A polícia de Hong Kong prendeu três estudantes nesta terça-feira (27) com base na controversa lei de segurança nacional imposta por Pequim no território semi-autônomo. Os jovens, de 17, 19 e 21 anos, foram detidos sob suspeita de publicar conteúdo em redes sociais incitando honcongueses a buscarem independência da China.
As autoridades não divulgaram a identidade dos detidos, mas o Studentlocalism, um grupo pró-independência dissolvido antes da promulgação da nova legislação, publicou em sua página que os alvos da polícia foram Tony Chung, ex-líder da organização, e os ex-membros Yannis Ho e William Chan.
De acordo com o jornal South China Morning Post, Chung foi detido enquanto estava em um café a 50 metros do consulado dos EUA em Hong Kong. O jovem se preparava para pedir asilo político aos diplomatas de Washington, mas foi levado pelos policiais antes que pudesse formalizar o pedido.
Os três jovens já haviam sido presos em julho sob a mesma acusação na primeira leva de prisões fora do contexto dos protestos de rua, mas pagaram fiança de 2.000 dólares honcongueses (R$ 1.460) e foram libertados, embora tenham sido proibidos de viajar e obrigados a se apresentar à polícia mensalmente. Ho e Chan foram detidos nesta terça enquanto cumpriam essa formalidade.
Ainda segundo o SCMP, outros quatro jovens ativistas foram vistos entrando no consulado americano. Pelo menos um deles enfrenta acusações relacionadas aos protestos que chamaram a atenção do mundo para Hong Kong no final do ano passado.
Fontes ouvidas em anonimato pelo jornal disseram que o grupo também tentava solicitar asilo político aos EUA, mas não há confirmação sobre o andamento do processo.
As prisões desta terça, resultantes do patrulhamento das redes sociais, somam-se a pelo menos outras 28 que se baseiam na lei de segurança nacional imposta por Pequim em junho, além das centenas de detidos a cada novo protesto considerado ilegal em Hong Kong.
A legislação pune qualquer ato que a China considere subversão, secessão, terrorismo ou conluio com forças estrangeiras.
Foram detidos, por exemplo, ativistas que portavam cartazes com slogans considerados contrários ao regime de Pequim, como a frase "Liberte Hong Kong, revolução do nosso tempo", que se tornou um clássico dos protestos pró-democracia.
Na interpretação do regime chinês, a frase conota separatismo e subversão. Sob a nova lei, esses crimes, em casos extremos, podem ser punidos com prisão perpétua.
Hong Kong foi devolvida à China em 1997 sob as regras de um acordo que previa autonomia do território em relação ao regime central de Pequim. Há um ano, entretanto, a ex-colônia britânica ocupou o noticiário internacional devido aos protestos que levaram multidões às ruas e marcaram a repressão da China continental aos movimentos democráticos na cidade.
Neste ano, as manifestações arrefeceram devido à pandemia de coronavírus e às regras que procuravam impedir aglomerações e tentar evitar a propagação da doença. A aprovação da lei de segurança nacional, entretanto, trouxe novo fôlego aos ativistas pró-democracia que se organizaram em atos para denunciar a interferência de Pequim no território.
A China nega e diz que a legislação visa restaurar a estabilidade em Hong Kong. A comunidade internacional e diversas instituições de defesa dos direitos humanos, porém, reforçaram seus discursos contra a violação das liberdades individuais e impuseram sanções econômicas e diplomáticas sobre a China.
O principal adversário do regime, neste e em outros aspectos, é o governo americano. China e EUA vivem uma espécie de Guerra Fria 2.0 que passa pela resposta à crise sanitária e pelas políticas econômicas dos dois países. A situação de Hong Kong alimenta as críticas a Pequim no campo dos direitos humanos, assim como a repressão chinesa aos uigures, minoria muçulmana no oeste do país.
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