Quarto presidente em 4 anos, Sagasti assume no Peru e diz que vai priorizar eleições limpas

Engenheiro substitui Manuel Merino de Lama, que governou por seis dias

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Buenos Aires

Depois de um minuto de silêncio pelas duas vítimas da repressão às manifestações no agravamento da crise política no Peru, o engenheiro Francisco Sagasti, 76, assumiu a Presidência na tarde desta terça (17).

Ele é o quarto líder no mesmo mandato, iniciado em 2016 e previsto para terminar em 28 de julho de 2021.

Francisco Sagasti, à dir., é escoltado por militar após chegar ao Congresso peruano, em Lima, para cerimônia de posse
Francisco Sagasti, à dir., é escoltado por militar após chegar ao Congresso peruano, em Lima, para cerimônia de posse - Luka Gonzales - 17.nov.20/AFP

Durante o juramento, fez uma emocionada homenagem aos mortos pela polícia no fim de semana —familiares dos jovens compareceram à cerimônia. Sagasti ainda citou os feridos nos protestos e disse que assumia o compromisso de encontrar os mais de 20 peruanos que estão desaparecidos.

O novo presidente afirmou que as prioridades de seu mandato serão a realização de eleições limpas, de acordo com o calendário eleitoral, em abril de 2021, e o enfrentamento das "duas crises que estamos vivendo, a da pandemia do coronavírus e seus efeitos na economia".

Também acrescentou que "será preciso combater outras crises preexistentes que vivíamos por conta da mudança climática e das divisões e rancores que dividem a classe política".

Com um discurso em tom conciliador, afirmou que defenderá a liberdade de expressão e os direitos das mulheres e dos indígenas e que o combate ao coronavírus será baseado no respeito à ciência.

Sagasti é o quarto mandatário do país desde a eleição de Pedro Pablo Kuczynski, em 2016. PPK, como o ex-presidente é conhecido, renunciou antes de passar por um processo de impeachment, sob acusação de envolvimento no escândalo de propinas da empreiteira brasileira Odebrecht.

Seu sucessor, Martín Vizcarra, foi afastado no início de novembro depois de enfrentar dois processos de impeachment, também sob a acusação de recebimento de propina, o que o enquadraria na categoria de "incapacidade moral", impedindo a continuidade no cargo.

Na sequência, assumiu, por apenas seis dias, o congressista Manuel Merino de Lama, que renunciou depois dos episódios de violência que vieram na esteira da crise institucional.

O novo presidente peruano é do partido Morado, de centro, que votou contra o impeachment de Vizcarra.

Ele foi o segundo parlamentar a ser considerado pelo Congresso para assumir o país. A primeira foi a esquerdista Rocío Silva-Santisteban, vetada pelo parlamento no último domingo. Por meio de sua conta no Twitter, o agora ex-presidente Vizcarra cumprimentou o novo mandatário.

"Os jovens levantaram sua voz e exigem mudanças que redefinam o futuro. Todas peruanas e peruanos nos somaremos a esse esforço. Conte com meu apoio", escreveu.

Na segunda-feira (16), Vizcarra citou, também na rede social, que aguarda uma decisão do Tribunal Constitucional, que analisa um recurso à decisão que o afastou do poder. Caso a corte chegue à conclusão de que o processo contra ele foi ilegal, o ex-presidente retomará o cargo.

Francisco Sagasti, que já transitou por partidos de centro-esquerda, é engenheiro formado pela Universidade Nacional de Engenharia do Peru e tem doutorado na Universidade da Pensilvânia (EUA).

Além de acadêmico e autor de 14 livros, é compositor de piano e já produziu documentários para a televisão. Um dos membros de sua família participou a batalha de Tarapacá, um episódio importante da Guerra do Pacífico, em 1879.

Em 1996, Sagasti foi um dos sequestrados durante a invasão da residência do embaixador do Japão por parte do Movimento Revolucionário Túpac Amaru. Esteve, porém, entre os primeiros a serem libertados. ​

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