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Em livro, Biden ataca Putin e mostra proximidade com Ucrânia, sem citar caso de Hunter

'Promessa de Pai' detalha fim do mandato como vice-presidente e batalha de seu filho contra o câncer

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São Paulo

Joe Biden costuma levar a família para passar o feriado de Ação de Graças na ilha de Nuntucket, em um momento para curtir com os filhos e netos. Mas, em meio ao isolamento, costumava telefonar para líderes estrangeiros. Em 2014, depois do jantar, o então vice-presidente dos EUA foi a uma sala protegida e ligou para o então presidente ucraniano, Petro Poroshenko.

A relação próxima com líderes da Ucrânia aparece ao longo de todo o livro “Promessa de Pai”, no qual Biden faz um relato em primeira pessoa de seus anos finais como vice-presidente dos EUA. No período, ele esteve ao lado do filho Beau durante o tratamento de um câncer agressivo no cérebro, teve de decidir se disputaria a Presidência em 2016 e tentou resolver crises internacionais.

Joe Biden, ao lado do filho Beau, em foto de agosto de 2008 - Paul J. Richards/AFP

A Ucrânia foi uma delas. Em 2013, o presidente Viktor Yanukovich desistiu de um acordo para entrar na União Europeia. A medida gerou fortes protestos, e Yanukovich foi deposto no começo de 2014. Em seguida, a Rússia, contrária à aproximação do vizinho com a UE, anexou uma parte da Ucrânia, a Crimeia, e fomentou movimentos separatistas em outras regiões, gerando uma guerra civil.

Biden conta que buscou ajudar o governo ucraniano, chefiado depois por Poroshenko, a manter o apoio da União Europeia e a resistir às pressões de Vladimir Putin, ao qual faz várias críticas. Em uma reunião, ele afirma ter dito ao líder russo: "Estou olhando nos seus olhos. E não creio que você tenha uma alma".

O democrata tentou repetir com a crise da Ucrânia uma estratégia dos anos Obama: não se envolver abertamente em guerras no exterior, mas dar ajudas pontuais, como fornecer treinamento e equipamentos, desde que os aliados cooperassem com o que Washington pedia.

O livro, no entanto, não cita em nenhum momento as atividades de Hunter, filho de Biden, na Ucrânia. Lá, ele foi conselheiro na empresa de gás Burisma entre 2014 e 2019. Não há provas de irregularidades, mas o fato de o filho do vice-presidente ganhar dinheiro em um país cujo governo dependia muito das ações de seu pai gerou desconfiança.

Em 2019, o presidente Donald Trump foi flagrado em uma ligação tentando forçar o presidente da Ucrânia a retomar investigações contra Hunter Biden. O caso motivou a abertura de um processo de impeachment contra o presidente, que foi inocentado pelo Senado.

Além da Ucrânia, Biden conta no livro como ajudou o Iraque a retomar cidades controladas pelo Estado Islâmico e como buscou convencer presidentes da América Central a conter a saída de imigrantes rumo aos EUA. Ambas as questões não foram resolvidas por completo na gestão Obama, mas Trump manteve estratégias parecidas em seu mandato.

Bem amarrado, o relato alterna os momentos de trabalho com os de família, com mais ênfase na vida doméstica. Enquanto narra os altos e baixos do tratamento de Beau, que adoeceu por volta dos 40 anos, Biden relembra como criou os filhos, que perderam a mãe quando crianças, e como faz para lidar com o luto.

Ele tenta se mostrar um homem comum, religioso e amoroso, que coloca a família acima de tudo. E que não enriqueceu na política, mesmo atuando como senador desde 1973. Em dado momento, diz ter falado com Obama que temia faltar dinheiro para o filho doente.

Ao mesmo tempo, as benesses do cargo são narradas como algo banal, como poder levar a neta em viagens internacionais, a bordo do avião Força Aérea 2, para apresentar lugares históricos a ela entre uma e outra reunião de trabalho.

Biden se compara indiretamente a Trump. Diz entender as dores da classe média trabalhadora e ser espontâneo, o que o faria ganhar pontos em temas que o republicano navega com facilidade. Por outro lado, enfatiza seu lado conciliador, com bom trânsito entre grupos em conflito, como o movimento antirracismo e as forças policiais.

Apesar de se achar com boas chances, Biden conta que desistiu do pleito em 2016 por ainda não ter superado a perda do filho —e por temer que isso fosse usado contra ele na campanha.

O relato vai até 2017, no início da gestão Trump. A promessa que dá título ao livro foi feita a Beau: Biden ficaria bem e seguiria atrás de seus propósitos, mesmo convivendo com a dor. Se ele for eleito presidente, certamente dirá que cumpriu o prometido.

Promessa de Pai

  • Preço R$ 39,90 (256 págs.)
  • Autoria Joe Biden
  • Editora Intrínseca
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