Secretário de Estado americano não falou em tirar Maduro do poder na Venezuela

Profissional contratado pela representação diplomática errou tradução de frase de Mike Pompeo

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São Paulo

Um profissional contratado pela embaixada dos EUA no Brasil cometeu um erro durante a tradução simultânea da entrevista coletiva concedida pelo secretário de Estado americano, Mike Pompeo, na última sexta-feira (18), em Boa Vista, em Roraima.

Pompeo se reuniu com Ernesto Araújo, ministro das Relações Exteriores do Brasil, como parte de uma agenda de visitas a quatro países da América do Sul.

A Folha, assim como outros veículos, reproduziu o erro a partir da tradução feita pelo profissional, segundo o qual o secretário teria dito que tiraria do poder o ditador Nicolás Maduro. Pompeo fez duras críticas ao líder venezuelano, mas não disse a frase "Vamos tirá-lo [Maduro] de lá".

O secretário de Estado americano, Mike Pompeo (à esq.), e o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Ernesto Araújo, durante entrevista coletiva em Boa Vista, Roraima - Bruno Mancinelle/IOM - 18.set.20/Reuters

Textos da Folha que citavam a suposta afirmação foram corrigidos. Durante a entrevista coletiva, Pompeo foi questionado por um jornalista se Maduro cairia "em algum momento no futuro próximo".

Um trecho da resposta foi então incorretamente traduzido para o português como "o nosso mundo está consistente. E a gente vai tirar essa pessoa e vai colocar no lugar certo".

A tradução correta, a partir da transcrição publicada no site do Departamento de Estado americano e do áudio gravado pelo repórter do jornal que acompanhou a entrevista coletiva, é: "Nossa vontade é coerente, nosso trabalho será incansável e chegaremos ao lugar certo". No original, em inglês, a frase de Pompeo foi: "Our will is consistent, our work will be tireless, and we will get to the right place".

A Folha também checou o áudio com a tradução feita pelo profissional contratado pela embaixada americana e confirmou o erro na adaptação da fala do secretário para o português.

​Durante a entrevista, Pompeo e Ernesto anunciaram ainda que Brasil e EUA não vão mudar de estratégia e continuam apoiando o autodeclarado presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó, líder que tem perdido relevância na oposição ao regime socialista.

Para o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), a visita de Pompeo é um sinal de que seu governo está alinhado com o de Donald Trump "em busca de um bem comum".

A presença do americano, entretanto, despertou reações contrárias de outros políticos brasileiros. O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), classificou a visita como uma "afronta às tradições de autonomia e altivez" da política externa brasileira.

O ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva também expressou indignação com a visita. Para Lula, a atitude do chanceler brasileiro "foi um desrespeito frontal à soberania do Brasil" por "dar palco a descabidas declarações belicistas sobre a Venezuela".

Nesta segunda-feira (21), a Comissão de Relações Exteriores do Senado (CRE) aprovou um convite a Ernesto para que ele preste esclarecimentos aos senadores sobre a visita de Pompeo. Até a tarde desta segunda, o Itamaraty não respondeu à Folha se o ministro irá ou não ao colegiado.

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