Descrição de chapéu The New York Times

Progressistas derrotam projeto no Brooklyn que prometia 20 mil empregos

Acusados de fomentar gentrificação, construtores desistiram de expandir complexo

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Emma G. Fitzsimmons
Nova York | The New York Times

Estava previsto para ser um dos maiores projetos imobiliários em Nova York em anos –uma grande expansão do complexo de Industry City, na orla do Brooklyn, que poderia ter criado até 20 mil empregos, isso numa época em que o desemprego local cresceu muito devido à pandemia.

Mas, diante da oposição cerrada de democratas de esquerda, o dono do projeto cancelou na terça (22) a ampliação prevista, pondo fim ao maior conflito sobre construção na cidade desde o fracasso do projeto da Amazon no Queens em 2019 e destacando a influência crescente da esquerda na política local.

Mulher vende gelo nas ruas do Brooklyn; com a pandemia, a taxa de desemprego na cidade de Nova York chegou a 16%
Mulher vende gelo nas ruas do Brooklyn; com a pandemia, a taxa de desemprego na cidade de Nova York chegou a 16% - Spencer Platt - 21.jul.20/AFP

O projeto, que exigiria a aprovação da prefeitura para o rezoneamento urbano da área, vinha sendo descrito como uma forma de gerar empregos numa seção industrial pouco desenvolvida de Sunset Park.

Seus defensores argumentavam que a perda em massa de empregos na cidade nos últimos meses lhes dava uma razão ainda mais convincente para levar adiante os planos de criar um enorme complexo comercial e de escritórios no local. O índice de desemprego na cidade de Nova York chegou a 16% no mês passado, quase o dobro da média nacional.

Mas o vereador da área e algumas organizações comunitárias se posicionaram contra o rezoneamento, dizendo que o projeto criaria um “shopping de luxo” que agravaria a gentrificação e alegando que as estimativas do número de empregos que seriam gerados eram inflacionadas.

A proposta dividiu as autoridades democratas, e alguns líderes –incluindo o prefeito Bill de Blasio e o presidente da Câmara dos Vereadores, Corey Johnson— ficaram em cima do muro, na prática deixando que a proposta fosse cancelada por autoridades locais.

“Se um projeto como esse não consegue ser aprovado, fico muito preocupado com o futuro de Nova York, um lugar onde passei minha vida inteira”, disse o executivo-chefe de Industry City, Andrew Kimball, entrevistado na quarta-feira (23).

Líderes empresariais também expressaram sua consternação com a derrota do rezoneamento. Kathryn Wylde, presidente da Partnership for New York City, organização empresarial influente, questionou como é possível que políticos eleitos abram mão da geração de milhares de empregos quando quase 1 milhão de nova-iorquinos estão desempregos.

“Os adversários de Industry City prejudicaram ainda mais as perspectivas de recuperação econômica da Covid-19”, disse ela em um comunicado.

Mas a ala progressista do Partido Democrata encarou o projeto como um favor às grandes empresas e algo que poderia levar à expulsão de moradores de Sunset Park, bairro de classe trabalhadora e etnicamente diversificado na orla do Brooklyn.

“O poder do povo triunfou”, escreveu no Twitter o vereador Carlos Menchaca, que era contra o projeto. “Nosso trabalho continua, e a voz da comunidade impulsiona o crescimento e o futuro de nosso bairro.”

Normalmente bastaria a oposição de Menchaca para derrotar o plano; extraoficialmente, os membros da Câmara Municipal têm o poder de vetar qualquer rezoneamento em seus distritos.

Mas a Câmara estudava a possibilidade de proceder ao rezoneamento, passando por cima das objeções de Menchaca, e havia realizado uma audiência neste mês sobre a proposta. A comissão de planejamento da cidade votou a favor do rezoneamento no mês passado.

Os responsáveis pelo projeto decidiram revogar o pedido de realização do mesmo na terça-feira, depois de outros políticos eleitos terem se manifestado contra o plano.

O prefeito democrata Bill de Blasio, que deixará o cargo em 2021, apoiou o projeto da Amazon, mas se negou a tomar posição em relação a Industry City. Ele disse na quarta-feira que outras propostas de rezoneamento estão seguindo adiante e que ele respaldará aqueles que beneficiam a população.

O prefeito disse que administrações anteriores aprovaram tratos em condições injustas que beneficiaram excessivamente as construtoras e levaram a população a encarar novos projetos com ceticismo.

Corey Johnson, o presidente da Câmara e candidato a prefeito, disse na quarta-feira que não cabe a ele passar por cima das lideranças locais no Brooklyn. “Se você não consegue convencer os líderes eleitos locais, isso já é um indicativo do rumo que as coisas vão seguir”, disse ele.

Complexo industrial construído na década de 1890, Industry City ganhou uma descrição nova, sendo apresentada como centro de pequenas empresas e artistas do século 21, e seus donos queriam expandir o local com novos espaços comerciais e de escritórios.

Em 2013, a Jamestown, construtora que é dona do Chelsea Market, e suas sócias, as firmas de investimento Belvedere Capital e Angelo Gordon, compraram uma participação de quase 50% no complexo de 16 edifícios. A Jamestown renovou os edifícios, inundados durante a passagem do furacão Sandy.

O complexo cresceu e passou a incluir mais de 500 estabelecimentos, como uma praça de alimentação, uma produtora de cinema e um centro de treinamento do time de basquete Brooklyn Nets.

Com o rezoneamento previsto, os construtores queriam ampliá-lo ainda mais, incluindo o acréscimo de espaço adicional para escritórios, lojas varejistas, empresas manufatureiras, estúdios de arte, instituições acadêmicas e estacionamentos.

Um plano de incluir a construção de hotéis foi abandonado para tentar ganhar a adesão dos políticos.

A proposta de rezoneamento da área topou com a oposição acirrada de um punhado de organizações comunitárias, mais notavelmente o grupo de justiça ambiental Uprose e a entidade Protect Sunset Park.

A oposição de base ajudou a conquistar a adesão dos políticos locais eleitos, incluindo os deputados Nydia Velázquez, Jerrold Nadler, Yvette Clarke e Hakeem Jeffries, que enviaram uma carta à Câmara Municipal expressando oposição ao rezoneamento e pedindo que dessem ouvidos aos moradores.

“O que a comunidade de Sunset Park deixou claro é que rezonear uma parte tão grande da orla em benefício de uma única entidade privada não atende aos interesses dos moradores”, disse a carta.

Andrew Kimball, o líder de Industry City, disse que procurou responder a algumas das mesmas preocupações que levaram ao cancelamento do projeto da Amazon e que respeitou o complexo processo de revisão do solo urbano da cidade. Mesmo assim, houve resistência a um projeto “que qualquer pessoa razoável diria que é um projeto extraordinário”.

Segundo ele, dois fatores contribuíram para a decisão de desistir do projeto: a falta de liderança política e o receio de que uma batalha acirrada pudesse prejudicar a reputação dos responsáveis pelo projeto, que alugaram 28 mil m2 de espaço comercial em Industry City desde o início da pandemia. “Não podemos deixar que isso seja prejudicado por uma briga política que carece de fundamento”, disse Kimball.

Críticos do projeto questionaram a cifra de 20 mil empregos. Kimball disse que há no momento 8.000 empregos no complexo e que o rezoneamento permitiria a criação de outros 7.000 no local. A previsão era que outros 8.000 empregos seriam gerados na comunidade em volta.

Líderes empresariais já expressaram frustração com a resposta de De Blasio à pandemia e estão fazendo pressão para o prefeito responder a questões ligadas ao crime, moradores de rua e lixo. Os empresários vêm procurando uma maneira de influir sobre a corrida para substituir o democrata em 2021.

A ex-vice-prefeita Alicia Glen, que negociou o acordo da Amazon em nome da administração De Blasio, se disse desapontada com a oposição ao projeto. Para ela, a cidade precisa crescer e criar mais empregos para gerar impostos e assim gerar mais oportunidades para seus moradores de baixa renda.

“Muita gente anda aderindo ao movimento antidesenvolvimentista, sem diferenciar entre desenvolvimento positivo e desenvolvimento negativo”, disse ela.

Tradução de Clara Allain

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