Descrição de chapéu Diplomacia Brasileira

Itamaraty diz em carta que reação da China a Eduardo foi ofensiva e desrespeitosa

Ministério comandado por Ernesto Araújo responde a mensagem da missão diplomática chinesa

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Brasília

O Itamaraty repreendeu a embaixada da China pelas críticas contra o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e disse, em ofício, que a resposta da missão diplomática ao parlamentar traz conteúdo "ofensivo e desrespeitoso".

"Não é apropriado aos agentes diplomáticos da República Popular da China no Brasil tratarem dos assuntos da relação Brasil-China através das redes sociais. Os canais diplomáticos estão abertos e devem ser utilizados", disse o ministério das Relações Exteriores, em carta enviada aos representantes do governo chinês no Brasil na quarta-feira (25).

O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, em Brasília - Marcos Corrêa - 21.nov.20/Presidência da República

"O tratamento de temas de interesse comum por parte de agentes diplomáticos da República Popular da China no Brasil através das redes sociais não é construtivo, cria fricções completamente desnecessárias e apenas serve aos interesses daqueles que porventura não desejem promover as boas relações entre o Brasil e a China. O tom e o conteúdo ofensivo e desrespeitoso da referida 'Declaração' prejudicam a imagem da China junto à opinião pública brasileira", segue a mensagem da chancelaria brasileira.

A correspondência foi revelada pelo canal de notícias CNN Brasil.

Com a carta, o Itamaraty responde à manifestação dos chineses contra uma publicação de Eduardo —filho de Jair Bolsonaro (sem partido) e presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara—, que associou o governo de Pequim à espionagem de dados.

O deputado destacou em suas redes sociais na noite de segunda (23) que o Brasil endossou iniciativa dos Estados Unidos para manter a segurança da tecnologia 5G "sem espionagem da China".

"O governo Jair Bolsonaro declarou apoio à aliança Clean Network, lançada pelo governo Donald Trump, criando uma aliança global para um 5G seguro, sem espionagem da China”, escreveu. "Isso ocorre com repúdio a entidades classificadas como agressivas e inimigas da liberdade, a exemplo do Partido Comunista da China”, completou o deputado.

No dia seguinte, o parlamentar apagou a postagem. Ainda assim, a embaixada chinesa no Brasil respondeu e defendeu que Eduardo e outros críticos do país asiático abandonassem a retórica da extrema direita norte-americana, para evitar "consequências negativas".

A embaixada disse que o deputado acusou a China de fazer espionagem cibernética e ressaltou que ele defendeu iniciativa que discrimina a tecnologia 5G chinesa. "Tais declarações infundadas não são condignas com o cargo de presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados", afirmou a representação diplomática.

Na correspondência à embaixada, o Itamaraty classificou de "altamente inadequado" que a missão diplomática "se pronuncie sobre as relações do Brasil com terceiros países, tendo presente que a embaixada do Brasil em Pequim não se pronuncia sobre as relações da República Popular da China com terceiros países".

A chancelaria brasileira também disse aos chineses que o governo toma decisões soberanas sobre temas de interesse estratégico do Brasil. "O respeito mútuos às respectiva soberanias é fundamental para as ótimas relações que temos desenvolvido", conclui a carta.

Depois da publicação de Eduardo nas redes sociais, a embaixada da China enviou uma reclamação ao Itamaraty. Esse primeiro documento não foi tornado público, mas o fato de a missão diplomática ter publicado uma declaração posterior gerou incômodo na equipe do ministro Ernesto Araújo.

Não é a primeira vez que Eduardo protagoniza um choque com a embaixada chinesa em Brasília. Em março, ele comparou a pandemia de coronavírus ao acidente nuclear de Tchernóbil, na Ucrânia, em 1986.

As autoridades, à época submetidas a Moscou, ocultaram a dimensão dos danos e adotaram medidas de emergência que custaram milhares de vidas. ​A associação feita pelo parlamentar em março gerou duras críticas do embaixador da China no Brasil, Yang Wanming.


As crises diplomáticas mais recentes entre Brasil e China

19.mar.20
O deputado federal Eduardo Bolsonaro criou uma crise ao comparar o coronavírus ao acidente nuclear de Tchernóbil, ocorrido na Ucrânia em 1986, dizendo que “a culpa é da China [pela pandemia] e liberdade seria a solução”. A embaixada chinesa chamou as palavras de “extremamente irresponsáveis” e sugeriu que seriam imitação da retórica da direita americana. “Ao voltar de Miami, contraiu vírus mental, que está infectando a amizades entre os nossos povos”, escreveu no Twitter. À época, o presidente Jair Bolsonaro teve de ligar para o dirigente da China, Xi Jinping, para aparar as arestas criadas pelo filho

4.abr.20
O então ministro da Educação Abraham Weintraub sugeriu que a pandemia seria parte de um plano chinês de dominação mundial e fez uma comparação racista entre o sotaque dos asiáticos e a dicção do personagem Cebolinha, da Turma da Mônica. A embaixada chinesa chamou a declaração de “absurda e desprezível” e apontou “cunho fortemente racista”

21.out.20
O presidente Jair Bolsonaro suspendeu a compra de 46 milhões de doses da Coronavac, dizendo que se recusaria a comprá-la “pela sua origem”. Semanas depois, voltou atrás, dizendo que autorizaria a compra se o preço for acessível e sua eficácia for comprovada pela Anvisa

24.nov.20
No Twitter, Eduardo Bolsonaro manifestou apoio ao Clean Network, programa da gestão Donald Trump que criaria “uma aliança global para um 5G seguro, sem espionagem da China”. Segundo o deputado, trata-se de “repúdio a entidades classificadas como agressivas e inimigas da liberdade, a exemplo do Partido Comunista da China”.
Em resposta, a embaixada chinesa no Brasil acusou Eduardo de caluniar o país. “Isso é totalmente inaceitável para o lado chinês e manifestamos forte insatisfação e veemente repúdio a esse comportamento”, afirmou

26.nov.20
O Itamaraty repudiou o repúdio dos chineses, afirmando que “não é apropriado aos agentes diplomáticos [chineses] tratarem da relação Brasil-China através das redes sociais”

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