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China critica nova venda de armas dos Estados Unidos para Taiwan

Washington vai fornecer drones, mísseis e sensores que visam dificultar invasão da ilha

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São Paulo

Em mais uma provocação direta em um dos temas mais sensíveis da política externa chinesa, sua relação com Taiwan, os EUA anunciaram que vão vender uma nova rodada de armamentos para a ilha que Pequim considera sua.

"A venda tem de ser cancelada, e os laços militares, rompidos", afirmou o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês, Zhao Lijian.

Militares americanos armam drone Reaper, que os EUA querem vender a Taiwan, no Afeganistão
Militares americanos armam drone Reaper, que os EUA querem vender a Taiwan, no Afeganistão - Josh Smith - 9.mar.2016/Reuters

Nenhuma das duas coisas vai acontecer, como Pequim sabe, mas o tom de confronto está estabelecido.

A venda foi notificada pela Casa Branca ao Congresso, que precisa autorizá-la, na terça (13). É um verdadeiro kit contra uma invasão anfíbia, o grande temor de Taipé e a ameaça constante de Pequim.

Por US$ 2,2 bilhões (R$ 12,3 bilhões no câmbio desta quarta), os EUA fornecerão drones de vigilância e ataque MQ-9 Reaper, mísseis antinavio Harpoon, lançadores de foguetes e sensores eletrônicos para serem usados na frota de caças F-16 da ilha.

O objetivo desse tipo de armamento é interditar o estreito de Taiwan, a separação com largura média de 180 km entre a ilha e a China continental.

Pequim defende a absorção de Taiwan pacificamente, mas treina para fazê-lo à força com frequência. A ilha sediou o governo derrotado pelos comunistas em 1949.

O truque de sobrevivência de Taipé é duplo. Primeiro, busca armar-se até os dentes para, no mínimo, vender caro uma invasão. Segundo, conta com o apoio norte-americano em caso de ataque, embora a maioria dos analistas militares considere a hipótese remota na prática.

Ele está implícito no Ato de Relações com Taiwan, de 1979. Ele foi um instrumento do governo de Jimmy Carter que buscou aplacar a reação negativa no Congresso ao estabelecimento de relações diplomáticas com a China.

Negociado desde o início daquela década, o reconhecimento da China comunista implicou jogar Taiwan num limbo diplomático. Assim, os EUA admitiram implicitamente a política de Pequim de considerar tudo uma só nação, mas também forneceram proteção militar e armamentos à ilha.

Com a Guerra Fria 2.0 estabelecida por Donald Trump, a questão voltou a ser exacerbada. A disputa de Washington com os chineses inclui um pouco de tudo, de relações comerciais ao novo coronavírus, passando pelas redes de 5G no mundo e a repressão em Hong Kong.

Os EUA buscam turbinar uma aliança anti-China com Japão, Austrália e Índia, no chamado grupo Quad. Mesmo que Trump perca as eleições em novembro, a expectativa é a de que o democrata Joe Biden mantenha uma política dura com Pequim.

E Taiwan é um ponto especialmente nevrálgico, justamente por sua história e pelo que significa para o Partido Comunista Chinês. Desde agosto, Washington enviou duas altas autoridades para a ilha, levando os chineses a ameaçarem militarmente Taipé, enviando aviões e navios em atitudes de confronto no estreito.

Isso elevou uma tensão militar já evidente no mar do Sul da China, que Pequim diz ser 85% seu, algo que os americanos afirmam ser ilegal. Se lá o risco é de um confronto acidental entre chineses e americanos ou aliados, no estreito a questão é ainda mais séria.

Houve um aumento brutal na atividade militar em toda a região ao longo deste ano, o que trouxe problema práticos para os taiwaneses.

Segundo divulgou o Ministério da Defesa em setembro, o país já havia gasto US$ 1 bilhão (R$ 5,6 bilhões) no ano só para mobilizar caças para interceptar aviões chineses perto de seu espaço aéreo.

O país vive de sua indústria de alta tecnologia e tem feito muitas compras militares dos americanos. De 2017 para cá, foram US$ 15 bilhões (R$ 84 bilhões) gastos, pouco mais do total dispendido na década anterior a esse período.

Há ainda um megacontrato sendo negociado que pode custar até US$ 62 bilhões (R$ 347 bilhões) em dez anos com a compra de novos F-16.

O orçamento de defesa para 2021 recebeu um aumento de 10% e chegou a recordistas US$ 15 bilhões, ainda uma fração (menos de 10%) do que a China gasta. Os EUA são líderes incontestes no mundo, deixando Pequim em segundo lugar, com uma despesa quase quatro vezes maior.

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