Exército brasileiro vê mesmos projetos de defesa com os EUA em eventual vitória de Biden

Para generais, visão sobre Venezuela não mudará, e parcerias militares continuarão ocorrendo

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Brasília

Integrantes do Alto Comando do Exército veem como positiva uma eventual vitória do democrata Joe Biden na disputa pela Presidência nos EUA, na medida em que uma mudança do eixo de poder americano pode provocar diminuição de conflitos no governo Jair Bolsonaro.

A cúpula do Exército também enxerga pouca ou nenhuma mudança nos assuntos internos de defesa; na relação com a Venezuela do ditador Nicolás Maduro e na visão sobre o fracasso do regime; e nas parcerias com os militares americanos já previstas para 2021, caso se confirme o favoritismo de Biden.

O democrata segue à frente do presidente Donald Trump na contagem dos votos.

O candidato à Presidência dos Estados Unidos, Joe Biden, durante discurso em Delaware
O candidato à Presidência dos Estados Unidos, Joe Biden, durante discurso em Delaware - Drew Angerer - 4.nov.20/Getty Images/AFP

Integrantes da cúpula do Exército ouvidos pela Folha, sob a condição de anonimato, dizem que a eventual eleição de Biden pode reduzir os conflitos públicos travados entre auxiliares de Bolsonaro alinhados à ideologia trumpista e ministros militares.

Para além do radicalismo da militância virtual, os principais vetores desse conflito, hoje, são o ministro Ricardo Salles (Meio Ambiente), e o filho 03 do presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).

O parlamentar é presidente da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara e chegou a fazer postagens corroborando acusações infundadas de fraudes na eleição nos EUA.

Já a principal força do trumpismo no governo, depois do próprio presidente, é o ministro Ernesto Araújo (Relações Exteriores). Em 18 de setembro, com Trump em campanha pela reeleição, ele ciceroneou o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, em visita a Roraima, na fronteira com a Venezuela.

As informações trocadas sobre a visita, registradas antes e depois em comunicações dos postos diplomáticos, ficarão em segredo até 2035, por determinação do Itamaraty, como revelou a Folha.

No momento da visita, o Brasil simulava na Amazônia uma operação de guerra sem precedentes, em que "azuis" promoveram a retirada de "vermelhos" na região. Somente em combustível, horas de voo, transporte e munição, o Exército gastou R$ 8,9 milhões. Participaram da ação 3.600 militares.

Para generais que fazem parte do Alto Comando do Exército, uma passagem de poder de Trump para Biden não mudará o cenário em relação à Venezuela. Isso porque, segundo eles, nenhum deles concorda com o regime de Maduro no país.

Os militares brasileiros já precisaram, mais de uma vez, passar mensagens de que não embarcariam em um conflito armado na Venezuela protagonizado pelos EUA de Trump. O alinhamento automático de Bolsonaro e de seu chanceler ao presidente americano sempre alimentou esse temor.

Documentos oficiais que embasam as diretrizes das Forças Armadas passaram a prever cenários de conflitos na região, mas sem especificar países e situações. A revisão da Política Nacional de Defesa e da Estratégia Nacional de Defesa, encaminhada ao Congresso, prevê "tensões e crises" no entorno do Brasil.

A confirmação do favoritismo de Biden também não impactará as parcerias militares entre os Exércitos brasileiro e americano, segundo os generais ouvidos pela reportagem. Eles citam duas operações previstas para 2021, consideradas como parcerias consolidadas.

Uma é a Operação Panamax, organizada pelo Departamento de Defesa dos EUA, com a participação de 18 países. O exercício simula combates que se destinariam a ações reais de segurança no Canal do Panamá.

A outra é a Operação Culminating, que faz parte de um acordo entre os Exércitos brasileiro e americano desde 2015. Militares costumam ir aos EUA para treinamentos.

Já na esfera política, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirma que as tentativas de Trump de questionar o processo eleitoral devem despertar a atenção para o que pode ocorrer no Brasil em 2022.

Bolsonaro se coloca sempre como candidato à reeleição e, a exemplo de Trump, aponta fraudes, sem qualquer prova, no sistema eletrônico de votação. "Em relação a 2022, a gente tem que esperar os próximos seis meses", afirmou Maia, a respeito da intenção do governo de encaminhar reformas, respeitar o teto de gastos —regra que limita o aumento de despesas à inflação do ano anterior— e cortar despesas.

"Nós vamos ter que entender qual vai ser a decisão do governo. Os próximos seis meses do governo Bolsonaro serão decisivos para seu fortalecimento ou para seu enfraquecimento", afirmou.

Somado a isso, o presidente da Câmara defendeu que se acompanhe a situação nos EUA.

"O exemplo que a gente está vendo dos EUA, como é que esses movimentos mais radicais trabalham processos eleitorais e, principalmente, o processo de apuração", disse, em uma videoconferência do Itaú.

"Isso pode ser um espelho para o Brasil. Não quer dizer que vá acontecer, mas pode ser", afirmou.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.