Trump se recusa a participar de debate virtual, e campanhas entram em conflito por datas

Republicanos defendem que encontro digital favoreceria Biden e querem 3º debate em 29 de outubro

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Bauru

O anúncio da Comissão de Debates Presidenciais de que o segundo encontro entre os candidatos Donald Trump e Joe Biden será virtual provocou embate entre as duas campanhas e incertezas sobre a realização do evento, uma vez que o presidente americano rejeitou a proposta logo após a divulgação da mudança.

Marcado inicialmente para 15 de outubro, o debate teve o formato alterado para evitar a propagação do coronavírus. Trump está com Covid-19, e não há a certeza de que até a data do encontro esteja livre do patógeno. Ou seja, não é possível descartar o risco de ele infectar outras pessoas.

Na noite desta quinta (8), no entanto, o médico de Trump, Sean Conley, disse que o presidente já terminou o ciclo do tratamento e pode voltar aos eventos públicos no sábado. Ele não citou o risco de contaminação das pessoas com quem o republicano possivelmente se encontrar, nem se Trump havia recebido resultado negativo para um teste de Covid-19.

Após declarações de lado a lado —Trump chamou a ideia de "ridícula", enquanto Biden se mostrou inicialmente aberto à proposta—, as campanhas dos dois candidatos emitiram comunicados sugerindo que o evento seja remarcado para o dia 22 de outubro.

A mudança, no entanto, ao menos na visão da campanha republicana, jogaria o último debate para o dia 29 de outubro, a cinco dias da votação. Os democratas, por sua vez, afirmam que a alteração de datas faria do encontro do dia 22 o último deste ciclo eleitoral, como acordado em junho com a comissão.

“Donald Trump não faz a agenda do debate; a Comissão de Debates, sim”, disse Kate Bedingfield, vice-chefe da campanha de Biden, em comunicado. “Aceitamos as três datas —29 de setembro, 15 de outubro e 22 de outubro— em junho. Trump escolheu se retirar do debate de 15 de outubro. O comportamento errático de Trump não permite que ele reescreva o calendário e escolha novas datas."

Trump foi enfático ao dizer, em entrevista à Fox News, que não desperdiçaria seu tempo em um evento virtual. "Isso não é debate", disse ele, que classificou a mudança no formato como inaceitável.

O presidente dos EUA, Donald Trump, em vídeo publicado em sua conta no Twitter - Divulgação Casa Branca - 7.out.20/via Reuters

"Eu o venci facilmente no primeiro debate e esperava vencê-lo de novo no segundo", acrescentou ele, contrariando as principais pesquisas feitas após o primeiro duelo entre os dois candidatos, segundo as quais a avaliação da maior parte do público é a de que o democrata teve o melhor desempenho.

O coordenador da campanha republicana, Bill Stepien, publicou, minutos após o anúncio da decisão, uma nota afirmando que a mudança é uma "triste desculpa" para favorecer Biden e que Trump fará um comício no dia inicialmente previsto para o encontro.

"É patético que as criaturas do pântano da comissão corram agora em defesa de Joe Biden, cancelando unilateralmente um debate presencial", escreveu Stepien. "A segurança de todos os envolvidos pode ser facilmente garantida sem cancelar a chance de os eleitores verem os dois candidatos frente a frente."

No primeiro debate, há pouco mais de uma semana, familiares de Trump e membros de sua equipe descumpriram a regra de usar máscaras no estúdio. O presidente chegou a zombar de Biden que, segundo ele, usava "uma máscara grande demais". Dois dias depois, Trump confirmou o diagnóstico de Covid-19.

Para Trump, "sentar na frente de um computador e fazer um debate é ridículo", mas um encontro não presencial na corrida pela Casa Branca não é algo inédito.

Em 1960, havia quase 4.500 km de distância entre os candidatos Richard Nixon, que estava em Los Angeles, e John F. Kennedy, que estava em Nova York e acabou vencendo a eleição.

Em entrevista à CNN, o copresidente da Comissão de Debates Presidenciais, Frank Fahrenkopf, disse que Trump e Biden não foram consultados antes da decisão e que eles têm o direito de se recusarem a participar. "Não há nenhuma lei que obrigue qualquer candidato presidencial a debater. Na verdade, em 1980, Jimmy Carter, presidente dos EUA, recusou-se a participar do primeiro debate, mas participou do segundo", disse Fahrenkopf. "Portanto, cabe a cada candidato decidir se deseja debater ou não."

Na ocasião citada por Fahrenkopf, Carter deixou de participar do primeiro debate presidencial devido à presença de um terceiro candidato. Além dele próprio, representando o Partido Democrata, e do republicano Ronald Reagan, o candidato independente John Anderson também foi convidado.

O debate em 15 de outubro deste ano era uma incógnita desde que Trump anunciou que ele e a primeira-dama, Melania, receberam diagnóstico de Covid-19. O líder americano chegou a ser hospitalizado e precisou de oxigênio suplementar, enquanto as informações sobre seu real estado de saúde se tornaram um mistério diante de uma série de informações conflitantes.

Além de Melania, pelo menos 22 pessoas do entorno de Trump também foram infectadas pelo coronavírus depois de se encontrarem com o presidente em reuniões e eventos de campanha, de acordo com levantamento atualizado diariamente pelo New York Times.

Biden, que esteve com o adversário republicano durante o primeiro debate, fez testes para detecção do vírus, mas os resultados foram negativos. Nesta semana, o democrata chegou a sugerir que o segundo encontro fosse cancelado caso Trump ainda estivesse infectado.

Na entrevista à Fox, o republicano voltou a louvar o tratamento que tem recebido desde os três dias em que ficou internado no hospital militar Walter Reed. Também disse estar pronto para voltar às atividades de campanha.

"Acho que eu não sou mais contagioso. Eu vejo como uma cura, não apenas uma terapia", disse, em referência ao coquetel REGN-COV2. O medicamento é uma combinação de cópias sintéticas de anticorpos humanos e emula a função do sistema imunológico para combater os vírus.

O coquetel ainda está sendo usado de forma experimental, mas é considerado o tratamento mais promissor para a Covid-19, já que antivirais como o remdesivir, também utilizado pelo presidente americano, e substâncias como a cloroquina e a ivermectina trouxeram pouco benefício aos pacientes.

Em vídeo publicado em suas redes sociais nesta quarta (7), Trump disse que o medicamento é mais importante para ele do que uma vacina e prometeu distribuí-lo de graça a todos os americanos.

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