Socorro alemão a refugiados da ilha de Lesbos reabre debate sobre imigração na Europa

Alemanha pretende receber famílias que já tenham obtido status de refugiadas na Grécia; incêndio em campo deixou milhares de desabrigados

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Bruxelas

A notícia de que o governo alemão planeja receber 1.500 imigrantes que estão na ilha grega de Lesbos antecipou a discussão sobre políticas de imigração na União Europeia.

A Comissão Europeia (Poder Executivo da UE) decidiu antecipar para a próxima semana a apresentação de uma nova proposta de política de imigração e asilo para o bloco, que reúne 27 países.

Os planos patinam desde 2015, quando mais de 2 milhões de pessoas entraram no continente fugindo de conflitos em seus países.

Parte deles acabou bloqueado em ilhas gregas, como Lesbos, onde um incêndio destruiu quase todo o campo de Moria, na última quarta (9).

Maior campo da UE, Moria abrigava o quádruplo de sua capacidade: eram mais de 13 mil imigrantes, dos quais 4.000 crianças. A maioria está dormindo ao relento desde que o local foi queimado.

Em resposta à proposta alemã, a Grécia prometeu tirar todos os refugiados de Lesbos e transferi-los para o continente até o começo de abril de 2021.

O ministro da Proteção Civil, Michalis Chrysochoidis, disse ao jornal britânico The Guardian que os planos serão acelerados, com metade das transferências até o Natal, e a outra metade, “até a Páscoa”, que no ano que vem será em 4 de abril.

Segundo o governo grego, o incêndio em Moria foi causado pelos imigrantes, em protesto contra a quarentena imposta para impedir a transmissão de coronavírus. Há vários anos, organizações de direitos humanos denunciam as más condições de Moria.

A nova oferta de receber imigrantes, negociada pela chanceler alemã, Angela Merkel, e pelo ministro do Interior, Horst Seehofe, soma-se à promessa feita na semana passada de receber até 150 menores de idade desacompanhados.

A ideia agora é trazer cerca de 400 famílias com filhos, segundo a mídia do país. A agência alemã DPA afirmou que a proposta já foi discutida com o governo grego, e a Alemanha receberá imigrantes reconhecidos como refugiados na Grécia.

Segundo o Ministério da Proteção Civil da Grécia, cerca de 70% dos requerentes de asilo de Lesbos são afegãos, que devem receber o status de refugiados, o que lhes permite mudar para outros países da União Europeia.

Merkel ainda precisa, porém, da aprovação dos sociais-democratas (SPD), que integram a coalizão governista e defendem que o país eleve sua oferta para ao menos 5.000 imigrantes.

A Grécia abriga mais de 30 mil estrangeiros em campos em diversas ilhas e no continente.

No ano passado, quase 60 cidades alemãs já haviam proposto receber imigrantes de Lesbos, mas o governo federal barrou as viagens. Merkel defendeu que, em vez disso, a UE deveria elevar a ajuda à Grécia.

A iniciativa alemã deve reanimar o debate sobre a política de imigração na União Europeia que irrompeu em 2015.

Naquele ano, Merkel abriu o país para cerca de 1 milhão de pessoas que fugiam de conflitos na Síria, no Afeganistão e em outros países da Ásia e da África, decisão que lhe tirou popularidade e permitiu o avanço do partido de ultradireita AfD.

Na mesma época, governos europeus como os da Hungria e da Polônia se recusaram a acolher imigrantes, provocando o impasse na política comum do bloco para a área.

Nesta semana, Merkel insistiu que uma ação da Alemanha precisa ser acompanhada por uma iniciativa europeia mais ampla. Até esta terça, porém, apenas Luxemburgo havia aderido a uma solução pan-europeia para a crise em Moria.

Alguns chegaram a rejeitar expressamente a ideia, como a Áustria: “Se cedermos a essa pressão agora, corremos o risco de cometer o mesmo erro que cometemos em 2015”, disse o primeiro-ministro, Sebastian Kurz.

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