Ernesto Araújo cita filósofo chinês em rede social, em crítica velada à China

Chanceler menciona tentativa de 'controlar o mundo'; Itamaraty e embaixada vêm trocando farpas

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São Paulo

O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, publicou no Twitter neste sábado (28) trecho de livro do filósofo chinês Lao Tzu sobre tentar “controlar o mundo”, em mais um capítulo da troca de estocadas entre o Itamaraty e a China nos últimos dias.

Embora Ernesto não tenha se referido diretamente à China, o trecho postado —“Tentando controlar o mundo? Vejo que não conseguirás. O mundo é um vaso espiritual e não pode ser controlado”—, do "Tao Te Ching", um dos principais textos do taoísmo, foi uma crítica velada ao país asiático.

O chanceler frequentemente condena uma suposta tentativa de dominação do comunismo no mundo e se refere à Covid-19 como “comunavírus”. Ele e o presidente Jair Bolsonaro têm alertado para a “cristofobia”, e a China aparece como um dos países que persegue cristãos, ainda que, na maior parte do mundo, outras religiões sejam alvos mais frequentes de repressão.

Na quarta-feira (25), o Itamaraty enviou um ofício repreendendo a embaixada da China pelas críticas contra o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), dizendo que a resposta da missão diplomática ao parlamentar trazia conteúdo "ofensivo e desrespeitoso".

"Não é apropriado aos agentes diplomáticos da República Popular da China no Brasil tratarem dos assuntos da relação Brasil-China através das redes sociais. Os canais diplomáticos estão abertos e devem ser utilizados", afirmou o Itamaraty na carta aos representantes do governo chinês no país.

Ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, participa de evento em Brasília.
Ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, participa de evento em Brasília. - Marcos Corrêa/PR

Com a carta, o Itamaraty respondeu à manifestação dos chineses contra uma publicação de Eduardo —filho de Jair Bolsonaro (sem partido) e presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara—, que associou o governo de Pequim a espionagem de dados.

O deputado afirmou em suas redes sociais na noite de segunda (23) que o Brasil endossou iniciativa dos Estados Unidos para manter a segurança da tecnologia 5G "sem espionagem da China".

"O governo Jair Bolsonaro declarou apoio à aliança Clean Network, lançada pelo governo Donald Trump, criando uma aliança global para um 5G seguro, sem espionagem da China”, escreveu.

"Isso ocorre com repúdio a entidades classificadas como agressivas e inimigas da liberdade, a exemplo do Partido Comunista da China”, disse o deputado.

No dia seguinte, Eduardo apagou a postagem. Ainda assim, a embaixada chinesa no Brasil respondeu, exortando Eduardo e outros críticos do país asiático a abandonar a retórica da extrema direita dos EUA, para evitar "consequências negativas".

O taoísmo e o confucionismo são as únicas religiões toleradas e incentivadas pelo governo chinês.

O Partido Comunista sempre reprimiu o poder de mobilização das religiões em geral e, no governo de Xi Jinping, houve aumento da perseguição a cristãos, com remoção de cruzes e destruição de igrejas, e a muçulmanos —principalmente uigures.

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