Volta de Trump deixa Casa Branca perturbada e cheia de protocolos de segurança

Funcionários da residência oficial usam equipamento de proteção descartável completo e recebem consultoria de bem-estar

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Maggie Haberman
Washington | The New York Times

A Casa Branca em que o presidente Donald Trump acordou na manhã de terça-feira (6) estava em pleno caos, mesmo para os padrões de confusão da era Trump.

Assessores disseram que a voz do presidente estava mais forte depois que ele voltou do hospital, na segunda, mas às vezes ele ainda parecia respirar com dificuldade.

A Ala Oeste estava basicamente vazia, sem os assessores que adoeceram com a Covid-19 ou os que receberam ordem para trabalhar em casa —e não no mais famoso epicentro do vírus na capital americana.

Os funcionários da residência oficial na Casa Branca usavam equipamento de proteção descartável completo, incluindo luvas amarelas, máscara cirúrgica e cobertura protetora para os olhos.

Fachada da Casa Branca, em Washington, onde o presidente Donald Trump está em quarentena
Fachada da Casa Branca, em Washington, onde o presidente Donald Trump está em quarentena - Leah Millis/Reuters

Quatro outras autoridades da Casa Branca tiveram diagnóstico de Covid-19, entre os quais Stephen Miller, importante assessor de Trump, elevando a 14 o número de pessoas portadoras do vírus na Casa Branca ou no círculo mais próximo do presidente.

Trump, que anunciou o diagnóstico na semana passada, ainda estava furioso com seu chefe de gabinete, Mark Meadows, cujo esforço no sábado para atenuar o retrato cor-de-rosa da situação de saúde do presidente, pintado pelo médico da Casa Branca, foi registrado por jornalistas.

Outras autoridades estavam irritadas com Meadows por ele nem tentar controlar o presidente.

Alguns assessores tentavam demonstrar confiança —"Estamos à vontade trabalhando aqui, os que ainda estão aqui", disse Alyssa Farah, diretora de comunicações da Casa Branca, em entrevista à Fox News—, mas muitos viram a situação como uma espiral descontrolada.

A pandemia que Trump havia tratado com condescendência durante meses parecia ter tomado a Casa Branca em suas garras. Assessores da Ala Oeste, abalados pelas pesquisas que mostram o presidente muito atrás de Joe Biden, temiam estar vivendo os últimos dias do governo Trump.

A confusão ao mesmo tempo se espalhava por Washington. Quase todo o Estado-Maior Conjunto, incluindo seu presidente, general Mark Milley, entrou em quarentena na terça-feira depois de ter contato com o almirante Charles Ray, vice-comandante da Guarda Costeira, infectado por coronavírus.

No final do dia, a Bolsa despencou quando Trump subitamente cancelou a discussão de uma lei de alívio ao coronavírus apresentada pelo Congresso, depois que o presidente do Federal Reserve (o banco central americano), Jerome Powell, disse que esse estímulo era muito necessário.

Alguns membros da equipe da Casa Branca se questionavam se o comportamento de Trump foi provocado pelo coquetel de drogas que ele tomou para tratar o coronavírus, que inclui dexametasona, esteroide que pode causar alterações de humor e dar um falso nível de energia e sensação de euforia.

Membros do gabinete disseram que o presidente estava feliz por ter voltado à Casa Branca depois de passar quatro dias e três noites no hospital militar Walter Reed, o que, segundo assessores, o fez se sentir enjaulado.

Meadows e Bobby Peede, diretor da equipe que organiza e coordena as viagens do presidente, fizeram-lhe companhia lá durante horas e serviram como linha de comunicação com o resto do governo. Ele chamou outro assessor, Max Miller, para ficar com ele no domingo.

Assessores disseram que Trump fez telefonemas da Casa Branca na terça e percorreu áreas da residência presidencial que foram reservadas a ele. Embora tenha sido descrito como aflito para voltar ao Salão Oval e mostrar que está no comando, um discurso ao vivo à nação foi descartado em favor de outro gravado.

Apoiadores importantes do governo disseram que Trump deveria ter ficado no hospital até que não houvesse mais a possibilidade de ele contaminar outras pessoas. Ou deveria ficar confinado em sua residência.

"Quando um chefe pega Covid, seja esse chefe o presidente, um diretor de uma empresa, um diretor de uma escola, um sindicalista numa fábrica, e o chefe vai trabalhar, ele manda uma mensagem preocupante a todos em torno dele", disse Ari Fleischer, ex-secretário de imprensa do presidente George W. Bush.

"Há uma comunidade de pessoas que trabalham na Casa Branca, não apenas nomeados políticos. Um bom chefe sempre cuida de seus empregados."

Ainda não se sabe a situação exata da saúde do presidente. Sean Conley, médico da Casa Branca, disse na terça que Trump "não apresenta sintomas" do vírus e que seus sinais vitais estão estáveis, mas ninguém na Casa Branca diria que as "conclusões esperadas" estavam no raio-x do tórax de Trump que Conley mencionou no fim de semana.

Não houve respostas, tampouco, sobre quando Trump teve resultado negativo no teste do vírus pela última vez —informação crucial que a Casa Branca e Conley se recusaram a dar e que definiria a situação conhecida da saúde de Trump antes do debate presidencial na última terça ou antes de ele participar de um evento para angariar fundos em Nova Jersey na quinta.

A Casa Branca divulgou pela primeira vez que Trump tinha coronavírus na madrugada de sexta-feira (2).

Duas autoridades afirmaram que Trump tinha sido testado antes do debate presidencial, mas a Casa Branca ainda não confirmou isso.

Autoridades do governo admitiram na terça que se criou uma impressão de que Trump era testado diariamente, e uma confiança nos testes como se fossem um remédio, e não um diagnóstico.

Mas o presidente não era testado todos os dias, segundo duas pessoas com conhecimento das práticas da Casa Branca. Uma autoridade graduada disse apenas na terça que Trump é testado "regularmente". O próprio Trump informou a repórteres na sala de comunicações da Casa Branca em julho: "Eu provavelmente faço um teste em média a cada dois ou três dias".

Conforme a terça-feira avançava, partes da Casa Branca pareciam zonas de risco. Trabalhadores vestidos em macacões de proteção da cabeça aos pés desinfetavam espaços comuns na Ala Oeste, e membros da equipe souberam que a Casa Branca tinha contratado um consultor de "bem-estar" com quem poderiam conversar anonimamente, em especial sobre preocupações de saúde mental.

Na segunda à noite, alguns membros do pessoal se reuniram para ver a volta de Trump. Quando ele desafiadoramente retirou sua máscara no Balcão Truman, num momento criado para a TV, assessores disseram que foi uma afirmação, é claro. Mas eles também se questionaram se a cobertura facial estaria dificultando a respiração do presidente.

De qualquer modo, alguns deles minimizaram a importância da mensagem que Trump estava passando para dezenas de milhões de americanos sobre levar a sério o coronavírus. A sensação, segundo um assessor, era de que "a casa é dele".

Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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