Descrição de chapéu Eleições EUA 2020

No palco do discurso da vitória, apoiadores de Biden dançam, cantam e buzinam

Estacionamento em Wilmington virou ponto de concentração para democratas

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Wilmington (Delaware)

Ninguém tinha certeza, mas a decisão era ficar ali. Como se as horas de ansiedade e indefinição pudessem passar mais rapidamente se as pessoas estivessem juntas, entre os carros ou mesmo sentadas no meio fio, na expectativa de um resultado que se arrastou por quatro longos dias.

Neste sábado (7), enfim puderam comemorar: Joe Biden foi declarado eleito presidente dos EUA.

Entre bandeiras e cartazes com o nome do democrata, centenas de americanos sorriam por debaixo das máscaras, dançavam, cantavam —e buzinavam!— no estacionamento do Chase Center, o centro de convenções em Wilmington, onde Biden discursaria no início da noite.

Apoiadores de Joe Biden comemoram do lado de fora do Chase Center, em Wilmington, no estado de Delaware, onde o demorata discursará pela primeira vez como presidente eleito
Apoiadores de Joe Biden comemoram do lado de fora do Chase Center, em Wilmington, no estado de Delaware, onde o demorata discursará pela primeira vez como presidente eleito - Jim Watson/AFP

As lágrimas e gritos que combinavam alívio e felicidade deixavam para o dia seguinte a preocupação com problemas que não vão desaparecer com a troca de comando na Casa Branca. Mas, naquele momento, todos concordavam, as dificuldades ficariam para domingo (8).

"Hoje é só celebração. Temos que comemorar nossa vitória, e amanhã a gente pode pensar como progredir e curar o país", disse Kana Morgan. "Estamos tão felizes. Trump estragou muita coisa. Esperamos que Biden as arrume e nos coloque de novo no caminho certo."

Kana, 15, resumia o sentimento que se espalhava entre grupos de jovens, velhos, negros e brancos e era uma das mais entusiasmadas quando passavam os carros buzinando em demonstração de apoio.

Em razão da pandemia, os eventos de Biden durante a campanha tiveram o acesso ao público e aos jornalistas bastante restrito, e os comícios de multidões foram trocados por discursos drive-in, com os carros em frente ao palco, tocando buzinas que faziam as vezes de aplausos.

Sophie Poindexter sabia que havia gente se reunindo no estacionamento do centro de convenções desde quinta, quando a vitória de Biden começou a se desenhar, mas se emocionou quando viu a festa ao vivo.

Ao lado do irmão, Remy, falou também sobre a divisão do país, que tanto atinge sua comunidade negra, alvo da retórica divisionista e racista de Trump. "A gente tem estado tão dividido nos últimos quatro anos e é muito importante a gente se unir de novo. Então hoje é sobre compartilhar a alegria, a energia boa."

Remy concorda com a irmã e diz que não está preocupado com a recusa de Trump em aceitar o resultado. Caso aconteça, "a lei diz que o Serviço Secreto pode literalmente tirá-lo de lá [Casa Branca]".

A poucos metros de Remy e Sophie, um homem negro que fazia a segurança do centro de convenções, juntava-se ao coro: "Nós conseguimos."

Biden virou o jogo em estados simbólicos e decisivos, como Pensilvânia e Geórgia, principalmente por causa de votos por correio em cidades grandes, mais diversas e progressistas.Trump, por sua vez, diz que a eleição não acabou e, sem apresentar provas, afirma que cédulas enviadas por correspondência —prática comum nos EUA— podem gerar fraude. O presidente já entrou com ações judiciais para contestar o resultado em diversos estados, mas não tem obtido sucesso na maior parte deles.

A estudante Emily Tulsky acha triste ver pessoas defendendo a tese do republicano.

"É como se Trump estivesse lutando para que os números mudem por causa do seu ego. Acho triste como tantas pessoas estão defendendo isso, revoltando-se contra números, estatísticas, e pedindo que parem a apuração. Todos os votos precisam ser contados."

Eleonora Thomas, 41, não vê problemas nas ações judiciais que, na sua avaliação, serão enterradas no fim do processo. "Deixem o povo falar, é assim que a democracia funciona."

Biden marcou hora e local para seu discurso deste sábado. Falará pela primeira vez como presidente eleito às 20h (22h de Brasília) em Wilmington, cidade em Delaware onde vive desde 1953.

Entre guindates que erguiam duas bandeiras gigantes dos EUA, subirá num palco montado a alguns metros do estacionamento que recebe seus apoiadores há dias, mas poucos poderiam entrar para vê-lo de perto. O jeito será ouvi-lo no que virou o ponto de concentração democrata da cidade, embalados no mantra que emanava entre os carros na placa carregada pela jovem Kana: "Você está demitido, Trump".

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