Presidente da Turquia pede boicote a produtos franceses e acirra crise com Macron

Erdogan havia dito que presidente francês tem problemas mentais e persegue muçulmanos

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Bruxelas

Em novo lance da escalada de tensões entre França e Turquia, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, pediu um boicote a produtos franceses em discurso pela TV nesta segunda-feira (26).

Um dia antes, Erdogan já havia atacado o presidente da França, Emmanuel Macron: “Qual é o problema do indivíduo chamado Macron com o islã e os islâmicos? Macron precisa de tratamento mental”.

A declaração levou a França a convocar de volta seu embaixador na Turquia para consultas. “Indignação e insulto não são um método”, afirmou a Presidência francesa à agência de notícias Reuters.

O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, discursa em Ancara
O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, discursa em Ancara - Presidência da Turquia via Reuters

A nova leva de farpas entre os países, que já dura meses, foi provocada pela reação de Macron ao assassinato do professor francês Samuel Paty, decapitado após mostrar a seus alunos cartuns que retratavam o profeta Maomé, numa aula sobre liberdade de expressão.

Macron, que dias antes já havia anunciado um plano contra o "separatismo islâmico", prometeu intensificar medidas para defender o secularismo e combater o islamismo radical.

“Samuel Paty foi morto porque os islâmicos querem nosso futuro, mas a França não desistirá de nossos cartuns", afirmou o presidente francês, em homenagem ao professor assassinado.

Com a maior população muçulmana da Europa Ocidental —cerca de 6 milhões, ou 9% do total—, a França defende há anos o secularismo do Estado, com medidas como a proibição do uso de niqabs (véu muçulmano que cobre o rosto) em locais públicos.

Após a morte de Paty, Macron voltou a repetir que seu governo não vai abrir mão da liberdade de expressão, mesmo que possa ferir suscetibilidades de um grupo específico. Críticos das ações do líder francês, porém, dizem que ele recorre à suposta defesa do Estado laico para discriminar muçulmanos.

No domingo, o premiê do Paquistão, Imran Khan, também o acusou de não respeitar a liberdade de crença e de marginalizar os milhões de muçulmanos na França. Houve protestos na Síria, na Palestina e na Líbia.

O departamento de comunicações da Turquia escreveu que governantes europeus "atacam nossos valores sagrados, nossa escritura, nosso profeta e nossos líderes políticos —nosso modo de vida”.

No discurso desta segunda, Erdogan afirmou que “os líderes europeus deveriam dizer ao presidente francês para parar com sua campanha de ódio”. Macron voltou a escrever: "Não vamos ceder, nunca".

Ancara e Paris têm trocado farpas sobre a guerra civil da Líbia, o conflito entre Armênia e Azerbaijão, na região de Nagorno-Karabakh, e a exploração de petróleo no Mediterrâneo. Em agosto, o governo francês enviou um navio militar à área disputada por Turquia e Grécia, aumentando as divergências com Erdogan.

O pedido por boicote do presidente turco se segue a movimentos pontuais na Jordânia, no Kuwait e no Qatar, onde produtos franceses, principalmente de higiene e beleza, foram tirados das prateleiras de alguns mercados, segundo a rede de TV BBC. Na Arábia Saudita, maior economica do Oriente Médio, uma campanha sugeriu boicote dos consumidores à rede de supermercados francesa Carrefour.

Em nota, o Ministério das Relações Exteriores da França afirmou: "Esses pedidos de boicote não têm fundamento e devem parar imediatamente, assim como todos os ataques contra nosso país, que estão sendo promovidos por uma minoria radical".

Nesta segunda, a União Europeia defendeu o diálogo entre a França e a Turquia. “Ambos são membros da Otan [aliança militar ocidental], a Turquia é vizinha da Europa, e acirrar os conflitos não interessa a ninguém”, afirmou em entrevista o porta-voz da comissão responsável por relações internacionais.

No domingo, após o comentário de Erdogan sobre a saúde mental de Macron, o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, escreveu em rede social que a declaração do presidente turco era “inaceitável”: “Apelo à Turquia para parar com esta espiral perigosa de confronto”.

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