Descrição de chapéu Armênia

Rússia faz exercícios militares para tentar forçar trégua no Cáucaso; veja vídeo

Sem sucesso diplomático, Moscou envia sinais tanto para o Azerbaijão quanto para a Armênia

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São Paulo

Com o cessar-fogo mediado pelo Kremlin entre Armênia e Azerbaijão falhando diariamente, a Rússia decidiu buscar o caminho da intimidação militar para tentar forçar uma estabilização do conflito no Cáucaso.

A Flotilha do Mar Cáspio enviou nesta sexta (16) seis navios de guerra e sete aeronaves militares e mobilizou 400 soldados para um exercício naval ao norte da península de Absheron, onde fica a capital azeri, Baku.

Hospital e veículos destruídos após ataque azeri em Martakert, região de Nagorno-Karabakh
Hospital e veículos destruídos após ataque azeri em Martakert, região de Nagorno-Karabakh - Aris Messinis - 15.out.2020/AFP

O Azerbaijão não tem meios de dissuadir um eventual bloqueio russo contra suas forças, e o subsolo do mar Cáspio é a fonte da maior parte de seus recursos em gás natural e petróleo.

O recado, não exatamente sutil, também foi dado a Ierevan. O Distrito Militar Meridional da Rússia fez um exercício conjunto com as forças da república separatista da Abkhásia, um território russo étnico autônomo na Geórgia —a algumas centenas de quilômetros da fronteira armênia.

Foram mobilizados 1.500 homens para simular defesa costeira no mar Negro, com o uso de tanques e blindados.

Quando houve uma escaramuça inicial do atual conflito entre azeris e armênios na região disputada de Nagorno-Karabakh, em julho deste ano, os russos fizeram uma megamobilização de 150 mil homens na região do Cáucaso.

Naquele momento, pareceu dar certo, e as tensões baixaram. Mas o Azerbaijão foi incentivado pela Turquia, tanto politicamente como com um aumento grande de recebimento de material militar, a se reforçar para a tentativa de retomada do controle da região.

Objeto de uma guerra de 1992 a 1994, Nagorno-Karabakh é um encrave de maioria armênia no Azerbaijão, deixado lá na divisão do butim do Cáucaso pela União Soviética nos anos 1920, como forma de esvaziar nacionalismos e agradar os turcos —antigos adversários pela influência na região e com laços culturais com os azeris.

Ao fim do conflito, resultante de um cessar-fogo, os armênios não só retiveram a área governada pelos locais como ocuparam militarmente um cinturão de sete distritos em torno de Nagorno-Karabakh, ajudando assim a defesa do território e o conectando ao país.

Em 27 de setembro, o que Baku chamou de defesa contra um ataque resultou em uma grande operação militar que observadores independentes consideraram uma ofensiva planejada.

Não houve ganhos territoriais significativos até aqui, mas a violência é a maior desde a guerra nos anos 1990, com mais de 600 mortos oficiais, a maioria militar, um número inferior à realidade porque Baku não revela suas baixas fardadas.

No sábado passado (10), a Rússia intermediou um cessar-fogo, com apoio dos parceiros EUA e França do grupo que busca solucionar o conflito desde 1992. Não está funcionando, apesar da pressão de Moscou.

Há bombardeios de áreas civis dos dois lados e o risco de uma escalada regional porque os azeris já atingiram lançadores de mísseis do inimigo dentro do território armênio.

O cenário mais sombrio vê a Rússia, que tem um acordo militar com a Armênia para manter uma base no país, retaliando contra Baku —o que poderia trazer os turcos, membros da Otan (aliança militar ocidental) para a briga.

Mas essa é a hipótese mais extrema. Como se viu nesta sexta, Moscou está disposta a admoestar os dois lados, até porque antevê um aumento de influência sobre um Azerbaijão rico em hidrocarbonetos e aliado de sua rival regional Turquia caso alguma paz seja encontrada.

Se terá sucesso, é outra questão. Mas estrategicamente o governo de Vladimir Putin não pode permitir que a instabilidade do sul do Cáucaso, uma das rotas de invasão contra si possíveis, contamine o norte da região, que está sob seu controle.

Em solo, os combates continuaram ao longo desta sexta. Baku disse ter "liberado" oito vilarejos nas áreas ocupadas pelos armênios, mas o fato é que são territórios largamente vazios. Talvez 500 mil pessoas deixaram a área depois da guerra.

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