Ernesto cobra informações de órgãos do Itamaraty para traçar cenários com Biden

Pedido de subsídios de ministro ocorre no dia seguinte à vitória do democrata e com Bolsonaro ainda em silêncio sobre EUA

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Brasília

Enquanto o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) silencia sobre a vitória de Joe Biden nas eleições americanas, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, pediu informações neste fim de semana a diferentes áreas do Itamaraty para avaliar os impactos de uma administração do democrata na política externa brasileira.

Segundo relatos feitos à Folha, diplomatas passaram a ser instruídos neste domingo (8) a enviar relatórios ao 
gabinete de Ernesto detalhando como um governo Biden influenciaria seus respectivos campos de trabalho.

Diferentes áreas foram instadas a fazer essas projeções, considerando que Biden tomará posse no dia 20 de janeiro do próximo ano.

O Itamaraty é dividido em estruturas que abarcam as diversas regiões do globo. Há ainda secretarias responsáveis por organismos multilaterais e por negociações comerciais.

No funcionamento do Ministério das Relações Exteriores, as áreas técnicas produzem relatórios que municiam o ministro e seus principais auxiliares na tomada de decisões importantes.

É normal que diplomatas preparem esses informes após eleições em países estratégicos. Mas as atuais eleições americanas ganharam fortes contornos políticos para o governo Bolsonaro.

Diplomatas ouvidos pela Folha sob condição de anonimato consideraram a requisição de informações tardia mais um sinal de que a gestão de Ernesto evitou traçar cenários que considerassem a possibilidade de Biden ser eleito —o democrata passou a maior parte da campanha como o favorito nas pesquisas de opinião.

O presidente Bolsonaro é admirador de Donald Trump —que foi derrotado em 3 de novembro— e disse em diversas ocasiões que torcia pelo republicano.

A identificação de Bolsonaro com Trump é considerada exagerada por diplomatas e especialistas, 
que alertam para dificuldades no relacionamento entre os dois países agora que Biden venceu o pleito.

Biden foi projetado vencedor no sábado (7) pelas imprensa americana, 
mas o republicano ainda não reconheceu o resultado. Sem provas, ele alega que as eleições foram fraudadas e tenta judicializar o processo.

O cenário é delicado para Bolsonaro, que ao contrário de outros líderes, ainda não parabenizou o democrata pela vitória. O silêncio do líder brasileiro tem sido interpretado como um sinal de que ele ainda não pretende abandonar o trumpismo, o que frustra militares e assessores que torcem por uma política externa menos ideologizada e mais pragmática.

Os chefes de governo dos principais países do mundo já felicitaram Biden, inclusive aliados próximos de Trump. É o caso dos primeiros-ministros do Reino Unido, Boris Johnson, e de Israel, Binyamin Netanyahu.

Internamente, a justificativa para o silêncio de Bolsonaro é que ele pretende esperar até o discurso de Trump reconhecendo a derrota —o que não ocorreu até o momento— ou a oficialização do resultado.

O problema é que os Estados Unidos não têm uma autoridade eleitoral nacional, e a proclamação oficial do vencedor demora semanas.

No sábado (7), Bolsonaro fez uma live em seu perfil no Facebook, na qual comentou a crise de energia no Amapá e fez propaganda para candidatos que apoia nas eleições municipais. Ele 
ignorou a vitória de 
Biden, projetada no começo da tarde pela imprensa americana, horas antes de fazer a transmissão na plataforma.

“Vocês estão vendo as questões no mundo, como está a política no mundo. Cada um tem a sua opinião, vocês têm que discutir, tem que ver que na América 
do Sul vários países estão sendo pintados mais 
uma vez de vermelho”, limitou-se a dizer o presidente.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.