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Guiné protesta contra terceiro mandato de presidente, e 17 morrem

Serviços de internet e telefone estão indisponíveis desde sexta-feira (23)

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Conacri (Guiné) | Reuters

As forças de segurança da Guiné dispersaram novos protestos contra o resultado das eleições que deram o terceiro mandato a Alpha Condé. A comissão eleitoral confirmou os números neste sábado (24), apontando 59,5% dos votos para o presidente, que tem 82 anos. Desde domingo (18), dia da votação, pelo menos 17 pessoas morreram nas manifestações contra a reeleição.

A vitória, que precisa ser confirmada pelo Tribunal Constitucional, é questionada pela oposição, que afirma que Condé não tinha o direito de disputar o cargo pela terceira vez.

O presidente, porém, alega que um referendo constitucional realizado em março deste ano reiniciou a contagem do limite de dois mandatos aos quais ele teria direito.

Mulher passa em frente a postes derrubados durante protestos em Conacri contra a vitória de Alpha Condé; ao fundo, propaganda eleitoral do presidente
Mulher passa em frente a postes derrubados durante protestos em Conacri contra a vitória de Alpha Condé; ao fundo, propaganda eleitoral do presidente - John Wessels/AFP

A decisão de Condé de concorrer a um terceiro mandato gerou uma onda de protestos que se iniciou no ano passado e já tinha deixado dezenas de manifestantes mortos.

Tiros foram ouvidos na sexta-feira no bairro de Sonfonia, na capital, Conacri, onde apoiadores do candidato da oposição, Cellou Dalein Diallo, entraram em confronto com as forças de segurança.

“A polícia interveio para retirar barricadas e dispersar manifestantes”, disse Oumar Camara, um morador.

Diallo recebeu 33,5% dos votos, ficando em segundo lugar nas eleições de domingo. Ele afirmou que tem evidências de fraude e planeja entrar com uma ação no Tribunal Constitucional. Um porta-voz da comissão eleitoral negou ter havido qualquer irregularidade no processo.

Na manhã de sexta, serviços de internet e telefone não funcionavam, segundo moradores e grupos de direitos digitais. No passado, autoridades da Guiné, assim como em grande parte da África Subsaariana, já cortaram o acesso a esses serviços durante períodos de convulsão social.

O governo da Guiné não respondeu a perguntas sobre o funcionamento da internet, mas dados da rede analisados pelo grupo de monitoramento online NetBlocks mostraram que o acesso foi suspenso a partir das 7h30 da sexta (horário local, 4h30 em Brasília).

O secretário-geral da ONU, o português António Guterres, condenou “energicamente” a violência e pediu que qualquer disputa eleitoral seja resolvida “utilizando os mecanismos legais estabelecidos”.

Guterres instou Condé e Diallo a “convencer seus partidários a terminarem imediatamente com a violência e que eles estabeleçam um diálogo significativo para encontrar uma solução pacífica”.

“A ONU está pronta para apoiar um processo de diálogo para uma solução rápida e pacífica da crise”, afirmou o secretário-geral, em comunicado.

Ele pediu também que a imprensa “coloque fim em todos os discursos incendiários e apelos à dissidência de inspiração étnica”, afirmou seu porta-voz, em nota.

Condé, um ex-líder da oposição que chegou a ser condenado à morte em 1970 pelo presidente marxista Sekou Tour, conquistou o cargo em 2010. Sua eleição aumentou as esperanças de um fortalecimento da democracia no país, mas críticos dizem que ele tem reprimido a dissidência.

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