Em 1ª reunião bilateral com presidente argentino, Bolsonaro lamenta morte de Maradona

Líder brasileiro afirma que jogador foi grande atleta e diz querer ampliar acordos do Mercosul

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Brasília e Buenos Aires

Na primeira reunião bilateral com o presidente da Argentina, Alberto Fernández, nesta segunda (30), o presidente Jair Bolsonaro iniciou a conversa com condolências pela morte de Diego Armando Maradona, no último dia 25.

O líder brasileiro ainda não havia se manifestado sobre o episódio. De acordo com relatos, Bolsonaro se solidarizou com o povo argentino e disse que o ex-jogador de futebol, que era ligado a figuras históricas da esquerda, como Hugo Chávez e Fidel Castro, foi "um grande atleta" que marcou o esporte.

"Todos sentimos muito pelo que ocorreu com Maradona", disse Bolsonaro.

O presidente Jair Bolsonaro durante videoconferência com Alberto Fernández
O presidente Jair Bolsonaro durante videoconferência com o argentino Alberto Fernández - Alan Santos/Presidência da República

O encontro, que teve como pano de fundo a celebração do Dia da Amizade Argentino-Brasileira, foi realizado por videoconferência e durou cerca de 40 minutos.

A data foi instituída em 1985, quando houve o encontro dos presidentes José Sarney e Raúl Afonsín em Foz do Iguaçu. Sarney também participou do encontro nesta segunda e desejou sucesso ao argentino.

Essa foi a primeira conversa direta entre Bolsonaro e Fernández, com quem o brasileiro se recusava a falar desde outubro do ano passado, quando o peronista foi eleito para comandar o maior parceiro comercial do Brasil na América Latina.

À época, o líder brasileiro fez campanha para Mauricio Macri, presidente que buscava a reeleição. Após o pleito, Bolsonaro afirmou que não cumprimentaria Fernández e criticou o "retorno do kirchnerismo" ao país vizinho, o que identificou como uma guinada de rumo da Argentina "em direção à Venezuela".

Além do mais, Bolsonaro não compareceu à posse de Fernández em Buenos Aires e enviou o vice-presidente Hamilton Mourão como representante do Brasil.

O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do brasileiro, foi ainda mais explícito em postagens nas redes sociais nas quais criticou o governo argentino. Em setembro, afirmou que o que estava acontecendo na Argentina devido à longa quarentena imposta por Fernández era uma calamidade e que o país tinha sido "destruído por seu governo socialista em poucos meses".

Em julho, Bolsonaro e Fernández participaram de uma videoconferência de líderes do Mercosul, na qual também estavam os presidentes Mario Abdo Benítez (Paraguai), Luis Lacalle Pou (Uruguai), Sebastián Piñera (Chile), Ivan Duque (Colômbia) e a ex-presidente boliviana Jeanine Añez.

Apesar dos choques entre Bolsonaro e Fernández, recentemente houve uma aproximação entre os países, desde que o embaixador Daniel Scioli assumiu o cargo em Brasília. Há poucos dias, Scioli e Eduardo estiveram juntos em um jantar com outros diplomatas.

À Folha o embaixador afirmou que a conversa com o deputado brasileiro foi "informal e relaxada" e que a Argentina queria "colocar o foco nas coincidências e na agenda positiva com o Brasil".

A nomeação de Scioli —ex-candidato a presidente e ex-governador de Buenos Aires— foi avaliada como um sinal de que o governo argentino considera prioritário manter relações amistosas com o Brasil, mesmo diante das diferenças ideológicas entre os dois presidentes.

No encontro virtual desta segunda-feira, em que houve o auxílio de tradutores, o presidente argentino pediu que as “diferenças do passado" sejam deixadas para trás e que "o futuro seja encarado com as ferramentas que funcionam bem" para os dois países, “potencializando todos os pontos de acordo”.

Fernández também pediu que Argentina e Brasil trabalhem juntos na área ambiental, "um assunto que nos preocupa muito". "Devemos fazer um acordo de preservação", disse ele, antes de acrescentar que o país tem condições de desenvolver fornecimento de gás ao Brasil.

O Palácio do Planalto não fez nenhuma divulgação prévia sobre a teleconferência, que não constou na agenda oficial de Bolsonaro. O presidente, no entanto, fez uma publicação nas redes sociais sobre a conversa. No fim da tarde, o Twitter do Planalto também divulgou o encontro.

“Videoconferência com o presidente da Argentina, Alberto Fernández. Dia da amizade, instituído pelo ex-presidente José Sarney em 1985. Comércio Brasil-Argentina em pauta”, escreveu o brasileiro.

Após as falas iniciais, de acordo com pessoas que acompanharam a reunião, os mandatários abordaram as prioridades dos respectivos governos na agenda bilateral. Fernández defendeu o aprofundamento da integração no Mercosul, enquanto Bolsonaro ressaltou a meta de reduzir a TEC (Tarifa Externa Comum) e ampliar os acordos comerciais do bloco.

Esses dois temas contrapõem o governo peronista na Argentina e a administração Bolsonaro. Os argentinos resistem a baixar a TEC, sob o argumento de que essa decisão prejudicaria sua indústria nacional, e, por isso, têm colocado travas às negociações de tratados comerciais.

A TEC é um imposto de importação partilhado entre os sócios do Mercosul e precisa da anuência dos quatro membros para ser reformada. Por isso, ainda que tenha chamado o bloco de "nosso pilar de integração", Bolsonaro destacou a necessidade de criar "mecanismos mais ágeis e menos burocráticos".

Segundo assessores do Planalto, um fator que pesou na aproximação dos mandatários foi o recente movimento de Fernández para se afastar de sua vice, a ex-presidente Cristina Kirchner, ícone peronista.

Ambos discordam sobre os rumos que o país deve tomar para contornar os danos causados pela pandemia de Covid-19 à economia argentina.​

Na conversa desta segunda, ambos líderes também debateram a pandemia de Covid-19 e a expectativa do lançamento de uma vacina. O argentino agradeceu ao governo brasileiro por ter permitido a exportação excepcional de midazolam, um sedativo usado no tratamento de pacientes com coronavírus.

Houve convites de visitas presidenciais de ambos os lados para um futuro próximo, quando estejam dadas as condições sanitárias.

Também discutiram a possibilidade de se realizar, em breve, uma cerimônia com os presidentes dos quatro sócios do Mercosul. A ideia é que essa reunião ocorra no Uruguai.

A proposta, segundo debateram Bolsonaro e Fernández na videoconferência, é realizar um ato que sirva como demonstração de força do bloco comercial.

Formado por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, o Mercosul vive um momento delicado diante da diferença de opiniões dos seus dois maiores sócios.

Enquanto o Brasil prega uma maior abertura comercial do bloco, os argentinos adotam uma postura mais protecionista, o que gerou atritos com o governo Bolsonaro.

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