Tikhanovskaia lança ultimato a ditador da Belarus e promete greve geral

Em rede social, líder oposicionista diz que Lukachenko tem 13 dias para renunciar e interromper repressão

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Bruxelas

Svetlana Tikhanovskaia, 37, principal candidata da frente de oposição contra Aleksandr Lukachenko, 66, nas eleições de agosto deste ano, lançou um ultimato ao ditador da Belarus.

“O regime tem 13 dias para cumprir três pré-requisitos: 1. Lukachenko deve anunciar sua renúncia; 2. A violência contra manifestantes deve parar completamente; 3. Todos os presos políticos devem ser libertados”, escreveu ela em conta no Twitter.

Se as exigências não forem cumpridas até 25 de outubro, segundo ela, “no dia 26 começará uma greve nacional, todas as estradas serão bloqueadas, as vendas nas lojas do Estado entrarão em colapso”.

O ultimato foi lançado um dia depois de a ditadura ter ameaçado atirar “se necessário" em manifestantes e ter reprimido com excesso de força passeata de idosos na principal avenida de Minsk.

Moça de cabelos escuros lisos soltos e blusa preta
Svetlana Tikhanovskaia, candidata da principal frente de oposição ao ditador Aleksandr Lukachenko na eleição presidencial da Belarus - John MacDougall - 7.out.20/AFP

“Você sempre bateu em homens e agora está batendo em mulheres, crianças e idosos. Não tente fingir que é um diálogo. Isso é terror de Estado. E todo aquele que ainda não decidiu ir para o lado do povo é cúmplice do terror”, escreve Tikhanovskaia.

O texto se dirige também às forças de segurança de Lukachenko e aos que defendem o ditador: “Declare publicamente que não apoia mais o regime. Contacte-nos por meio de fundos, cartas ou mesmo conhecidos. Se você não fizer isso, significa que nossos avós apanham com suas mãos".

"Foi por sua causa que eles foram ameaçados com armas ontem [segunda, 12] —talvez pela primeira vez desde sua terrível infância durante a guerra.”

A candidata comentou também iniciativas, como a reunião feita por Lukachenko no sábado (10) com presos políticos, na sede da KGB: “Já dissemos muitas vezes que estamos prontos para o diálogo e as negociações. Mas falar atrás das grades não é um diálogo. Bater no seu pessoal depois de declarar que está pronto para negociar não é um diálogo”.

Na marcha do último domingo (11), a repressão tentou sufocar as passeatas antes que elas se formassem, com um número maior de policiais. Houve espancamentos, e manifestantes ficaram feridos.

Em uma escalada de violência, foram usadas granadas de dissuasão, canhões de água e gás lacrimogêneo, e o número de detenções foi recorde para uma tarde de domingo desde o começo das marchas: 713 pessoas.

Segundo a entidade de direitos humanos Viasna, havia na segunda 95 presos políticos na Belarus. Abaixo-assinado lançado pelo conselho para a libertação de todos tinha na tarde desta terça 320 mil assinaturas.

Apesar da pressão da União Europeia, do Reino Unido e dos Estados Unidos para que interrompa a repressão violenta e abra diálogo, Lukachenko já declarou em pronunciamentos e entrevistas que não reconhece os opositores como interlocutores nem deixará o cargo.

No final de setembro, ele tomou posse em uma cerimônia que não foi anunciada previamente.

Nesta terça, o último líder do comitê de oposição contra a ditadura que ainda estava em liberdade no país da Europa oriental viajou para a Polônia, por temer por sua segurança.

Chefe do comitê de greve da fábrica de tratores MTZ, Serguei Dileviski já havia sido preso por 25 dias e, na semana passada, foi forçado a se demitir da empresa, na qual trabalhava havia 12 anos.

Dos 7 líderes do conselho, 3 estão presos: a flautista Maria Kalesnikava, que integrou a frente de oposição nas eleições, e os advogados Maksim Znak e Lilia Lilia Vlasova.

Outros 3, além de Dilevski, já haviam saído do país: o ex-ministro da Cultura Pavel Latushko e a ativista Olga Kovalkova se exilaram também na Polônia, e a escritora Svetlana Aleksiévich, prêmio Nobel de Literatura em 2015, saiu da Belarus para cumprir compromissos, segundo sua assessoria.

Em entrevista na Itália há nove dias ela afirmou que gostaria de voltar a seu país natal, mas teme que a ditadura não a deixe entrar.

O conselho de oposição, que tem cerca de 5.000 membros em diferentes grupos de trabalho, foi criado para dialogar com o regime por uma transição pacífica e novas eleições. A ditadura se recusou a reconhecê-los como interlocutores e abriu processo criminal contra seus integrantes.

Segundo a defesa de Maria Kalesnikava, a líder do conselho de transição se recusou a participar da reunião com Lukachenko no sábado.

À mídia russa o advogado Alexandr Pilchenko afirmou que, ao ser convidada, ela afirmou se sentir mais segura na cela de isolamento de Zhodino que andando pelo país com estranhos.

Kalesnikava foi sequestrada por agentes bielorrussos no começo do setembro, quando caminhava em Minsk, e frustrou uma tentativa de ser levada à força para fora do país ao rasgar seu passaporte e fugir pela janela do carro em que havia sido trancada. Está presa desde então.

Da reunião com Lukachenko participaram os outros dois líderes presos do conselho, Znak e Vlasova, e os ex-rivais de campanha eleitoral Serguei Tikhanovski e Viktor Babarika.

Ao site noticioso independente Tut.by, Viktor Matskevich, advogado de Serguei Tikhanovski, disse que foi o ditador quem sugeriu ao ex-candidato que telefonasse para sua mulher, Svetlana.

Tikhanovski contou que foi retirado da prisão de Zhodino, onde está, e levado à KGB por mascarados. Na sala de reuniões havia sobre a mesa 12 pratos com os nomes dos presos que participaram do encontro.

O ex-candidato afirmou que Lukachenko apertou a mão de todos ao entrar e falou por quase cinco horas. Segundo ele, o ditador estava bem informado sobre as investigações de todos os presos.

O regime afirmou que ele foi pedir sugestões para a reforma da Constituição lançada pelo Parlamento, mas advogados disseram que Lukachenko falou durante praticamente todo o tempo.

No ultimato publicado nesta terça, Tikhanovskaia diz que o ditador está tentando desmobilizar os que se opõem a ele: “Você está tentando paralisar a vida do nosso país, sem perceber que a Belarus é mais forte do que o regime. Já que você estava esperando por um pedido, aqui está um pedido. E o prazo para sua execução é até 25 de outubro".

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