Seis partidos no Peru buscam impeachment após presidente pedir a assessoras que mintam em inquérito

Documento apresentado ao Congresso pede destituição de Martín Vizcarra por 'incapacidade moral'

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Lima | AFP

Seis dos nove partidos com representação no Congresso peruano apresentaram, na noite desta quinta-feira (10), uma moção para destituir o presidente Martín Vizcarra por "incapacidade moral".

A crise política se agravou no país após a divulgação de áudios em que Vizcarra pede a assessoras que mintam em um inquérito parlamentar sobre sua relação com um ex-colaborador investigado por contratos irregulares.

Após a reprodução dos áudios durante uma sessão legislativa, o presidente do Congresso, Manuel Merino de Lama, convocou uma reunião com representantes dos partidos a partir da qual se decidiu pelo pedido de impeachment contra Vizcarra, assinado por 95 dos 130 parlamentares peruanos.

“Que as Forças Armadas e os cidadãos tenham a segurança de que agiremos no estrito cumprimento da ordem constitucional”, disse Merino, após convocar o Parlamento para debater a admissão do processo ainda nesta sexta-feira (11). Se Vizcarra cair, será substituído pelo próprio Merino.

Para ser admitida, a moção precisa de 52 votos favoráveis e, então, inicia-se o processo formal de votação para o impeachment em quatro dias. No entanto, se 80% do Congresso —104 parlamentares— aprovarem a admissão, a votação sobre a destituição do presidente tem início imediato e, com ao menos 87 votos, Vizcarra pode deixar a Presidência do Peru ainda nesta sexta-feira.

O presidente do Peru, Martin Vizcarra, discursa na comemoração do Dia Nacional do Peru, no fim de julho
O presidente do Peru, Martin Vizcarra, discursa na comemoração do Dia Nacional do Peru, no fim de julho - Karel Navarro - 28.jul.20/Presidência do Peru/AFP

Em um pronunciamento à nação na noite desta quinta, Vizcarra negou atos ilegais e disse ser vítima de uma conspiração parlamentar contra a democracia. O caso que pode destitui-lo do cargo, entretanto, é visto por opositores como um sinal claro de que ele não pode mais continuar na liderança do país.

"Primeiro você tem que ver o que é e, depois, o que vai ser dito", diz Vizcarra a duas de suas colaboradoras no áudio divulgado em sessão do Legislativo. Ele pede a elas que mintam ao Congresso sobre a quantidade de vezes que o ex-assessor sob investigação esteve no palácio do governo.

As interlocutoras do presidente são Miriam Morales e Karem Roca —elas dizem a Vizcarra que o suspeito foi ao local cinco vezes. "É preciso dizer que ele entrou duas vezes", pede o presidente. "O que é claro é que estamos todos envolvidos nesta investigação", acrescenta.

O pivô do episódio que levou Vizcarra à beira do impeachment é Richard Cisneros, um cantor contratado pelo governo como orador e apresentador.

O caso explodiu em maio, quando a imprensa descobriu que o Ministério da Cultura havia oferecido contratos supostamente irregulares de US$ 10 mil (R$ 53 mil) a Cisneros, um artista pouco conhecido na mídia local, em plena pandemia do novo coronavírus.

Os áudios vêm a público em meio a embates constantes entre Legislativo e Executivo por causa da votação de uma reforma política proposta pelo governo. Uma das novas regras proibiria que condenados pela Justiça disputassem cargos eletivos.

As gravações de Vizcarra foram divulgadas pelo deputado Edgar Alarcón, presidente da comissão que investiga as suspeitas de irregularidades na Cultura. "Podem ver que há uma falha moral. O presidente não pode mentir", disse ele, que pertence ao partido de centro-esquerda Unión por el Peru.

"Há rumores de que a cadeira ficará vaga", afirmou o deputado Moisés Gonzáles, da populista Aliança para o Progresso (APP). "Está claro que o presidente Vizcarra mentiu para o país", disse o deputado Omar Chehade, também da APP.

A crise irrompe enquanto o Peru é um dos países mais afetados pela Covid-19 no mundo, com mais de 700 mil infecções e 30 mil mortes.

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