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Evo planeja voltar à Bolívia um dia após posse de aliado como presidente

Justiça anulou ordem de prisão contra ex-presidente, abrindo caminho para retorno

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Márcio Resende
Buenos Aires | RFI

O ex-presidente boliviano Evo Morales anunciou que possivelmente retornará à Bolívia em 9 de novembro, um dia após a posse do presidente eleito, Luis Arce, e dois dias antes de completar um ano desde que deixou o país.

Aliados preparam um roteiro de comemorações para a volta, que aconteceria na véspera do aniversário de um ano daquele 10 de novembro de 2019, quando o então presidente renunciou ao cargo, após governar por quase 14 anos.

Evo Morales durante entrevista coletiva em Buenos Aires, na Argentina, um dia após eleições na Bolívia
Evo Morales durante entrevista coletiva em Buenos Aires, na Argentina, um dia após eleições na Bolívia - Agustin Marcarian - 19.out.20/Reuters

A declaração aconteceu na noite da terça-feira (27) durante um programa partidário da ala kirchnerista "Frente de Todos", integrante da coligação do governo argentino, em homenagem aos 10 anos da morte do ex-presidente Néstor Kirchner (2003-2007), de quem Evo era aliado.

"Estamos debatendo [o regresso]", disse Evo, antecipando que a rota será por terra, cruzando a fronteira da cidade mais ao norte da Argentina, La Quiaca, em direção à cidade boliviana de Villazón.

O ex-mandatário deixou o poder pressionado por uma convulsão social, motivada por denúncias de fraude eleitoral, quando tentava um quarto mandato consecutivo —mesmo depois de um plebiscito negar-lhe essa possibilidade.

No dia seguinte, 11 de novembro, o líder indígena viajou primeiro ao México e, um mês depois, à Argentina, onde se refugiou e de onde coordenou a campanha de seu candidato. Desde a vitória de Arce, ele tem dito que voltará à Bolívia "cedo ou tarde".

"O povo boliviano não abandonou a revolução democrática popular e também não me abandonou", afirmou Evo, indicando que a vitória do seu candidato foi um voto nele.

O boliviano revelou ainda que o presidente argentino, Alberto Fernández, propôs levá-lo de avião quando viajar para participar da cerimônia de posse de Arce em La Paz, no próximo dia 8 de novembro.

"Agradeço a solidariedade do irmão presidente Alberto Fernández que, no jantar que tivemos da terça-feira (20) à noite, propôs me levar até a Bolívia", contou.

A chanceler Karen Longaric, do governo da presidente interina da Bolívia, Jeanine Añez, informou que Evo será convidado para a posse do seu afilhado político.

"Vamos convidar todos os ex-presidentes. Vamos convidar o ex-presidente Evo Morales sem nenhum tipo de discriminação de caráter político. Este será um ato democrático, constitucional", afirmou Longaric.

A presença de Evo, no entanto, poderia ofuscar o protagonismo de Arce. A entrada pelo sul da Bolívia até o seu reduto eleitoral, a província de Chapare, ao norte de Cochabamba, daria tom épico a uma volta triunfal.

O senador eleito Andrónico Rodríguez, que muitos apontam como futuro herdeiro de Evo, acrescentou que, no dia 11 de novembro, o ex-presidente já estará em Cochabamba, de onde viajou ao México.

"Morales chegará no dia 11 a Cochabamba, dia em que deixou [o país]. Ele chegará pelo mesmo lugar por onde saiu. Será um dia histórico para nós", afirmou Rodríguez. "Haverá uma grande recepção. Nós nos concentraremos em Cochabamba para receber o nosso líder histórico."

Na semana passada, durante uma videoconferência com centenas de dirigentes e plantadores de coca das Seis Federações do Trópico de Cochabamba, berço político-sindical de Evo, o ex-presidente pediu que os cocaleiros pensassem numa trilha sonora para o momento.

"Queria pedir, irmãs e irmãos, que comecemos a praticar alguma canção para o nosso retorno. Gostaria que começassem a cantar essa canção para quando eu voltar", disse Evo.

O ex-presidente disse que retornar à Bolívia "é questão de tempo" e associou a sua volta ao fim dos processos judiciais que o ameaçam de prisão. "Agora tenho a possibilidade de voltar sem muitos problemas. Todos esses processos vão cair", afirmou.

Na segunda (26), a Justiça boliviana de primeira instância decidiu anular a ordem de prisão e o processo em que ele é acusado de sedição e terrorismo. A decisão abriu as portas para Evo retornar sem ser preso.

Para o ex-presidente, as ações por fraude eleitoral, perturbação da ordem pública, genocídio, terrorismo, financiamento, incitação ao crime e até estupro são parte de uma "guerra suja" do governo de Añez.

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