Cinquenta dias antes da eleição americana, a Folha começou a publicar a série de reportagens “50 estados, 50 problemas”, que se debruça sobre questões estruturais dos EUA e presentes na campanha eleitoral que decidirá se Donald Trump continua na Casa Branca ou se entrega a Presidência a Joe Biden.
Até 3 de novembro, dia da votação, os 50 estados do país serão o ponto de partida para analisar com que problemas o próximo —ou o mesmo— líder americano terá de lidar.
Com uma taxa de criminalidade muito abaixo da média nacional, o Maine parece ser um dos poucos estados em que os discursos dos dois principais candidatos à Presidência dos EUA sobre o combate à violência no país não encontram muita repercussão entre os eleitores.
De acordo com os números do FBI, a polícia federal americana, o Maine é o estado com menor índice de crimes violentos —entram nessa categoria assassinatos, estupros, roubos e agressões agravadas.
São 115,2 registros a cada 100 mil habitantes, enquanto a média no país é de 379,4.
Em todo o ano de 2019, houve um total de 20 assassinatos no Maine, número que deixa o estado também com a menor taxa de homicídios (1,5 a cada 100 mil pessoas).
Para comparação, o Distrito de Columbia, que sedia a capital americana e tem os piores índices nessa categoria, tem taxa de homicídios quase 15 vezes maior (23,5). No total de crimes violentos, são 1.049 casos a cada 100 mil habitantes —quase dez vezes o índice do Maine.
Na disputa pela Casa Branca, Donald Trump e Joe Biden adotam discursos diferentes sobre como lidar com a violência nos EUA, mas têm em comum a estratégia de tentar invalidar as posições um do outro.
"Talvez ele ache que pronunciar as palavras 'lei e ordem' o faça mais forte. Alguém acredita que haverá menos violência se Donald Trump for reeleito? Vocês realmente se sentem mais seguros sob Trump?", questionou Biden, em agosto, durante um evento de campanha em Pittsburgh, na Pensilvânia.
O republicano, por sua vez, tem reforçado o discurso de que, se Biden e os democratas estiverem no poder, os EUA devem mergulhar em episódios crescentes de violência.
"Por décadas, os políticos que comandam muitas das principais cidades de nosso país colocaram os interesses dos criminosos acima dos direitos dos cidadãos cumpridores da lei", disse o presidente, em um discurso na Casa Branca, em julho.
"Esses mesmos políticos agora abraçaram o movimento de extrema esquerda para quebrar nossos departamentos de polícia, causando uma espiral de crimes violentos em suas cidades —e quero dizer uma espiral seriamente fora de controle."
Na ocasião, Trump anunciava o envio de tropas federais a cidades que eram palco de protestos contra o racismo e a violência policial desde o assassinato de George Floyd, no final de maio. Mas o presidente deixou claro, entretanto, que a estratégia de seu governo para combater a criminalidade é a força.
"Jamais vamos cortar o financiamento da polícia. Contrataremos mais ótimos policiais. Queremos tornar a aplicação da lei mais forte, não mais fraca." Em uma rede social, o republicano chegou a afirmar que "a única maneira de acabar com a violência nas cidades geridas pelos democratas é por meio da força".
A campanha de Biden, por sua vez, parece focar mudanças no longo prazo. Em vez de aumentar a repressão à criminalidade, o democrata propõe formas de tentar preveni-la com investimentos em programas de educação, assistência social e redução do acesso a armas.
Pesquisas indicam que o discurso de Biden está sendo um pouco mais bem acolhido pelos eleitores.
Segundo levantamento do Pew Research Center, 49% dos americanos afirmam acreditar na efetividade do democrata para lidar com questões de aplicação da lei e de justiça criminal. O índice de confiança em Trump nesse aspecto é de 45%.
O instituto entrevistou 11.929 americanos entre os dias 30 de setembro e 5 de outubro. A margem de erro da pesquisa é de 1,5%.
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