Repórter que escreveu artigo do New York Post contra Biden se recusou a assiná-lo

Outra jornalista soube que seu crédito estava na reportagem só depois de ela ter sido publicada

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Katie Robertson
The New York Times

A reportagem de primeira página no New York Post sobre Hunter Biden na quarta-feira (14) foi escrita basicamente por um repórter do jornal que se recusou a assiná-la, segundo dois funcionários do Post.

Bruce Golding, um repórter do tabloide que pertence a Rupert Murdoch desde 2007, não permitiu que seu nome fosse usado porque tinha dúvidas sobre a credibilidade da apuração, disseram os dois empregados do jornal, que falaram sob a condição do anonimato por temerem retaliação.

Surgindo tardiamente em uma campanha quente, o artigo sugere que Joe Biden usou o cargo de vice-presidente para enriquecer seu filho Hunter. O New York Post baseou a reportagem em fotos e documentos que, segundo declarou, foram tirados de um laptop supostamente pertencente a Hunter.

O candidato democrata à Presidência dos EUA, Joe Biden, durante entrevista coletiva em Hebron, no estado do Kentucky
O candidato democrata à Presidência dos EUA, Joe Biden, durante entrevista coletiva em Hebron, no estado do Kentucky - Jim Watson - 12.out.20/AFP

Muitos membros da Redação do Post questionaram se o jornal havia feito o bastante para verificar a autenticidade do conteúdo do computador, segundo cinco pessoas inteiradas do funcionamento interno do tabloide. Funcionários também tinham dúvidas sobre a confiabilidade das fontes e o momento escolhido para se manifestarem, disseram essas pessoas.

O artigo citou duas fontes: Steve Bannon, ex-assessor de Donald Trump que hoje enfrenta acusações de fraude, que disse ter informado ao jornal sobre o disco rígido no mês passado; e Rudy Giuliani, advogado pessoal do presidente, que teria dado ao jornal uma "cópia" do disco rígido em 11 de outubro.

Giuliani disse que escolheu o New York Post porque "ninguém mais o aceitaria, ou, se aceitassem, passariam o maior tempo possível tentando desmenti-lo antes de publicá-lo".

Editores graduados se reuniram em 11 de outubro para discutir como usariam o material fornecido por Giuliani. O grupo incluía o veterano dos tabloides Colin Allan; Stephen Lynch, editor-chefe do Post; e Michelle Gotthelf, editora-chefe digital, segundo uma pessoa informada sobre a reunião.

Allan, que foi editor-chefe do New York Post de 2001 a 2016 e retornou no ano passado como conselheiro, pediu a seus colegas que agissem rapidamente.

Conforme o prazo final se aproximava, os editores pressionaram membros da equipe para colocarem seus nomes como autores —e pelo menos um além de Golding se recusou, segundo dois jornalistas do New York Post. Uma porta-voz do jornal não quis comentar como o artigo foi escrito ou editado.

Com o título "Emails secretos de Biden", o texto foi publicado na quarta-feira com dois créditos: Emma-Jo Morris, uma subeditora de política que entrou para o jornal depois de quatro anos na Fox News, outra propriedade de Murdoch, e Gabrielle Fonrouge, repórter do New York Post desde 2014.

Morris nunca teve uma reportagem assinada no tabloide antes dessa quarta-feira, segundo uma busca no site da publicação. Ela chegou ao Post em abril, depois de trabalhar como produtora-associada no programa de Sean Hannity na Fox News, segundo seu perfil no LinkedIn.

A conta dela no Instagram, que foi colocada em modo privado na quarta, incluía fotos dela com os ex-membros do governo Trump Bannon e Sarah Huckabee Sanders, assim como Roger Stone, ex-assessor de campanha de Trump. (Em julho, o presidente reduziu a pena a que Stone foi condenado por sete crimes.)

Fonrouge teve pouco a ver com a reportagem ou com a produção do texto, disseram três pessoas com conhecimento do caso. Ela soube que seu crédito estava na reportagem só depois de ela ter sido publicada.

O artigo se baseou em documentos supostamente retirados do disco rígido para sugerir que Biden pai, como vice-presidente, tinha conduzido a política externa dos Estados Unidos relativa à Ucrânia de modo a beneficiar seu filho, um ex-membro do conselho da empresa ucraniana de energia Burisma Holdings.

A reportagem também sugeria que Biden pai tinha se encontrado com um assessor da Burisma, Vadym Pozharskyi. Na quarta, um porta-voz da campanha de Biden disse que as agendas oficiais do ex-vice-presidente não contêm nenhuma reunião entre ele e esse assessor.

No mês passado, duas comissões do Senado lideradas por republicanos que investigavam o assunto disseram não ter encontrado evidências de desvios de conduta do ex-vice-presidente.

"Os editores seniores do New York Post tomaram a decisão de publicar os arquivos de Biden depois de vários dias de trabalho duro que estabeleceram seu mérito", disse Allan em um email.

The New York Times, The Washington Post e The Wall Street Journal relataram que não puderam verificar de forma independente os dados da reportagem do New York Post, que incluía linguagem dúbia, referindo-se a certa altura a um email "supostamente enviado" para Hunter Biden.

"A história foi checada e o Post defende sua publicação", disse uma porta-voz do jornal em comunicado.

Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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