Descrição de chapéu Eleições EUA 2020

Entenda a indefinição nos estados que ainda contam os votos para presidente dos EUA

Trump lidera na maior parte das regiões indefinidas, mas distância diminui, e vantagem pode ser de Biden

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São Paulo

Se o Brasil apura o ganhador de suas eleições em algumas horas, como um estado do país mais poderoso do mundo pode levar quase dois dias para terminar a contagem de votos?

Pois, como o resto do mundo assiste desde a noite de terça-feira (3), a tarefa pode ser bem complicada.

Nesta quinta (5), seis estados —Alasca, Carolina do Norte, Pensilvânia, Geórgia, Nevada e Arizona— ainda não tinham definido seu vencedor. Assim, não é possível saber se Donald Trump ganhará mais quatro anos de mandato ou se será a vez de o democrata Joe Biden morar na Casa Branca.

Máquina conta votos na cidade de Phoenix, no Arizona
Máquina conta votos na cidade de Phoenix, no Arizona - Courtney Pedroza/Getty Images/AFP

Em muitos outros locais, diga-se, a contagem das cédulas também não terminou, mas como a vantagem do candidato na liderança é muito grande, já é possível projetar o vencedor.

O placar neste momento aponta que o presidente tem 214 votos já garantidos no Colégio Eleitoral, contra 253 de seu adversário. Para ser reeleito, o republicano precisa vencer na Pensilvânia, na Geórgia e em dois entre Carolina do Norte, Nevada e Arizona.

Já seu rival será eleito se conquistar a Pensilvânia ou qualquer outros dois dos quatro estados —a lista não inclui o Alasca, onde Trump é amplo favorito. De acordo com o jornal The New York Times, o presidente tem apenas quatro combinações na qual se torna vencedor, enquanto Biden tem 27.

E existe ainda um cenário que pode terminar com os candidatos empatados com 269 votos no Colégio Eleitoral: se Biden vencer apenas a Geórgia, e Trump levar o resto.

Nesse caso, a definição do próximo presidente caberia à Câmara dos Representantes, enquanto o Senado ficaria a cargo de escolher que ocuparia a Vice-Presidência. Tudo isso devido ao tal Colégio Eleitoral, nome dado ao sistema indireto que define que vai comandar os Estados Unidos.

Nesse modelo, a votação que define o presidente é, na verdade, um conjunto de 51 pleitos que ocorrem de maneira simultânea, um para cada estado mais o do Distrito de Columbia, onde fica a capital, Washington.

Isso porque cada estado tem número de votos proporcional à população. O Texas, com 29 milhões de habitantes, por exemplo, tem direito a 38 representantes. Já Vermont, com 623,9 mil, a 3.

O vencedor em um estado leva todos os votos referentes a ele, com exceção de Maine e Nebraska, que dividem os delegados de maneira um pouco mais proporcional. No fim do processo, é eleito quem conquistar mais da metade dos votos no Colégio Eleitoral —270 dos 538 votos possíveis.

Assim, a senha para vencer é conquistar os estados onde a disputa é mais apertada. É o caso da Geórgia, onde a vantagem de Trump sobre Biden tem diminuído nas últimas 24 horas.

Com quase 5 milhões de votos apurados —o equivalente a 98% do total—, o republicano tinha ali uma vantagem de apenas 9.000 votos sobre Biden no fim da tarde desta quinta.

O problema para o presidente é que a maior parte das cédulas que ainda precisam ser contabilizadas no estado é de Atlanta, majoritariamente democrata. Ou seja, a margem deve seguir diminuindo.

É impossível nesse momento saber, porém, se Biden vai conseguir o número de votos necessários para virar a disputa. Analistas preveem que menos de mil votos podem definir o vencedor no estado.

A situação é bastante semelhante na Pensilvânia, onde Trump tem 90 mil votos a mais que Biden com 93% das urnas apuradas. Ali, também, a maior parte dos votos que faltam ser contabilizados é de uma região majoritariamente democrata —nesse caso, a cidade da Filadélfia e suas proximidades.

Segundo a rede de TV CNN, Biden precisa conquistar algo entre 60% e 65% dos votos que faltam para vencer no estado e, nas últimas 24 horas, recebeu 75% deles.

Diante do cenário cada vez mais favorável ao adversário, a campanha do republicano entrou com uma ação para tentar suspender a contagem no estado e em Michigan, onde o democrata já venceu.

A demora na definição da Pensilvânia já era esperada, uma vez que, no estado, as 2,5 milhões de cédulas que chegaram por correio só poderiam ser contadas a partir do dia da eleição, mesmo que tivessem sido recebidas antes. Além disso, algumas delas demoraram a chegar devido a atrasos no correio.

A legislação estadual determina uma série de regras para a contagem dos votos por via postal, que incluem desde a verificação dos dados do eleitor até a checagem do peso da cédula.

Em oposição à situação na Geórgia e na Pensilvânia, Trump tem chance de conquistar uma virada no Arizona, um dos estados no qual a apuração tem sido alvo de indefinições, ilustradas pelo modo como diferentes veículos tem noticiado a contagem no estado.

Os Estados Unidos não possuem um órgão eleitoral como no Brasil, que organiza, apura e divulga o resultado das eleições. Lá, cada estado é responsável pelas votações em seu território, e é a imprensa que agrega os resultados e os soma para que se saiba quem terá o maior número de delegados.

Assim, para declarar o vencedor, os veículos costumam analisar como está a apuração, que regiões do estado ainda precisam ser contabilizadas e as pesquisas de intenção de voto.

No Arizona, porém, houve divisão. Uma série de veículos —incluindo a agência Associated Press, o canal de TV Fox News e o jornal The Wall Street Journal— declarou a vitória de Biden no estado, enquanto o New York Times e a CNN seguem classificando a disputa como indefinida.

Até a manhã desta quinta (5), a AFP, agência de notícias que compila as informações do mapa eleitoral divulgadas pela Folha, ainda contabilizava o estado para Biden. Como a vantagem caiu durante a noite anterior, a empresa recuou e voltou a classificar a disputa como indefinida.

Isso porque a margem do democrata sobre o republicano atualmente está em torno de 65 mil votos —a diferença chegou a ser de mais de 200 mil. Não está claro ainda, no entanto, de onde exatamente virão os votos que faltam, o que torna difícil saber se a tendência é de redução da margem em grande quantidade.

Já em Nevada, a situação parece um pouco mais estável, com o democrata ampliando sua vantagem sobre o rival para a casa dos 12 mil votos. Como a maior parte das urnas que ainda precisam ser contabilizadas é de Las Vegas, região com apoio majoritariamente a Biden, ele é o favorito ali.

Matematicamente, o democrata ainda pode vencer nos outros dois estados restantes, Alasca e Carolina do Norte, mas a possibilidade de isso acontecer é pequena, e Trump aparece como favorito em ambos.

Independentemente do que acontecer, a Pensilvânia é o único local que indicou a possibilidade de definir o vencedor ainda nesta quinta. Nos outros estados, a situação foi resumida por Joe Gloria, autoridade eleitoral do condado onde fica Las Vegas: “Nosso objetivo não é agir com velocidade”.

Paulo Muzzolon

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