Um padre ortodoxo grego foi ferido a tiros quando fechava sua igreja, na cidade francesa de Lyon, por volta das 16h (horário local, 12h no Brasil), segundo a polícia local. O crime ocorre dois dias após um atentado terrorista que deixou três mortos, entre os quais uma brasileira, na Basílica de Notre-Dame, em Nice.
O governo francês, que havia aumentado o alerta antiterrorismo, divulgou um comunicado de “evento grave de segurança”, mas não há informações sobre a motivação do ataque deste sábado (31). “Nenhuma teoria é favorecida, nenhuma teoria é descartada”, disse o prefeito de Lyon, Gregory Doucet.
Segundo relatos, o agressor estava sozinho, deu dois tiros com uma espingarda de cano serrado e fugiu. O padre foi levado ao hospital. De acordo com a imprensa local, ele foi atingido no abdômen, estava consciente ao ser socorrido, mas seu estado é grave.
O atirador foi descrito à emissora Franceinfo como "um indivíduo do tipo mediterrâneo, com cerca de 1,90, vestido com uma longa gabardina preta e usando um boné preto". O padre, identificado como Nikolas Kakavelakis, 45, afirmou que não o conhecia, segundo a imprensa regional.
No começo da noite, bombeiros disseram ter detido um homem que correspondia à descrição, em um restaurante da cidade. Ele não estava armado no momento da prisão, segundo comunicado da Promotoria de Lyon.
Com 516 mil habitantes, Lyon é a terceira maior cidade francesa e tem grande número de imigrantes de outros países da Europa —Itália, Espanha e Portugal, principalmente— e do Norte da África, grande parte vinda após a eclosão de conflitos na Argélia, na década de 1960.
Calcula-se que mais de 150 mil habitantes de origem marroquina, argelina e tunisiana vivam na região metropolitana, com cerca de 2 milhões de habitantes. Há também uma comunidade judaica expressiva em Lyon, com cerca de 40 mil pessoas.
Líderes religiosos vinham expressando preocupação com o aumento de intolerância e racismo na cidade, antes conhecida como exemplo de convivência pacífica entre diversos credos. Houve incêndios criminosos em locais de culto muçulmano, pichações antissemitas e ataques a livrarias e templos cristãos de diferentes denominações.
No começo de setembro, nove líderes —muçulmanos, judaicos, católicos e protestantes— assinaram artigo pedindo o fim das agressões e a volta da união, no jornal regional Le Progrés.
À agência de notícias Associated Press, o padre ortodoxo grego Antoine Callot, de outra igreja de Lyon, disse que a comunidade ortodoxa não havia recebido nenhuma ameaça recentemente.
“Estamos ansiosos e angustiados. É realmente horrível, agora precisamos nos esconder e ter cuidado”, disse ele, que pediu ao governo policiamento para sua igreja.
Se a agressão deste sábado tiver motivos religiosos, será a quarta desse tipo na França em menos de dois meses. No ataque a faca na igreja de Nice, o agressor, um tunisiano de 21 anos recém-chegado à França, gritava “Alá é o maior” durante o atentado, segundo a polícia.
As outras duas ações estavam relacionadas a caricaturas de Maomé publicadas pelo jornal satírico Charlie Hebdo, alvo de ataques terroristas em 2011, 2013 e 2015, quando 12 pessoas foram mortas.
Em setembro, depois da retomada de um julgamento sobre o atentado de 2015, dois jornalistas foram feridos a faca perto da antiga sede da publicação, em Paris. Há duas semanas, um professor foi decapitado após mostrar caricaturas de Maomé numa aula sobre liberdade de expressão.
Após o ataque de Nice, o presidente da França, Emmanuel Macron, anunciou o aumento de 3.000 para 7.000 soldados na Operação Sentinela, a fim de proteger locais de culto e escolas.
Em entrevista ao canal de TV árabe Al-Jazeera divulgada neste sábado (31), o líder francês afirmou que entende que os desenhos possam chocar muçulmanos religiosos, mas que a violência não é justificável.
Macron afirmou também que é sua obrigação defender o direito de expressão na França, mas que suas declarações contra o que chamou de “separatismo islâmico” —a radicalização de jovens muçulmanos— foram distorcidas e usadas politicamente para provocar conflitos.
O discurso do presidente defendendo o direito de publicar as charges, ainda que ofendam alguns grupos, provocou protestos em uma dezena de países de maioria muçulmana no Oriente Médio, no sul da Ásia e na África. Neste sábado, a família da ex-bailarina brasileira Simone Barreto Silva, 44, morta no ataque em Nice, promoveu um ato pela paz na cidade francesa.
O primeiro-ministro francês, Jean Castex, que neste sábado visitava Rouen, na Normandia, voltou a Paris para paticipar do gabinete de crise.
O ministro do Interior (responsável por segurança), Gérald Darmanin, afirmou que ira a Lyon.
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