Um dia depois de falar em diálogo, ditador eleva repressão na Belarus

Cerca de 40 repórteres e 713 manifestantes foram detidos, recorde desde que polícia voltou a reprimir protestos

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Bruxelas

Um dia depois de dizer que desejava “diálogo com toda a sociedade” para reformar a Constituição da Belarus, o ditador Aleksandr Lukachenko aumentou a repressão a manifestantes e prendeu cerca de 40 jornalistas neste domingo (11).

Repórteres ficaram por mais de três horas em departamentos de polícia “para verificar documentos”, e alguns ainda estavam detidos no começo da noite.

Na tentativa de impedir que dezenas de milhares de bielorrussos marchassem pelo décimo domingo seguido, as tropas de choque usaram canhões d’água, granadas de dissuasão e gás lacrimogêneo e arrastaram pessoas para os camburões antes mesmo que as passeatas se formassem.

Imagens mostram manifestantes feridos, algo que não vinha ocorrendo nos domingos anteriores.

Bielorrussos ouvidos pela Folha por aplicativos de mensagem disseram que este foi o dia de maior violência desde os primeiros três dias, quando milhares de pessoas foram detidas, e centenas, torturadas.

Em redes sociais circularam também imagens de manifestantes revidando ataques da polícia, atirando principalmente garrafas d’água, algo que também não vinha sendo registrado nas passeatas anteriores.

Segundo o Ministério do Interior, 713 foram detidos no domingo, número recorde desde que a repressão foi retomada, na terceira semana de protestos.

O aumento da repressão neste domingo mostra que regime “não está pronto nem é capaz de conduzir um diálogo honesto e aberto com a sociedade”, declarou o ex-ministro Pavel Latushko, um dos sete líderes do conselho de transição criado pela oposição à ditadura, em rede social.

No sábado (11), Lukachenko se reuniu com presos políticos na KGB, de acordo com imagens divulgadas pela ditadura em canais oficiais. O governo afirmou que o objetivo era ouvi-los sobre a nova Constituição, mas Latushko e membros da oposição viram no ato um sinal de preocupação com os protestos, que completaram 64 dias neste domingo.

Além de aumentar a repressão nas ruas neste final de semana, a ditadura tem feito prisões de ativistas e líderes da sociedade civil. No sábado, foram detidos a especialista em comunicações do Escritório da ONU na Belarus, Anora Langar, e o fundador de uma página de petições online, Vladimir Kovalkin.

Na semana passada, homens mascarados levaram a ambientalista Marina Dubina. Ainda não se sabe onde ela está detida. A professora da Faculdade Europeia de Artes Liberais Olga Shparaga foi presa pela segunda vez.

O governo também pressionou pela saída do país do líder sindical Serguei Dilevski, o único membro da cúpula do conselho de transição que ainda está na Belarus. Segundo ele, a administração da fábrica de tratores MTZ, em que ele trabalha, afirmou que, caso se recusasse a sair, seus pais seriam demitidos.

Dilevski ficou 25 dias preso, acusado de “organizar eventos de massa não permitidos” —na Belarus, atos públicos precisam ser autorizados previamente pela ditadura.

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