pandemia do novo coronavírus.

Imagem gravada pela polícia mostra abordagem a Daniel Prude, em 23 de março - Polícia de Rochester via AFP

Depois dessa detenção, Prude morreu por asfixia. No entanto, o caso só se tornou público agora.

A morte dele ocorreu antes do assassinato de George Floyd, em maio, quando um policial branco se ajoelhou em seu pescoço por quase oito minutos em Minnesota. Protestos globais contra o racismo foram realizados após sua morte.

As tensões aumentaram novamente nos Estados Unidos nas últimas semanas depois que Jacob Blake foi baleado sete vezes nas costas e ficou com as pernas paralisadas após ação da polícia em Kenosha, em Wisconsin, em 23 de agosto, gerando grandes protestos na cidade, que se tornaram violentos.

O candidato democrata à Presidência dos Estados Unidos, Joe Biden, defendeu acusações contra os policiais envolvidos no assassinato de Blake e de Breonna Taylor, uma mulher negra que foi morta em sua casa em Louisville, no Kentucky, durante uma operação antidrogas em março.

"Acho que devemos deixar o sistema judicial funcionar do seu jeito", disse ele em entrevista coletiva em Delaware. "Eu acho que, no mínimo, os policiais precisam ser acusados."

Desarmado, Daniel Prude morreu depois de ser algemado e encapuzado por policiais na cidade de Rochester.
Desarmado, Daniel Prude morreu depois de ser algemado e encapuzado por policiais na cidade de Rochester - We The People/GoFundMe/BBC

Manifestantes se reuniram na cidade de Rochester, no estado de Nova York, na quarta-feira para protestar contra a morte de Prude. Várias pessoas foram detidas por um breve período depois de entrar no prédio de Segurança Pública, que serve como sede da polícia, segundo a mídia local.

O procurador-geral dos EUA, William Barr, negou as acusações de que americanos negros e brancos eram tratados de maneira diferente devido ao racismo policial. Em entrevista à CNN, ele disse que era muito raro um negro desarmado ser baleado por policiais brancos.

"Acho que a narrativa de que a polícia está em uma epidemia de atirar em negros desarmados é simplesmente uma narrativa falsa", disse ele.

Como Daniel Prude morreu?

Joe, irmão de Prude, ligou para a polícia em Rochester, em 23 de março, porque seu irmão estava sofrendo de problemas agudos de saúde mental.

"Eu fiz uma ligação pelo meu irmão para pedir ajuda, não para meu irmão ser linchado", disse ele em entrevista coletiva na quarta-feira.

Trabalhador de um armazém de Chicago e pai de cinco filhos, Daniel Prude estava visitando seu irmão no momento de sua morte.

Imagens da câmera no colete do policial obtidas pela família por meio de um pedido de informação pública mostram Prude, que corria nu pelas ruas sob uma neve leve antes da chegada da polícia, deitado desarmado enquanto os policiais o prendiam no chão.

O vídeo mostra que Prude obedeceu imediatamente quando os policiais chegaram ao local e ordenaram que ele deitasse no chão e colocasse as mãos atrás das costas. Ele pode ser ouvido dizendo: "Certo, certo".

Ele fica agitado, às vezes xingando os policiais que o cercam e cuspindo, mas não parece oferecer nenhuma resistência física, segundo as imagens.

Prude disse aos policiais que estava infectado com o coronavírus, e eles colocaram um "capuz" sobre sua cabeça. Os "capuzes anticuspe" são de tecido e colocados sobre as cabeças dos suspeitos para evitar cuspe ou mordidas.

Os críticos que se opõem ao seu uso dizem que são angustiantes e humilhantes, podem causar pânico na pessoa detida e tornar mais difícil perceber se um prisioneiro está com dificuldade para respirar.

Um policial é visto pressionando com as duas mãos a cabeça de Prude e dizendo: "Pare de cuspir".

Depois que ele para de se contorcer e fica parado, um oficial observa: "Ele está com muito frio".

Médicos tentaram reanimá-lo antes de ele ser levado para uma ambulância. Ele foi retirado do aparelho de suporte de vida uma semana depois, em 30 de março.

O advogado da família disse que o motivo pelo qual o caso não foi tornado público mais cedo foi que levou "meses" para que as imagens policiais fossem divulgadas.

Em um comunicado, o procurador-geral do estado de Nova York classificou a morte como "tragédia" e disse que uma investigação está em andamento. Os policiais envolvidos não foram suspensos.

De acordo com um relatório de exame feito após a morte de Prude, visto pelo jornal Democrat and Chronicle de Rochester, trata-se de um homicídio causado por "complicações de asfixia em ambiente de contenção física".

O relatório também listou o PCP, uma forte droga alucinógena, como complicação.

De acordo com o jornal, a polícia de Rochester usou spray de pimenta contra os manifestantes na quarta-feira do lado de fora do prédio de Segurança Pública.

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