Autocrata do Bahrein, no poder desde 1971, morre aos 84 anos

Xeque Khalifa ficou conhecido por críticas à Primavera Árabe e por vigorosa defesa da monarquia

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Dubai | Reuters

Morreu na manhã desta quarta-feira (11), aos 84 anos, o xeque Khalifa bin Salman Al Khalifa, líder muçulmano que ocupou o cargo de primeiro-ministro do Bahrein por quase meio século.

Figura dominante na política da ilha do Golfo Árabe, o autocrata faleceu em um hospital nos Estados Unidos, de acordo com a BNA, agência de notícias estatal do Bahrein. A causa da morte não foi divulgada.

O xeque Khalifa serviu como primeiro-ministro desde que o país liderado por muçulmanos sunitas declarou independência do Reino Unido, em 1971. A família dele governa o país desde 1783.

O primeiro-ministro do Bahrein, Khalifa bin Salman Al Khalifa (no centro), durante encontro de lideranças asiáticas em Bangcoc, na Tailândia
O primeiro-ministro do Bahrein, Khalifa bin Salman Al Khalifa (no centro), durante encontro de lideranças asiáticas em Bangcoc, na Tailândia - Athit Perawongmetha - 10.out.16/Reuters

Em 2012, em entrevista à revista alemã Der Spiegel, ele foi questionado sobre a incomum longevidade no cargo, ao que respondeu: "E daí? Os sistemas democráticos são muito diferentes. Por que também não podemos ser diferentes?".

Em agosto, deixou o Bahrein para o que a mídia oficial chamou de "uma visita privada ao exterior". Antes, no início do ano, esteve na Alemanha para um tratamento médico cujos detalhes não foram divulgados.

Segundo a BNA, o sepultamento acontecerá após a repatriação do corpo, e o funeral será restrito a familiares. O país decretou luto oficial por uma semana e departamentos fecharão por três dias a partir desta quinta (12).

Na última década, Khalifa tornou-se mais conhecido por sua resposta severa a protestos pró-democracia no Bahrein, em 2011, e por críticas severas a manifestações semelhantes em toda a região —para ele, a Primavera Árabe trouxe apenas "morte, caos e destruição".

Para especialistas, a defesa vigorosa da dinastia foi a característica que melhor definiu sua vida política.

"A morte do premiê mais longevo do mundo será saudada por muitos da oposição política do Bahrein, já que ele é considerado um dos principais arquitetos de um estado cada vez mais repressivo", disse Marc Owen Jones, professor de estudos do Oriente Médio na Universidade Hamad Bin Khalifa, no Qatar.

Exilado no Reino Unido, Sayed Ahmed Alwadaei, proeminente ativista de direitos humanos do Bahrein, atribui ao xeque Khalifa a "repressão brutal" a opositores durante os anos 1990 e ao levante de 2011.

Entidades humanitárias criticam aliados ocidentais do Bahrein, especialmente britânicos e americanos, que têm nível de influência particularmente alto no país, por se omitirem em relação às reiteradas denúncias de abusos contra direitos humanos de muçulmanos xiitas.

A oposição do Bahrein reclama de discriminação em áreas como trabalho e serviços públicos e exige uma monarquia constitucional com um governo escolhido dentro de um parlamento eleito democraticamente. Há relatos de milhares de prisões arbitrárias e denúncias de tortura e maus tratos. A dinastia nega.

Ainda não houve declarações oficiais sobre quem deve suceder o xeque Khalifa como primeiro-ministro —a indicação, segundo as leis do país, é do rei Hamad bin Isa Al Khalifa, sobrinho do premiê.

"Embora sua sucessão não seja clara, ela abre caminho para a crescente influência desimpedida do príncipe herdeiro, que terá mais voz ativa nas questões sociais e talvez econômicas", avalia Jones.

O xeque Salman bin Hamad Al Khalifa foi nomeado príncipe herdeiro do Bahrein em 1999 e se tornou conhecido por defender reformas na monarquia. As mudanças mais significativas, porém, vinham sendo barradas por membros mais conservadores da família real, como o próprio xeque Khalifa.

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