Parlamento do Japão elege aliado de Abe como novo primeiro-ministro

Yoshihide Suga assume liderança do país com promessas de estabilidade e poucas mudanças

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Tóquio | AFP e Reuters

O Parlamento do Japão elegeu, nesta quarta-feira (16), Yoshihide Suga como novo primeiro-ministro, na primeira troca de liderança no país em quase oito anos.

Ele foi eleito com 314 votos entre os 462 integrantes da Câmara baixa e anunciou a formação de um gabinete com poucas mudanças em relação ao governo formado por seu antecessor, Shinzo Abe.

Suga, 71, era o braço direito de Abe e atuava como chefe de gabinete e porta-voz do ex-premiê, que anunciou sua renúncia ao cargo em agosto para tratar uma doença intestinal crônica.

Yoshihide Suga (de pé) na sessão do Parlamento japonês que o elegeu primeiro-ministro - Charly Triballeau/AFP

Em eleições internas, Suga foi alçado à liderança do Partido Liberal Democrático (LDP), de orientação conservadora. Como o LDP ocupa a maioria das cadeiras no Parlamento japonês, a nomeação de Suga como novo primeiro-ministro já era esperada. Ele deve permanecer no cargo por pelo menos um ano, até o fim previsto do mandato de Abe, em setembro de 2021.

Filho de uma professora e de um agricultor que cultivava morangos no norte do Japão, Suga é graduado em direito e começou a carreira política como assessor parlamentar em Yokohama. Foi eleito membro do conselho municipal e, anos mais tarde, em 1996, tornou-se deputado pela mesma cidade.

Teve papel decisivo no retorno de Abe ao poder, em 2012, após o fracasso de seu primeiro mandato como chefe de governo em 2006 e 2007. Abe o recompensou com a nomeação ao posto estratégico de secretário-geral do governo, em que Suga assumiu o papel de coordenador de políticas entre os ministérios e as várias agências estatais, rendendo-lhe a reputação de bom estrategista.

O novo premiê deverá conduzir um governo de continuidade, preservando cerca de metade dos membros do gabinete de Abe. Permanecem em seus cargos ministros como Taro Aso (Finanças), Toshimitsu Motegi (Relações Exteriores) e Shinjiro Koizumi (Meio Ambiente).

A principal mudança se deu na pasta da Defesa, para a qual foi nomeado o irmão mais novo de Abe, Nobuo Kishi. O antecessor, Taro Kono, volta a comandar o ministério da Reforma Administrativa. Katsunobu Kato, que era ministro da Saúde, passa a ser o chefe de gabinete de Suga e seu principal porta-voz.

Há apenas duas mulheres no novo governo. Seiko Hashimoto segue como ministra da Olimpíada —neste mês, ela disse que os Jogos, adiados devido à pandemia, serão realizados "a qualquer custo" em 2021. No ministério da Justiça, a titular será Yoko Kamikawa, que também já foi ministra da Igualdade de Gênero.

As poucas mudanças nos ministérios reforçam anúncios anteriores de Suga. O novo premiê disse que seguirá as principais políticas de Abe, especialmente a estratégia de recuperação econômica batizada de Abenomics, que mescla flexibilização monetária, grande reativação do orçamento e reformas estruturais.

Ele também prometeu enfrentar as crises provocadas pelo coronavírus e outras questões de longo prazo, como o envelhecimento da população japonesa e a baixa taxa de natalidade.

Em sua primeira entrevista coletiva como premiê, Suga disse que vai implementar políticas para fortalecer alianças entre Japão e EUA, enquanto espera estabelecer relações estáveis com China e Rússia.

Nesta quarta, a Casa Branca divulgou um comunicado em que o presidente americano, Donald Trump, dá boas vindas a Suga e diz que espera trabalhar em parceria com o líder japonês.

O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, escreveu em uma rede social que espera que a nomeação de Suga leve "o relacionamento já sólido" entre Japão e Reino Unido "a novos patamares". O premiê indiano, Narendra Modi, também expressou o mesmo desejo.

Representantes da Coreia do Sul disseram que o presidente Moon Jae-in está disposto a se reunir com Suga em uma tentativa de melhorar os laços entre as duas nações, cuja relação é marcada por disputas históricas e econômicas.

De acordo com um porta-voz da Casa Azul, sede do governo sul-coreano, Moon enviou uma carta ao premiê japonês dizendo que os dois países compartilham valores fundamentais e interesses estratégicos.

O documento acrescenta que a Coreia do Sul é, geográfica e culturalmente, "o amigo mais próximo" do Japão e que o governo de Moon "planeja cooperar ativamente com o governo Suga para superar com sabedoria as questões da história passada".

A política externa será um dos grandes desafios de Suga como chefe de governo, já que ele não tem experiência diplomática nem o mesmo status internacional de Abe.

Embora o próprio premiê ainda não tenha se manifestado publicamente sobre a possibilidade de antecipar as eleições legislativas previstas para outubro de 2021, há especulações de que o novo primeiro-ministro deve convocar o pleito para tentar consolidar sua posição e evitar que seja considerado um líder interino.

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