Ao G20, Bolsonaro refuta debate racial, defende reforma na OMC e celebra combate à Covid

Presidente diz que 'há tentativas de importar tensões alheias à nossa história' e alimentar o ódio

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Brasília

O presidente Jair Bolsonaro contestou neste sábado (21), durante a cúpula do G20, o debate sobre racismo no país dizendo que há quem queira alimentar o conflito e o ódio entre a população.

"O Brasil tem uma cultura diversa, única entre as nações. Somos um povo miscigenado", afirmou no evento virtual, que tem a Arábia Saudita como anfitriã.

"Foi a essência desse povo que conquistou a simpatia do mundo. Contudo, há quem queira destruí-la e colocar em seu lugar o conflito, o ressentimento, o ódio e a divisão entre raças, sempre mascarados de 'luta por igualdade' ou 'justiça social'. Tudo em busca de poder."

O presidente Jair Bolsonaro discursa durante o G20, realizado de forma virtual neste ano por causa da pandemia do novo coronavírus
O presidente Jair Bolsonaro discursa durante o G20, realizado de forma virtual neste ano por causa da pandemia do novo coronavírus - @jairmessias.bolsonaro no Facebook

Ele disse que há interesse na criação de tensões no país e que um povo dividido fica enfraquecido. "Um povo vulnerável pode ser mais facilmente controlado e subjugado. Nossa liberdade é inegociável."

"Enxergo todos com as mesmas cores, verde e amarelo. Não existe uma cor de pele melhor do que as outras. O que existem são homens bons e homens maus, e são as nossas escolhas e valores que determinarão qual dos dois nós seremos", afirmou.

O presidente disse ainda que há "tentativas de importar para o nosso território tensões alheias à nossa história" e que "aqueles que instigam o povo à discórdia, fabricando e promovendo conflitos, atentam não somente contra a nação, mas contra nossa própria história".

As declarações foram dadas um dia após protestos pelo assassinato de um homem negro por seguranças de um supermercado Carrefour em Porto Alegre. João Alberto Silveira Freitas, 40, foi espancado e morto na noite de quinta-feira (19) diante de testemunhas.

Sem citar a morte, o presidente havia falado sobre o “povo miscigenado” na sexta (20) em suas redes sociais e usado algumas das expressões que repetiu na conferência.

Na reunião, Bolsonaro ainda defendeu reformas na OMC (Organização Mundial do Comércio) que sigam três eixos: negociações, solução de controvérsias e monitoramento e transparência. Segundo ele, o governo também espera que o órgão de apelação da OMC possa voltar à plena operação o quanto antes.

"Na reforma da organização, queremos que a ambição de reduzir os subsídios para bens agrícolas conte com a mesma vontade com que alguns países buscam promover o comércio de bens industriais", afirmou.

Bolsonaro disse também que espera que o processo de reforma da OMC contemple o estímulo aos investimentos e a criação de condições justas e equilibradas para o comércio internacional, não só de bens, mas também de serviços.

Apesar da possibilidade de uma nova onda de coronavírus no país, Bolsonaro buscou ressaltar a visão de uma recuperação na economia brasileira.

"À medida que a pandemia é superada no Brasil, a vida das pessoas retorna à normalidade, e as perspectivas para a retomada econômica se tornam mais positivas e concretas."

Mais cedo, Bolsonaro afirmou em vídeo de apresentação para a cúpula do G20 que o governo estava certo em seu entendimento sobre a pandemia do coronavírus.

E afirmou que o Planalto quer dar continuidade ao programa de reformas na economia para fortalecer e estimular o crescimento sustentado do Brasil. "Desde o início, ressaltamos que era preciso cuidar da saúde e da economia simultaneamente. O tempo vem provando que estávamos certos", disse no vídeo, gravado e divulgado antes da reunião entre os líderes.

Apesar de falar sobre cuidar da economia e da saúde simultaneamente, o presidente minimizou em diferentes ocasiões a gravidade da pandemia. Há cerca de uma semana, por exemplo, chamou a possibilidade de uma nova onda do coronavírus de “conversinha".

O presidente disse que o governo apoia o acesso universal, equitativo e a preços acessíveis aos tratamentos disponíveis. "É com esse objetivo que participamos de diferentes iniciativas voltadas ao combate à doença."

Bolsonaro defendeu, no entanto, que as vacinas contra a Covid-19 sejam opcionais. "Defendemos a liberdade de cada indivíduo para decidir se deve ou não tomar a vacina. A pandemia não pode servir de justificativa para ataques às liberdades individuais."

No vídeo deste sábado, o presidente afirmou que a cooperação no âmbito do G20 é essencial para superar a pandemia e retomar o caminho da recuperação econômica e social.

"Neste ano, enfrentamos desafios sem precedentes na história recente", disse. "Devemos manter o firme compromisso de trabalhar pelo crescimento econômico, pela liberdade de nossos povos e a prosperidade do mundo."

O ministro Paulo Guedes (Economia) participa com Bolsonaro da cúpula do G20. As discussões incluirão um plano de ação com medidas de apoio à economia internacional no contexto da pandemia Covid-19.

De acordo com o Ministério da Economia, entre os itens a serem debatidos está a iniciativa para suspensão do serviço da dívida de países mais pobres, a agenda para apoiar o uso de tecnologia no setor de infraestrutura e avanços sobre a tributação da economia digital.

Na sexta, Guedes participou de reunião com ministros de finanças do grupo e afirmou que a recuperação no país tem superado as expectativas de organizações internacionais. Segundo ele, as medidas de emergência contribuíram para a preservação de milhões de vagas de emprego e à retomada da produção.

Guedes reafirmou o compromisso com a promoção de reformas estruturantes para garantir uma retomada econômica sustentada com participação do setor privado e manifestou apoio a uma agenda que garanta investimentos em infraestrutura sustentável e em economia digital.

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