Cinquenta dias antes da eleição americana, a Folha começou a publicar a série de reportagens “50 estados, 50 problemas”, que se debruça sobre questões estruturais dos EUA e presentes na campanha eleitoral que decidirá se Donald Trump continua na Casa Branca ou se entrega a Presidência a Joe Biden.
Até 3 de novembro, dia da votação, os 50 estados do país serão o ponto de partida para analisar com que problemas o próximo —ou o mesmo— líder americano terá de lidar.
A educação superior no estado de Massachusetts chama a atenção por sua excelência: 2 das 3 melhores universidades do mundo estão lá, segundo o ranking QS University.
O Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na consagrada sigla em inglês) ocupa o topo da lista. Depois, em terceiro, está a prestigiada Universidade Harvard.
O desejo de estudar nas melhores escolas é tema de vários filmes, e as duas instituições são protagonistas em alguns deles —entre os quais, “Quebrando a Banca” (2008).
O longa mostra o esforço de Ben Campbell, interpretado por Jim Sturgess, para juntar dinheiro e pagar a graduação em medicina em Harvard. Aluno de matemática do MIT, ele se une a um grupo que ganha alguns milhares de dólares aos finais de semana jogando blackjack em Las Vegas.
O longa tem como pano de fundo o difícil acesso a uma universidade prestigiada quando não se tem muitos recursos. O primeiro ano do curso de medicina em Harvard, para ficar no exemplo cinematográfico, custa US$ 97.346 (R$ 542.509), incluindo anuidade, taxas e custos de moradia.
Ou seja, ensino superior nos EUA é caro. Por isso, o país soma, em 2020, US$ 1,56 trilhão (R$ 8,69 trilhões) em dívidas estudantis, segundo levantamento da Forbes com dados do governo americano. São cerca de 45 milhões de estudantes que se endividam para conseguir frequentar uma faculdade.
Apesar de não figurar no topo do ranking de alunos mais endividados —a Califórnia lidera a lista, com US$ 135 bilhões de dívidas somadas, ou seja, R$ 752,36 bilhões—, Massachusetts tem 855 mil de seus 6,8 milhões de habitantes em débito, cujos valores somam US$ 33 bilhões (R$ 183,9 bilhões).
Chama ainda a atenção a concentração de alunos endividados: 4 em cada 5 estudantes com empréstimos estaduais estavam em Massachusetts, Texas, Minnesota e Nova Jersey —que distribuem apenas 14% dos diplomas de bacharelado. Os trilhões em dívida estudantil motivam uma das principais propostas de campanha do democrata Joe Biden —o ensino gratuito.
Longe do projeto defendido pelo senador e ex-pré-candidato à indicação democrata à Presidência Bernie Sanders, em que todos os americanos teriam direito a uma educação sem custos, Biden propõe algo mais palatável aos conservadores.
Em seu site, a promessa é fornecer “dois anos de universidade comunitária [normalmente, com um custo já inferior ao das privadas] ou outro programa de treinamento de alta qualidade sem endividamento para qualquer indivíduo trabalhador que busque aprimorar suas habilidades”.
O ex-vice-presidente propõe ainda que alunos de famílias com renda inferior a US$ 125 mil (R$ 696 mil) estudem durante quatro anos sem pagar anuidade.
Ainda que não ofereça 100% de gratuidade, a proposta faz parte do conjunto que leva Donald Trump a classificar Biden como parte da ala de esquerda radical dos democratas, mesmo que ele integre o establishment do partido.
O republicano, por sua vez, não traz propostas ligadas ao assunto. Na sua página de promessas cumpridas em seu mandato, ele destaca que assinou memorando, em 2019, em que eliminou por completo a dívida estudantil de veteranos com deficiência permanente.
Uma resolução que melhore as condições do endividamento estudantil é urgente. Segundo estimativa divulgada pelo jornal Boston Globe, 40% dos estudantes podem não honrar suas dívidas em 2023, quase três vezes a taxa atual.
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