Bolivianos estocam alimentos por medo de distúrbios nas eleições presidenciais

País escolhe novo mandatário neste domingo (18) para tentar encerrar impasse que persiste há um ano

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La Paz

A possibilidade de que ocorram distúrbios sociais após o fechamento das urnas neste domingo (18) levou muitos bolivianos a comprarem alimentos em quantidades extras e abastecerem seus veículos de combustível nos últimos dias. O país escolhe seu novo presidente neste fim de semana.

Na noite de sexta (16), no bairro de classe média de Socopachi, em La Paz, havia filas de carros em vários postos. Embora não haja relatos de desabastecimento até o momento, houve aglomeração por conta da alta procura. “Estou [aqui] há uma hora, tentei em outras duas estações da zona sul, mas aqui a fila está menor”, relatou Andrés Otoquendo, 42.

Pessoas com sacolas de alimentos em mercado de La Paz
Pessoas com sacolas de alimentos em mercado de La Paz - David Mercado 17.out.2020/Reuters

Em mercados de comida na região central, também havia grande busca de produtos. “Nas últimas eleições tem sido assim, as pessoas sabem que o comércio pode fechar, ou por causa da confusão, ou porque os próprios comerciantes têm medo de que possa haver violência. Então é melhor se preparar”, diz Catalina Rubiño, 54, dona de uma mercearia.

O governo tomou precauções para que as eleições ocorram de forma pacífica. Há restrição de mobilidade no dia da votação —não há transporte público, e veículos particulares só podem circular com permissão ou se forem de serviços de saúde, de observadores internacionais ou de jornalistas. Além disso, haverá toque de recolher neste sábado a partir das 16h. A venda de bebidas alcoólicas está proibida desde sexta.

Houve confusão no aeroporto de El Alto em torno de uma comitiva de observadores argentinos convidados pelo MAS —o Movimento ao Socialismo, partido do ex-presidente Evo Morales— e impedidos de entrar no país. Embora a eleição tenha uma delegação internacional já designada, formada pela OEA (Organização dos Estados Americanos), o Centro Carter, a União Europeia e as Nações Unidas, o MAS convidou figuras políticas latino-americanas para que façam parte da fiscalização do processo.

O partido havia convidado a vice-presidente argentina, Cristina Kirchner, que recusou, mas mandou dois senadores, Leonardo Grosso e Federico Fagioli. Eles foram inicialmente detidos ao tentar entrar no país, mas em seguida puderam ingressar.

O ministro de Governo da Bolívia, Arturo Murillo, disse que pessoas que “entram no país sob a suposta justificativa de que vão observar as eleições, mas estão atuando para ajudar o MAS, serão deportadas imediatamente”.

A relação do atual governo boliviano com o argentino é ruim. O presidente da Argentina, Alberto Fernández, não reconhece o governo interino de Jeanine Añez, e ela critica a Argentina por abrigar Evo em seu território. O ex-presidente boliviano, por sua vez, afirmou que, se o candidato do MAS, Luis Arce, vencer no primeiro turno, ele voltará à Bolívia já na segunda-feira (19).

O ex-presidente do Paraguai Fernando Lugo, que está na Bolívia como observador internacional, disse à Folha que, pelo que pôde observar, o pleito "tem tudo para que os resultados sejam confiáveis".

Ele, porém, apontou três vulnerabilidades do processo. A ameaça do ministro Murillo a observadores internacionais de esquerda, que "vai contra o bom andamento democrático da eleição", o sistema de contagem rápida, que, segundo o ex-líder paraguaio, precisa ser chancelado pela apuração voto a voto, e o transporte das atas de votação de modo exclusivo pelo Exército e pela polícia.

Também está em La Paz para acompanhar a eleição a presidente do PT, Gleisi Hoffmann. "Nós aqui temos um lado, queremos que Arce ganhe, vai ser bom para a região e para conter o avanço da direita."

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