Descrição de chapéu terrorismo

Terceira vítima de atentado que matou brasileira na França ia à igreja todos os dias

Polícia faz novas detenções e investiga se ataque foi organizado no exterior; baleado, terrorista está no hospital

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Bruxelas

A francesa Nadine Devillers, 60, foi identificada como a terceira vítima do ataque terrorista que matou três pessoas, incluindo a brasileira Simone Barreto da Silva, 44, dentro de uma igreja em Nice, na quinta (29).

Casada e mãe de filhos adultos, Nadine cresceu em Draguignan, mudou-se para Nice aos 18 anos e morava perto da basílica de Notre-Dame, onde ocorreu o atentato.

Amigos a descreveram como uma católica devota, que frequentava a igreja diariamente. Segundo o promotor antiterrorismo Jean-François Ricard, seu corpo foi encontrado na entrada da basílica, com um corte profundo na garganta que quase a decapitou.

Na tarde deste sábado (31), a família de Simone fará um ato pela paz das 14h às 20h (das 10h às 16h, no horário do Brasil) na igreja Saint-Pierre-d'Arène. Nascida em Salvador, Simone se formara há pouco como chef de cozinha e foi bailarina de samba. Amigos devem realizar uma passeta vestidos de branco em Nice, também para pedir paz.

Mulher de preto e óculos escuros e máscara contra covid se agacha em meio a flores
Mulher coloca flores na entrada da basílica de Notre Dame, em Nice, onde terrorista matou três pessoas a facadas - Serge Haouzi - 30.out.20/Xinhua

A polícia deteve na sexta (30) mais um suspeito de ter ligações com o terrorista —um tunisiano de 21 anos, identificado como Brahim A. O homem preso tem 35 anos, mora numa área pobre ao norte de Nice e, segundo investigadores, encontrou-se com o autor do ataque na véspera da ação.

O novo suspeito seria também ligado ao homem de 47 anos detido na quinta, por, segundo a polícia, ter entrado em contato com Brahim na véspera do atentado terrorista e ter lhe fornecido um dos dois telefones encontrados com o terrorista.

A jornalistas estrangeiros a família de Brahim na Tunísia disse que ele havia se tornado religioso há cerca de dois anos, depois de uma adolescência complicada pelo consumo de drogas e álcool.

Os investigadores tentam esclarecer se o atentado foi planejado fora da França. Segundo detalhes relatados na noite de quinta, Brahim foi filmado na estação de trem de Nice às 6h47. “Ele vira o paletó, troca os sapatos", descreveu o procurador Ricard. Carregava uma sacola onde levava uma cópia do Corão (livro sagrado muçulmano), dois telefones e três facas com lâminas de 17 cm.

O tunisiano foi até a basílica de Notre-Dame, onde entrou dois minutos antes das 8h30, relata Ricard. Esse era o horário em que o sacristão Vincent Loquès, 55, outra vítima do ataque, costumava abrir a igreja. Nos 25 minutos seguintes, Bahrim atacou suas três vítimas, segundo o procurador.

A brasileira Simone, esfaqueada no pescoço, conseguiu escapar da basílica e pedir socorro. Ela se refugiou em um estabelecimento próximo, onde acabou morrendo antes de ser socorrida.

Às 8h57, uma equipe de quatro guardas municipais, avisada por um botão de alerta que fica na calçada perto da igreja, chegou ao local e entrou por um corredor escuro. O agressor avançou em direção a eles de forma ameaçadora, gritando "Allahu akbar" (Deus é maior, em árabe). Segundo Ricard, os policiais não conseguiram pará-lo com uma pistola elétrica e por isso atiraram.

Brahim foi baleado na perna, no peito e no ombro e levado para o hospital, onde foi operado duas vezes. Na manhã deste sábado, ele continuava em estado grave, segundo a imprensa local. Foram recolhidos 14 projéteis no local do confronto, na basílica.

Moça negra, de cabelo liso castanho claro, óculos, blusa branca, sorri para a câmera
A brasileira Simone Barreto Silva, 44, que foi morta em atentado terrorista em Nice - Reuters

O procurador nacional antiterrorismo afirmou que a investigação vai retraçar também a viagem do terrorista, que entrou na França em 9 de outubro, depois de passar pela ilha de Lampedusa (Itália).

Ricard afirmou que ele tinha "um documento em papel da Cruz Vermelha italiana" e que "seu nome não está no arquivo nacional de impressões digitais e não era acompanhado pelos serviços de inteligência”.

O Ministério das Relações Exteriores enviou alertas para estrangeiros que moram no exterior. "A ameaça está em toda parte", declarou o ministro Jean-Yves Le Drian após reunião do conselho de defesa convocado pelo governo para esta manhã.

O atentado em Nice foi o terceiro em menos de dois meses. No final de setembro, dois jornalistas foram esfaqueados em Paris e, há duas semanas, o professor Samuel Paty foi decapitado, em dois casos ligados a charges satíricas retratando Maomé.

Gérald Darmanin, ministro do Interior, disse que a França enfrenta uma ameaça de terrorismo de nível alto, e que virou "alvo preferencial" por causa de sua "defesa ferrenha da liberdade de expressão e do secularismo".

Darmanin também disse que as autoridades de segurança locais de todo o país foram alertadas no domingo passado, depois que um grupo ligado à Al Qaeda divulgou um comunicado pedindo que as pessoas atacassem alvos franceses, incluindo igrejas e embaixadas.

Desde a última semana, o presidente francês, Emmanuel Macron, tem sido alvo de protestos em vários países de maioria muçulmana, por ter declarado que continuará defendendo a liberdade de expressão, mesmo que ela possa ofender grupos religiosos, como no caso das caricaturas de Maomé.

Dias antes da morte do professor Paty, Macron havia anunciado um programa para combater o que chama de "separatismo islâmico": a radicalização de uma parcela de muçulmanos dentro da França;

Nesta sexta, dia mais importante na semana para muçulmanos, houve protestos em Afeganistão, Paquistão, Bangladesh, Líbano, Turquia, Somália, Líbia, Índia e em regiões palestinas de Israel, entre outros. Muçulmanos de países europeus, como Dinamarca e Rússia, também se manifestaram.

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