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Como os superpropagadores de desinformação disseminam teorias falsas sobre eleições dos EUA

Perfis ligados à direita foram prinicipais fontes de mentiras sobre a apuração que mostrou derrota de Trump

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Sheera Frenkel
The New York Times

Na manhã de 5 de novembro, Eric Trump, um dos filhos do presidente, pediu a seus seguidores no Facebook para denunciarem casos de fraude eleitoral, usando a hashtag "Stop the Steal" (parem o roubo). Seu post foi compartilhado mais de 5.000 vezes.

No final da tarde, as personalidades da mídia conservadora Diamond e Silk compartilharam a hashtag e um vídeo alegando ocorrência de fraude eleitoral na Pensilvânia. O post deles foi compartilhado mais de 3.800 vezes.

Naquela noite, o ativista conservador Brandon Straka convidou pessoas a protestarem em Michigan sob a bandeira @StoptheSteal. Seu posto foi compartilhado mais de 3.700 vezes.

O deputado Vernon Jones discursa a apoiadores de Donald Trump durante comício em Atlanta
O deputado Vernon Jones discursa a apoiadores de Donald Trump durante comício em Atlanta - Elijah Nouvelage - 21.nov.20/Getty Images/AFP

Ao longo da semana seguinte, a frase “Stop the Steal” foi usada para promover dezenas de comícios que disseminaram denúncias falsas sobre supostas fraudes cometidas por eleitores na eleição presidencial americana.

Uma pesquisa nova da organização global de defesa dos direitos humanos Avaaz, da coalizão Elections Integrity Partnership e do New York Times mostra como um grupo pequeno de pessoas, em sua maioria personalidades de direita que exercem influência desproporcional nas redes sociais, ajudou a propagar a narrativa falsa sobre fraude de eleitores que levou àquelas manifestações.

Como os convidados de uma grande festa de casamento promovida durante a pandemia, os integrantes do grupo foram “superpropagadores” de desinformação sobre fraude eleitoral, semeando falsidades que incluem alegações de que mortos votaram, máquinas de voto apresentaram problemas técnicos e cédulas de voto enviadas pelos correios não foram contadas corretamente.

“Por causa de como funciona o algoritmo do Facebook, esses superpropagadores são capazes de manipular um discurso”, disse Fadi Quran, um diretor da Avaaz. “Existe uma suposição frequente de que desinformação ou boatos simplesmente se multiplicam por conta própria. A ação desses superpropagadores mostra que há um esforço intencional para redefinir a narrativa pública.”

Cerca de 3,5 milhões de interações (incluindo curtidas, comentários e compartilhamentos) ocorreram no Facebook em relação a posts públicos aludindo a “Stop the Steal” durante a semana de 3 de novembro, segundo a pesquisa. Desse total, os perfis de Eric Trump, Diamond e Silk e Straka foram responsáveis por uma parcela desproporcional: cerca de 6% dessas interações, ou 200 mil.

Embora o impacto do grupo tenha sido notável, não chegou perto da disseminação de desinformação promovida pelo presidente Donald Trump desde então. Todos os 20 posts no Facebook na semana passada contendo a palavra “eleição” que suscitaram o maior número de reações emanaram de Trump, segundo a ferramenta analítica Crowdtangle, pertencente ao Facebook. Verificadores independentes concluíram que todas essas alegações eram falsas ou enganosas.

As alegações infundadas sobre fraude eleitoral vêm sendo usadas pelo presidente e seus seguidores para contestar a eleição em vários Estados americanos. Relatos sobre máquinas de voto que não funcionaram corretamente, votos postais intencionalmente contados incorretamente e outras irregularidades que teriam afetado o voto foram investigados por funcionários eleitorais e jornalistas, que não encontraram nenhuma evidência de fraude eleitoral em grande escala.

As alegações de fraude eleitoral continuaram a ganhar ímpeto nas últimas semanas, graças em grande medida a contas importantes. Uma análise rápida de um período de quatro semanas começando em meados de outubro mostra que Trump e os 25 maiores superpropagadores de desinformação sobre fraude eleitoral foram responsáveis por 28,6% das interações que as pessoas tiveram com esses conteúdos, segundo análise da Avaaz.

“O que vemos essas pessoas fazendo é um pouco como atear fogo com combustível: o objetivo é criar um incêndio rapidamente”, disse Quran. “As pessoas em questão já acumularam poder suficiente para garantir que a desinformação que transmitem chegue a milhões de americanos.”

Para localizar os superpropagadores, a Avaaz compilou uma lista de 95.546 posts no Facebook que incluíam narrativas sobre fraude eleitoral. Esses posts foram curtidos, compartilhados ou comentados quase 60 milhões de vezes por pessoas no Facebook.

A Avaaz descobriu que apenas 33 dos 95.546 posts foram responsáveis por mais de 13 milhões dessas interações. Aqueles 33 posts criaram uma narrativa que acabaria por moldar o que milhões de pessoas pensaram sobre a legitimidade das eleições americanas.

Um porta-voz do Facebook disse que a empresa afixou etiquetas aos posts que fizeram afirmações enganosas sobre o processo eleitoral e está encaminhando as pessoas a um centro de informação eleitoral.

“Estamos aproveitando todas as oportunidades possíveis para direcionar as pessoas a informações confiáveis sobre a eleição e sobre como os votos estão sendo contados”, disse o porta-voz do Facebook, Kevin McAllister.

A empresa ainda não explicou por que contas que compartilham desinformação com frequência, como as de Straka e de Diamond e Silk, não foram penalizadas. O Facebook declarou anteriormente que Trump, juntamente com outros políticos eleitos, goza de status especial e que seus posts não são submetidos a verificação.

Muitas das contas de superpropagadores tiveram milhões de interações sobre seus posts no Facebook nos últimos 30 dias e vêm crescendo continuamente. As contas estiveram ativas no Twitter, além do Facebook, e com frequência crescente disseminaram as mesmas desinformações em novas redes sociais como Parler, MeWe e Gab.

Dan Bongino, comentarista de direita com quase 4 milhões de seguidores no Facebook, teve mais de 7,7 milhões de interações no Facebook na semana de 3 de novembro. O radialista de direita Mark Levin teve quase 4 milhões de interações, e Diamond e Silk, 2,5 milhões. Uma revisão de suas páginas conduzida pelo New York Times revela que a maioria de seus posts trata das eleições recentes e das narrativas de fraude eleitoral em torno delas.

Nenhum dos superpropagadores identificado neste artigo respondeu a pedidos de comentários.

Tradução de Clara Allain

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