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Histórico do papa sugere cautela ao pintá-lo como símbolo da defesa dos LGBTI

Há 4 anos, Francisco definiu teoria de gênero como grande inimiga do casamento tradicional e da família

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Rio de Janeiro

Ao defender a união civil homoafetiva, o papa Francisco avançou várias casas progressistas numa longa cadeia de repulsa da Igreja Católica a direitos LGBTI. Seu histórico, contudo, sugere cautela àqueles dispostos a estender a bandeira do arco-íris, símbolo do movimento, para ele passar.

Em "Francesco", documentário lançado na quarta (21), o pontífice diz que homossexuais "são filhos de Deus e têm direito a uma família". A declaração aparece entremeada à história de um homem que escreve a Francisco para explicar que ele e o marido têm três filhos adotados, e os cinco só não frequentam missas por temer reações hostis.

Dar cobertura legal a homossexuais sem lhes conceder o direito ao casamento já era uma posição do papa quando ele era arcebispo em Buenos Aires. Daí a proposta da união civil que agradava o cardeal Jorge Mario Bergoglio.

Papa Francisco durante cerimônia interreligiosa na basílica de Santa Maria em Aracoeli, em Roma
Papa Francisco durante cerimônia na basílica de Santa Maria em Aracoeli, em Roma - 20.out.20/Vatican Media/AFP

Nos bastidores, ele argumentava que essa solução serenaria os ânimos dos que exigiam uma legislação em seu país natal, permitindo que pessoas do mesmo sexo se casassem. Se lhes dessem um dedo, quem sabe assim não demandariam o braço todo.

Em 2010, três anos antes de se mudar para o Vaticano, Bergoglio se opôs à ideia de forma incisiva. Disse que o povo argentino enfrentaria "uma situação cujo desfecho pode prejudicar gravemente a família" e que estavam "em jogo a identidade e a sobrevivência da família: pai, mãe e filhos".

À época Bergoglio recomendou: "Não sejamos ingênuos. Esta não é simplesmente uma batalha política, mas uma tentativa de destruir os planos de Deus".

No mesmo ano, a Argentina virou o primeiro país da América Latina a aprovar o casamento homoafetivo.

Uma vez na Santa Sé, Francisco emitiu sinais mistos sobre seu posicionamento em relação à comunidade LGBTI. Ainda que não seja o símbolo do progressismo que muitos projetam nele, é verdade que, perto dos antecessores, desponta como uma voz amigável à causa. Bento 16, o papa emérito, chegou a comparar o casamento entre homossexuais ao "anticristo".

Francisco já disse a um homem gay, abusado por clérigos quando jovem, que Deus o fez daquela forma, ama-o assim e que sua sexualidade "não importa". Também afirmou que quando uma pessoa [que é gay] chega a Jesus, Jesus certamente não dirá: "Vá embora porque você é homossexual".

O papa Francisco quer uma Igreja que acolha transgêneros, mas sem reconhecê-los como naturais.

Em 2016, resgatou em conversa com jornalistas um encontro que teve com um homem trans casado com uma mulher. "Ele me escreveu uma carta dizendo que seria um consolo se reunir comigo, ele e a esposa. Ele que era ela, mas é ele."

É o mesmo Francisco que também afirma não ser "natural" a transição de gênero.

No ano passado, o pontífice se disse um entusiasta da educação sexual nas escolas, já que sexo, segundo ele, "é um dom de Deus, e não um monstro”. Essas aulas, contudo, deveriam ser livres de "colonização ideológica", segundo ele. "Se você começar a dar educação sexual repleta de colonização ideológica, você destrói a pessoa.”

Quatro anos atrás, o papa já havia definido a teoria de gênero como “uma grande inimiga” do casamento tradicional e da família, uma “guerra global” que teria como meta propagar a “colonização ideológica”.

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