China parabeniza Biden por vitória nos EUA e deixa Bolsonaro ainda mais isolado

Porta-voz do país asiático, porém, afirma que resultados serão definidos segundo leis e procedimentos da Justiça americana

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Pequim | Reuters

Quase uma semana após as projeções da imprensa americana declararem Joe Biden presidente eleito dos EUA, a China reconheceu o resultado do pleito e parabenizou o democrata e sua vice, Kamala Harris.

"Respeitamos a escolha do povo americano. Estendemos nossos parabéns ao sr. Biden e à sra. Harris", disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Wang Wenbin, em entrevista nesta sexta (13).

A autoridade chinesa, no entanto, deu a entender que ainda aguarda o resultado das contestações judiciais feitas pela campanha de Donald Trump. "Entendemos que os resultados das eleições americanas serão determinados de acordo com as leis e os procedimentos dos EUA", acrescentou Wang.

O porta-voz do Ministério das relações Exteriores da China, Wang Wenbin, durante entrevista coletiva em Pequim
O porta-voz do Ministério das relações Exteriores da China, Wang Wenbin, durante entrevista coletiva em Pequim - Greg Baker - 9.nov.20/AFP

Junto a Rússia, Coreia do Norte, México e Brasil, a China era um dos últimos países cujas lideranças ainda não tinham reconhecido a vitória democrata. Um porta-voz do presidente russo, Vladimir Putin, disse que seria apropriado "esperar um anúncio oficial", mesma posição do mexicano Andrés Manuel López Obrador.

Já o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, ignorou pelo sexto dia seguido a vitória do candidato democrata e, nesta quinta (12), questionou se a disputa já havia terminado. "Está acompanhando as eleições lá? Qual tua opinião?", perguntou Bolsonaro a uma apoiadora no Palácio da Alvorada.

"Uma tristeza", diz ela. O presidente, de forma irônica, acrescenta: "Mas já acabaram as eleições lá?".

A apuração ainda não foi encerrada nos EUA e deverá levar mais alguns dias para ser concluída, como tradicionalmente ocorre nos pleitos no país. Biden, porém, já tem votos suficientes para atingir mais que os 270 delegados necessários para ser eleito.

Trump, atual presidente americano, segue contestando os resultados e tentando reverter os números por meio de ações judiciais. Não há, entretanto, evidências de fraudes no processo eleitoral, o que deve permanecer como um obstáculo à empreitada republicana.

Sem um sistema eleitoral centralizado, o vencedor é conhecido após projeções da imprensa com base nas apurações estaduais. Normalmente o anúncio dos veículos de mídia é suficiente para que o perdedor admita o resultado, mas Trump insiste, sem apresentar provas, que houve irregularidades eleitorais.

Autoridades eleitorais americanas disseram nesta quinta-feira "não haver evidência" de que votos foram perdidos ou alterados, ou de que os sistemas de votação tenham sido corrompidos.

"As eleições de 3 de novembro foram as mais seguras da história americana", afirmaram em um comunicado conjunto o Conselho Governamental de Coordenação de Infraestrutura Eleitoral e o Conselho de Coordenação Setorial de Infraestrutura, que reúnem órgãos nacionais e estaduais responsáveis por organizar o processo eleitoral e garantir sua segurança.

Além de ter preferência pelo republicano, Bolsonaro não gostou de declarações de Biden durante o primeiro debate presidencial americano, quando o democrata disse que "a floresta tropical no Brasil está sendo destruída" e que poderia impor sanções e mobilizar até US$ 20 bilhões (R$ 108,4 bilhões) para ajudar na proteção da Amazônia. À época, o presidente brasileiro classificou a fala como lamentável.​

O silêncio diante da vitória democrata contrasta com a atitude de outros presidentes brasileiros. Em 1988, os americanos escolheram o republicano George H. W. Bush como líder do país. A Folha do dia 10 de novembro, dois dias após a eleição, trouxe a manifestação do então presidente José Sarney.

Quatro anos depois, foi a vez do então presidente Itamar Franco felicitar Bill Clinton por ter vencido o pleito disputado em 3 de novembro. Ele enviou um telegrama a Clinton no dia seguinte e classificou o êxito do jovem governador do Arkansas como uma "vitória da democracia".

Em 1996, Clinton se reelegeu com folga em uma votação em 5 de novembro. A Folha do dia 7 informou que o então presidente Fernando Henrique Cardoso enviara carta ao democrata dizendo que estava disposto a auxiliá-lo a "construir uma ponte" ao próximo século.

A eleição dos EUA que também teve um tumultuado período pós-votação foi a de 2000, quando George Bush —filho do homem parabenizado por Sarney em 1988— enfrentou o então vice-presidente Al Gore.

A população foi às urnas em 7 de novembro, mas na noite da disputa ainda não estava claro quem era o vencedor. Com diferença de votos apertada na Flórida, houve batalha judicial ao longo de um mês.

A distância entre Bush e Gore na região, porém, chegou a estar na casa das centenas de votos, difernetemente do cenário atual, e todo o litígio se concentrou em apenas um estado. FHC enviou as felicitações a Bush depois da decisão da Suprema Corte que lhe garantiu a Presidência.

Na disputa pela reeleição, Bush teve vitória um pouco mais folgada e recebeu cumprimentos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva logo após o triunfo. Em 2008, no dia seguinte à eleição do primeiro presidente negro dos EUA, Lula classificou a vitória de Barack Obama como um "feito extraordinário". Dilma Rousseff foi ágil ao dar os parabéns pela reeleição de Obama, em novembro de 2012.

Quatro anos depois, o então presidente Michel Temer comentou o resultado das eleições dos EUA logo após a confirmação da vitória de Trump.

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