Protestos antirracismo retomam força nos EUA após decisão da Justiça no caso Breonna Taylor

Dois agentes foram baleados nos atos contra morte de paramédica negra durante operação policial

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Louisville (EUA) | AFP e Reuters

Milhares de pessoas foram às ruas em várias cidades dos EUA na noite desta quarta (23) protestar contra a decisão da Justiça de processar somente um dos três policiais envolvidos na morte de Breonna Taylor.

Multidões de diferentes tamanhos se reuniram em Nova York, Washington, Atlanta, Chicago, Denver, Los Angeles, Oakland, Filadélfia, Seattle e Portland. Nessa última, ativistas atacaram um prédio da polícia e foram dispersados com bombas de gás.

Em Louisville, no estado do Kentucky, cidade de Breonna, milhares de pessoas protestaram, e dois policiais foram baleados em meio aos atos. Paramédica negra, Breonna foi morta aos 26 anos no corredor de seu apartamento durante uma operação policial de combate ao tráfico de drogas.

O caso ocorreu em 13 de março, e sua morte gerou grandes manifestações desde então.

Manifestantes protestam contra a violência policial em Los Angeles, na noite de quarta (23) - Apu Gomes/AFP

Uma decisão do júri, anunciada nesta quarta, definiu que os três policiais envolvidos na ação não serão processados pela morte de Breonna. Um deles, Brett Hankison, foi indiciado sob a acusação de expor cidadãos a risco injustificado, pois atirou contra uma janela e uma porta que estavam fechadas.

Ele foi demitido da polícia e chegou a ser preso, mas pagou fiança no valor de US$ 15 mil (R$ 82,5 mil) e deve aguardar o julgamento em liberdade.

O anúncio revoltou ativistas antirracismo, que consideram o caso de Breonna um símbolo da luta pelo fim da violência policial e exigem punições duras aos responsáveis pela morte.

"Nada parece mostrar que Breonna importava", disse Ben Crump, ativista dos direitos civis e advogado dos Taylor e de outras famílias de vítimas da violência policial nos EUA, como George Floyd. ​

O vídeo abaixo mostra cenas do protesto em Denver, onde um carro avançou sobre manifestantes.

Logo após a decisão ser divulgada, ativistas saíram às ruas de Louisville, e forças policiais foram acionadas. De acordo com o chefe interino da polícia, 127 pessoas foram presas.

Ainda que os atos tenham sido, em sua maioria, pacíficos, no bairro de Highlands, no limite do centro da cidade, diversos manifestantes jogaram garrafas de água em policiais, que revidaram com bombas de gás. Seguiram-se brigas, e algumas vitrines de lojas foram quebradas.

O município decretou estado de emergência e toque de recolher a partir das 21h. Nos atos, dois guardas foram feridos a tiros, mas não correm risco de morte. Um suspeito de efetuar os disparos foi preso.

No Twitter, o presidente Donald Trump disse que está rezando pelos agentes baleados e que seu governo prepara uma ajuda ao governador do Kentucky, o democrata Andy Beshear, caso seja necessário. Ao longo dos últimos meses, Trump tem marcado posição contra as manifestações, classificando ativistas como bandidos e advogando uma resposta baseada em uma política de "lei e ordem".

Os protestos devem continuar na noite desta quinta. "Nesta noite, espero que mais pessoas saiam às ruas. A expectativa é a de que a polícia continue a hostilizar e a provocar. Esperamos e oramos para que ninguém se machuque", disse Timothy Findley Jr., pastor e líder de um movimento social em Louisville.

Entenda o caso

Breonna foi baleada cinco vezes no corredor de seu apartamento por policiais que executavam um mandado de busca em uma investigação relacionada a tráfico de drogas.

Os policiais que arrombaram a porta do apartamento da jovem negra logo após a meia-noite de 13 de março tinham um mandado de busca e apreensão. Inicialmente, eles tinham aval da Justiça para entrar no local sem aviso prévio. Antes de a ação começar, porém, o tipo de mandado foi alterado, e assim os policiais eram obrigados a bater na porta e se identificarem antes de entrar.

A operação fazia parte de um caso que envolve o ex-namorado da jovem, Jamarcus Glover, acusado de comandar uma rede de tráfico de drogas. Em outros endereços revistados, policiais encontraram uma mesa coberta de drogas embaladas para venda, incluindo um saco contendo cocaína e fentanil.

A investigação que levou os policiais à casa de Breonna incluiu um rastreador GPS, que apontou repetidas idas de Glover ao apartamento dela; fotos dele saindo do apartamento com um pacote nas mãos; filmagem mostrando Breonna em um carro com Glover em uma das "bocas" que ele operava; e o uso do endereço dela em registros bancários e em outros documentos.

Na noite da operação, Breonna estava no apartamento com seu namorado, Kenneth Walker. Ele disse que os dois não sabiam quem estava à porta. Apenas um vizinho, entre quase uma dúzia, relatou ter ouvido os policiais gritarem "polícia" antes de entrar.

Como os policiais não atiraram primeiro —foi o namorado de Breonna que abriu fogo; ele disse que confundiu a polícia com intrusos—, juristas achavam improvável que os oficiais fossem indiciados.

Dois agentes, o sargento Jon Mattingly e o detetive Myles Cosgrove, reagiram aos tiros na direção do namorado de Breonna, de acordo com documentos internos. Ela foi morta com cinco tiros.

No caos que se seguiu, o agente Mattingly foi baleado, com ferimento na artéria femoral, e os outros agentes se esforçaram para arrastá-lo para fora do apartamento e aplicar um torniquete em sua perna.

O nome e a imagem de Breonna se tornaram parte de um movimento nacional contra a injustiça racial, com celebridades escrevendo cartas abertas e erguendo outdoors com mensagens para exigir que os policiais brancos sejam acusados criminalmente pela morte.

A mãe de Breonna processou a prefeitura de Louisville por homicídio culposo e recebeu US$ 12 milhões (R$ 63 milhões) em um acordo fechado na semana passada.

Ela e seus advogados, no entanto, insistiram que só aceitariam acusações de homicídio contra os três policiais, demanda aprovada por milhares de manifestantes em Kentucky e em todo o país.

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