Descrição de chapéu The New York Times

Pais de 545 crianças separadas na fronteira dos EUA não são encontrados

Relatório mostra que número de 'ilocalizáveis' é muito maior do que se esperava

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

The New York Times

Anúncios de rádio são veiculados por todo o México e a América Central. Pesquisadores nomeados pela Justiça americana percorrem de moto comunidades rurais nas montanhas da Guatemala e visitam tribunais em Honduras para pesquisar registros públicos.

Seus esforços fazem parte de uma ampla campanha para localizar os pais separados de seus filhos na fronteira dos Estados Unidos desde 2017 sob a política migratória mais polêmica do governo Trump.

Hoje está claro que os pais de 545 crianças migrantes ainda não foram encontrados, segundo documentos judiciais apresentados nesta semana em um processo que contesta aquela prática.

Os documentos mostram que cerca de 60 crianças tinham menos de 5 anos quando foram separadas.

Apesar das tentativas de encontrar os pais nos últimos anos, o número dos que foram considerados "ilocalizáveis" é muito maior do que se sabia anteriormente.

Sob ordem judicial, o governo primeiramente forneceu uma contagem das famílias separadas em junho de 2018, relatando que cerca de 2.700 crianças tinham sido tiradas dos pais depois de entrarem nos EUA.

Após meses de buscas por uma comissão administrativa nomeada pela Justiça, que inclui um escritório de advocacia particular e várias organizações de defesa de imigrantes, todas essas famílias foram finalmente localizadas e convidadas a se reunir.

Mas em janeiro de 2019 um relatório do inspetor-geral do Departamento de Saúde e Serviços Humanos (HHS, na sigla em inglês) confirmou que muitas outras crianças tinham sido separadas, incluindo sob um programa piloto até então não revelado que foi aplicado em El Paso, no Texas, entre junho e novembro de 2017, antes que entrasse em efeito a política oficial de "tolerância zero", amplamente divulgada.

Sob essa política, o governo instruiu os promotores a abrir processos criminais contra os que cruzassem a fronteira sem autorização, incluindo os pais, que eram então separados de seus filhos ao ser detidos. Alguns pais que cruzaram a fronteira em postos de entrada legais também foram separados dos filhos.

O governo Trump lutou durante meses contra fornecer documentação sobre as famílias adicionais, afirmando que não era necessário porque as crianças já tinham sido liberadas da custódia federal sob os cuidados de tutores, que geralmente são parentes ou amigos das famílias.

Os pais das crianças já tinham sido deportados sem elas.

Mas em junho de 2019, sob ordem judicial, o governo reconheceu que outras 1.556 crianças tinham sido separadas de suas famílias; 200 delas tinham menos de 5 anos quando foram levadas sob custódia.

Quando essa informação saiu, os esforços de busca se reiniciaram, mas se tornaram muito mais difíceis por causa do tempo transcorrido desde que as crianças foram liberadas da custódia federal até que voluntários começaram a pesquisar seu paradeiro.

A iniciativa encontrou outro obstáculo com o início da pandemia de coronavírus, durante a qual foram restringidas as viagens por países da América Central, onde se encontrava a maioria das famílias.

"O governo Trump não tinha planos de localizar as famílias ou mesmo de reuni-las, e por isso estamos na situação atual, tentando responder a cada família", disse Nan Schivone, diretora jurídica da organização Justice in Motion, que lidera os esforços de busca das famílias separadas.

A União Americana pelas Liberdades Civis, que lidera a ação judicial contra a política de separação das famílias, disse que também não conseguiu encontrar 362 crianças, muitas das quais provavelmente vivem nos EUA, cujos pais foram considerados ilocalizáveis.

"O fato de que ocultaram os nomes do tribunal do público é inacreditável", disse Lee Gelernt, advogado no caso da UALC sobre separação das famílias. "Poderíamos estar procurando esse tempo todo."

Em alguns casos, membros da comissão judicial tinham apenas nomes e países de origem para seguir tentando localizar pais separados. Depois de realizar buscas em registros públicos para identificar as cidades de onde vinham as famílias, eles enfrentaram outros obstáculos.

Muitas famílias tinham fugido para escapar da violência ou de extorsão e intencionalmente ocultavam dos amigos e vizinhos informações sobre para onde iam.

Pesquisadores presumem que cerca de dois terços dos pais procurados voltaram aos países de origem.

Como parte do caso jurídico sobre as separações de famílias no Tribunal Distrital Federal de San Diego, conduzido pelo juiz Dana Sabraw, os esforços de pesquisa continuarão, e o governo será solicitado a fornecer informação sobre outras famílias separadas na fronteira.

Em outubro de 2019, o governo tinha fornecido informação de contato de mais de 1.100 pais adicionais que foram separados dos filhos, mas afirmou que não revelaria informações sobre cerca de 400 deles porque essas pessoas tinham histórico criminal, o que impedia o governo de reuni-las a seus filhos sob as políticas do Departamento de Segurança Interna. Dos mais de 1.100, a comissão conseguiu localizar os pais de 485 outras crianças separadas. Os demais não foram encontrados.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.